Ainda tento digerir tudo o que eu acabara de ouvir na delegacia, aquilo era o começo do fim e isso me deixa muito animada. Percebo que ficamos muitas horas conversando sobre o futuro do caso e isso me tranquiliza, a alguns meses que me faltava informação. Desde o julgamento fracassado, as informações parecem ter sido estagnadas. Catherine apareceu nos telejornais sempre de luto e com pouca maquiagem, me recuso a ver esse tipo de cena. Apenas quem, no caso apenas eu, presenciou ela admitindo ter matado meus pais, sabe que nada adianta lágrimas e palavras falsas, ela precisará de muito mais para me fazer sentir pena. Mas até disso eu sinto uma estranha falta, é melhor Catherine me ameaçando do que Catherine quieta, mas sigo pensando em todas as boas notícias que Glorí me falara, Serena quieta também não é bom sinal.
Já está escuro e minha barriga reclama da fome, entro em casa e vejo Lucca cercado de grandes livros. Palavras e nomes de que eu nunca tinha visto, com desenhos de doenças, orgãos e tudo o que um médico precisa saber, sinceramente eu não entendo nem meia palavra de toda a página do livro aberto em cima da mesa. "Como foi lá meu amor?" ele pergunta com um tom curioso, mas de quem já está exausto, "você não faz ideia. Onde Kitty está?" "dormindo" olho para o relógio da cozinha e percebo que é mais tarde do que eu poderia ter imaginado, não foram poucas horas lá dentro da delegacia. Jesse se despede de mim e Lucca com um beijo na testa, sobe as escadas e logo desaparece, sua reza diária já está para começar.
"Você e Kitty comeram?" "Ela tentou esquentar o almoço, mas de algum jeito conseguiu queimar tudo, então eu comprei uma pizza pra gente" "Ah, você não existe" faço carinho em seu cabelo preto e pouso meu queixo no topo de sua cabeça, ele ainda parece concentrado em seu trabalho final, mas insiste em querer saber como foi na delegacia. Por algum motivo, prefiro ficar quieta ao seu lado, como se ele recarregasse minhas energias, mas seria injusto não compartilhar as notícias, ainda mais com ele que vem me acompanhando.
Sento na cadeira a sua frente e o encaro "Você não sabe o que Glorí tinha pra falar" "S, me diz que era coisa boa" "Melhor impossível Luc" "então pode contar" "Basicamente, Glorí não veio trabalhar pra mim a toa, ela previu isso. Glorí trabalhava pra Manning, que investigava Catherine e a detetive achou grandes supostas pistas de que a mulher do prefeito e Márc são os possíveis responsáveis pela morte no julgamento" ele passa as mãos pelo cabelo, larga a caneta que ficava em sua mão e se levanta "Serena, isso é simplesmente incrível!" "Eu amo você" digo, ainda sentada na cadeira e observando tamanha felicidade dele, com um caso que mal é dele.
Ele estende a mão e me levanta, segura meu pescoço e com a outra mão minha cintura "linda, amo você" fecho os olhos e sinto seu cheiro, que é de longe reconfortante para cada centímetro do meu corpo. Me arrepio só de olhar diretamente em seus olhos, que ardem e queimam meu rosto de vermelho. Ele se inclina e me em uma sinfonia linda, me beija pesadamente rápido, com urgência.
A metáfora do amor é interessante, deixamos alguém fazer parte do nosso corpo por certo momento, e isso é possível ser analisado em diversas maneiras. No momento, Lucca me beija, e é impossível não pensar na sorte que tenho em ter um cara como ele me desejando, ainda mais eu, que de todas as ironias da vida, me escolheu a da falta de amor próprio. Que sorte tenho eu que mesmo não entendendo como é possível ser desejada, faz com que a vida me dê um presente como ele, que também carrega cicatrizes no lindo corpo e crava batalhas diariamente. Encosto minhas costas na parede e o beijo ainda mais, estou comemorando, estou sendo feliz, amando e sendo amada. "Serena?" "o quê?" "nós somos de nós?" "isso quer dizer que quer que eu seja sua?" "não gosto muito disso, quero que sejamos um do outro" "por que não te conheci antes?" "se a gente tivesse se conhecido antes, talvez não daria tão certo assim, somos dois corações partidos que se encaixaram, isso precisou do passado pra poder construir o presente" "eu amo quando você entende o que quero dizer, quando quero mais do que um simples 'eu te amo', quando espero que construa uma metáfora atrás de tudo" "não é pra isso que procuramos o por do sol nos olhos um do outro?" "é por isso"
"Pode deixar seu material aí, sobe comigo, quero te mostrar meu quarto" "a gente vai voltar pra casa amanhã?" "acho que sim, Black vai continuar mais alguns dias aqui pra ler todas os documentos que Glorí tem, mas ela me dispensou. Tenho um casamento, uma mudança e um trabalho final para focar" "S, o casamento não é seu, nem o trabalho, e nem a mudança. Não se cobre tanto" "preciso estar na cidade L. Mas amanhã eu ainda vou comprar o vestido pro casamento, tá chegando" "o nosso?" "engraçadinho"
Subo as escadas, fazia um bom tempo que eu não entrava no meu antigo quarto, as luzes estão acesas e faço um lembrete mental para lembrar de brigar com Kitty por deixar meu quarto aberto. Mas algo está diferente no quarto.
Uma caixa preta enorme na cama.
"Isso não é meu" digo a Lucca apontando para o embrulho na nossa frente "acho que é sim" ele sorri como uma criança ansiosa "o que você aprontou?" "abre logo" pego o presente e o abro desesperadamente, não me recordo da última vez que alguém me deu alguma coisa sem ser no meu aniversário. É um vestido preto, comprido e maravilhoso. "Meu deus, esse vestido é a coisa mais linda!" "Gostou? Kitty ajudou a escolher" "deve ter custado uma fortuna Lucca" "nada que você não mereça S" "Quer que eu coloque?" "é claro!" e assim visto o vestido.
Com o cabelo bagunçado, sem maquiagem e um vestido escolhido especialmente para mim, eu me sinto mais linda do que qualquer princesa regada de elogios falsos jamais se sentiria, apenas o modo como meu amor me olha, já é suficiente.
YOU ARE READING
Finalmente
Mystery / Thriller"Encaro novamente o ínicio da nova viagem, seguro na mão ao meu lado, aparentemente a minha própria, sorrio para mim mesma, me abraço e tomo cuidado do meu corpo."