Angel

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"Tá pronta pra hoje?" Jenna me pergunta encostada na soleira da porta, com um pote de uva na mão "Eu já tenho desejo com 4 meses de gravidez ou é só meu psicológico?" "Da onde você arranjou uva?" "Ah, eu pedi pro Jake ir no mercado" "Ainda bem que vocês começaram a morar aqui, eu odeio ir no mercado" "Eu também S. Então, tá pronta?" me jogo para trás na cama "Não, nada. Acho que vou surtar até as 14h"digo olhando pro teto "Você tem um vestido lindo pra  ser usado, um rosto lindo para ser maquiado e um homem gato para te acompanhar, não tem por que ficar nervosa" Jenna diz, se desfazendo da minha preocupação "Obrigada Jey, mas ainda assim, o fato de conhecer toda a família dele é estressante. Mas sabe o que me deixaria mais tranquila?" "O quê?" "Você me maquiar" sinto uma uva em meu peito, olho pra ela, que se desmancha em rir. "Tudo bem, tudo bem. Mas não se acostuma" "Por isso que eu te amo" digo, levantando em beijando sua barriga. 

Depois de algumas horas tentando me acalmar, decido que tenho que começar a me arrumar logo. Tomo um banho demorado, pra me ajudar a relaxar. Penso no lado bom, fazia alguns anos que eu não ia em nenhum casamento, ou qualquer coisa parecida com uma festa de família, onde tenha mais que dois integrantes. Acho que eu sentia um pouco de raiva de Luc ter aquilo e não dar muita importância, mas por outro lado eu me sentia totalmente feliz por poder começar a participar da família. Ouço alguém batendo na porta do banheiro, abro e Lucca entra. "Amor, sem querer ser chato, mas você já tá aí a bastante tempo. Vamos tentar encarar a vida lá fora?" dou risada do jeito que ele fala, mas logo saio do chuveiro. Ele me olha enrolada na toalha e sorri, dou um abraço calmo e reconfortante nele, molho seu peito nu e não me importo. Beijo seus lábios docemente e depois indecentemente, mas que me dão energia e coragem o suficiente para sair do banheiro e começar a maquiagem e colocar o vestido. 

Depois do que se parece milhares de horas, Jenna termina de passar os inúmeros produtos em meu rosto. "Você está simplesmente maravilhosa" ela me olha com admiração, e me sinto honrada em ter alguém como Jey me olhando assim. Me recordo da última vez que ela me maquiou, no jantar com Jake e Philip. Tudo parecia tão perfeito, tão surreal. Acho que era essa sensação, de não ser desse mundo, que me cegou das coisas que realmente aconteciam em frente aos meus olhos. Me olho no espelho, e sem ter nenhum discurso meu ou de ninguém, me sinto bonita. Gosto do que vejo no reflexo, mal parece ser eu. Com o vestido preto realçando o que aparentemente eu tenho de bom no corpo, e que eu nem sabia que existia. Com a maquiagem que ressalta a cor dos meus olhos que por tanto tempo ficou apagada, e o desenho dos meus lábios que Lucca tanto elogia.

Me olho no espelho, mas sinto a presença de alguém no quarto. Olho para trás e a melhor visão de todos os tempos está parada no batente da porta. Eu acho lindo Lucca sem camisa, mas com terno ele consegue ficar melhor ainda. Não me conformo na visão privilegiada que tenho e na sorte que possuo. "Me acompanha?" ele estende o braço, "com toda a certeza do mundo!" sorrio para ele. Que vida!

A casa não é longe do Vista Cay. Logo de entrada inúmeras pessoas com taças de champanhe na mão e rindo. "Não conheço nem um terço dessas pessoas" Luc susurra pra mim. Não largo sua mão por nada, ainda suo, mas parece mais tranquilo ele não conhecer ninguém, assim não estamos tão diferentes. 

"LUCCA!" ouço uma voz feminina exclamando de longe, mas alto. "Sofi" L diz entre os dentes sorrindo. Ela é extremamente alta, do mesmo tamanho que Lucca, me sinto pequena entre os dois. Ela tem os cabelos cacheados pretos e estão presos junto com uma flor, ela é linda. Seu vestido é azul e branco e ela tem a aparência perfeita para uma irmã mais velha. Todos que passam sorriem para ela. Mesmo com uma maquiagem bem feita em seu rosto, é possível perceber a olheira, o salão de festa é enorme e a decoração é impecável. No fundo é possível perceber que não há parede e que começa a praia, a casa é alugada, mas eu moraria facilmente em um lugar como esse. 

"Então essa é a coitada?" Sofia pergunta a Lucca se referindo a mim "Prazer, Serena" estendo a mão e ela me abraça, já percebo que assim como Angela, ela é extremamente materna. "Como você pode querer namorar Lucca? Você é doida?" ela me pergunta em um tom sério, e é impossível não dar risada. Os dois se comportam como dois irmãos pequenos brigando, fico feliz dele ter uma mulher como Sofi ao lado. "E então, cade o pai e a mãe?" "Eles estavam discutindo, então eu coloquei eles de castigo na cozinha, junto com os salgadinhos. Daqui a pouco eu tiro eles de lá" brigando? Eu não sabia que eles tinham esse costuma, até por que, não fariam uma festa de casamento á toa se o relacionamento não fosse bom, penso eu. Deixo pra lá a mania de julgar, quem olhava de longe meus pais achava que tudo era perfeito, inclusive eu.

Lucca fica conversando com Sofi enquanto eu observo o lugar e cada detalhe da decoração, ainda de mão dada com L. Percebo que um grupo de senhoras me observa firmemente, não de um modo agradável. Mas como se elas me julgassem por o que eu sou, ou o que faço lá. Coloco na minha cabeça que não é nada para me importar. 

Sinto uma mão nas minhas costas nuas, uma mão calorosa e já tenho ideia de quem é. Me viro para Angela e lhe dou um abraço. Ela veste um vestido curto branco, mas seu rosto não demonstro nada de felicidade, não consigo ver onde seu marido se encontra. Ela abraça Lucca, que percebe que a mãe está estranha também e Sofi sorri pra ela. "Posso roubar sua namorada filho?" "Rapidinho" ele sorri e me beija antes de sair. 

Ela me leva até um pequeno quarto, onde um vestido branco comprido está estendido na cama. "Eu preciso de ajuda pra me arrumar, Sofi está muito ocupada recebendo os convidados" me pergunto pra quem é a festa, se é de sua filha ou do casal. "Preciso da sua ajuda pra mais uma coisa" ela diz, em praticamente um sussurro e com um tom de medo na voz. "Claro Angel, pode falar" "A Sofia deixou um pouco da maquiagem dela, será que tem como você esconder um machucado?" não entendo muito bem o pedido, mas a entendo, eu vivo me machucando no canto dos móveis. 

Ela estende o braço, não me parece o tipo de machucado que se faz batendo no sofá, ou apenas caindo. Me parece que forma o desenho de dedos, como se ela tivesse lutado com alguém. Não faço nenhum tipo de pergunta, mesmo já imaginando da natureza das manchas roxas em seu corpo, eu cubro cada uma com a base que Sofi tinha na bolsa. Enquanto cuido da minha sogra, uma enxurrada de lágrimas cobrem seu rosto, e sem hesitar ou comentar qualquer coisa, eu refaço sua maquiagem, a ajudo a colocar o vestido comprido e de alça e a abraço. "Obrigada filha" ela me diz antes de sair com um sorriso falso no rosto. 

Tento entender o que acabara de acontecer, a maquiagem de Jenna tem de ser boa, já que o 'filha' de sua frase me toca. Os roxos em seu corpo são de algum acidente, tenho de ter certeza e tentar dispersar a mania de sempre olhar de um modo negativo as situações. É tudo da minha cabeça.


FinalmenteWhere stories live. Discover now