Preciso de tempo para me recompor, enquanto espero organizar tudo na cabeça ouço a comemoração dos convidados com a troca de vestido de Angela. Limpo as lágrimas que caíram e saio do quarto. Lucca me espera sorridente do lado de fora e me estende a mão. Cruzo meus dedos nos seus, fortaleço meu porto seguro e sorrio. Olho para o lado e novamente as mesmas mulheres me encaram. Uma delas, a mais nova levanta e caminha em nossa direção. Apenas eu pareço perceber que ela quer jantar eu e Lucca. Aperto a mão do meu namorado de leve e ele vira o rosto em direção a loira, ele embranquece, sua expressão é única, eu nunca havia o visto assim.
"Lucca meu querido!" ela o abraça, "Olá Constance, como vai?" sua postura é ereta e me sinto desconfortável com o modo como a senhora me encara. Ela possui pulseiras demais, colares demais e muita maquiagem, o botox é perceptível e percebo que o preço de seu vestido bordô poderia comprar minha casa. "E quem é essa?" ela faz um movimento com o dedo de cima para baixo se referindo a mim, mas não falando diretamente comigo. "Essa é Serena, minha namorada" é a primeira vez que ouço Lucca me apresentando, me sinto lisonjeada, mas esse sentimento passa com a risada maldosa da senhora "Pode falar sério querido" ela pede enquanto ri, mas nem eu e nem L damos risada "Então é verdade? Você está namorando com... ela? Não foi essa menina que matou o prefeito de Santa Barbara?" ela pergunta com desdém "Não fale assim dela" Lucca aperta minha mão em reflexo de raiva, não consigo dizer nada, ela possui um ar de superioridade que me incomoda. Começo a ficar impaciente, preciso sair de lá. "Sinceramente, você não acha que Julie é melhor do que ela? Loira, magrinha, rica, ela não era linda? Como você pôde fazer isso com ela? Troca-la assim, tão rápido e por alguém como essa menina?" ela é a mãe de Julia? Me desfaço da mão de Lucca, não consigo mais ficar naquele lugar, o local, por maior que seja me traz falta de ar. Eu já tive uma crise de ansiedade antes, mas não na frente das pessoas. Repito pra mim mesma que preciso respirar, que não posso constranger L na frente da família dele e não quero passar vergonha. Passo rápido no meio da festa como um raio, não posso ficar lá por mais nenhum momento. A praia fica mais a frente, e apenas lá eu poderei ficar sozinha. Lucca tenta me alcançar, mas suas tias e todos da festa o param quando percebem que ele corre.
A brisa bate em meu rosto, mas eu não consigo respirar. É como se eu fosse refém em meu próprio corpo, eu grito, imploro para que meus pulmões funcionem, para que façam seu trabalho que muitas vezes ao dia passa imperceptível. Mas a única coisa que consigo fazer nesse exato momento é repetir dezenas de vezes o que eu acabara de ouvir. Constance repete que não sou boa o suficiente para Lucca. É como se minha cabeça funcionasse apenas em 1%, meu desespero aumenta em cada momento.
Minha ansiedade tem 4 etapas, tenho um tipo de crise que paralisa. Mas existem diversas, as que beiram a loucura, que deixam a pessoa querendo se machucar e gritando. As crises que beiram a depressão, que isolam a pessoa do mundo. A minha é sintomática, tenho diversos problemas no corpo durante uma.
No momento sei que passarei por mais uma crise de ansiedade, e espero as 4 etapas.
A primeira é quando percebo que vou ficar mal.
A segunda é quando os sintomas aparecem, falta de ar, boca seca, coração disparado e o uso da minha cabeça, que foca em apenas tentar me sufocar.
A terceira é quando percebo que não voltarei a ficar bem rapidamente, ninguém me ajudou e estou sozinha. O desespero bate, e todos os sintomas quadruplicam de intensidade.
A última é a pior, depende da situação, se estou acompanhada de alguém, a quarta fase é a melhor, quando finalmente respiro e agradeço eternamente o suporte dado pela companhia. Se eu estou sozinha, é um desastre, sinto que posso morrer a qualquer momento e desmaiarei.
Nesse exato momento estou na terceira fase, sinto que meu coração sairá pela boca e o mar calmo, o sol morno e a brisa salgada não ajudam em nada. Meu celular toca, é Jenna. Minhas mãos tremem desesperadamente e não consigo atender.
As lágrimas já não são preocupação, elas são apenas consequência da loucura que é minha cabeça. Me encosto em uma das dezenas de pedras que têm na praia, tento me equilibrar enquanto o celular toca novamente. É Jake agora. Tento firmar minha mão e atender ao telefone, o viva voz fica a apenas centímetros ao lado, mas é difícil até de segurar o aparelho. Minha respiração não melhora, ouço alguém tentando falar comigo, mas não consigo levar o celular até o ouvido, em um ato de descontrole o deixo cair no chão. Com ele parado fica mais fácil e eu consigo colocar em um volume mais alto, no viva voz.
"Serena?" Jake me chama, mas é impossível falar no momento, o único som que sai é da falta de ar. "S, respira. Ouve minha respiração, olha" e escuto o som abafado de Jenna respirando. Tento fazer o mesmo, seguir o som. Ela fica mais ou menos dois minutos sem perguntar qualquer coisa, o motivo do choro ou onde eu estava. Ela sabia que eu precisava ficar bem. Depois que estabilizo ela volta ao normal, ouço Jake reclamando ao fundo do por que ela roubou seu celular e arrisco até a dar risada "S, agora me diz, onde você está? Eu vou aí te buscar" "Desculpa, sua maquiagem já era. Não se preocupe Jey, eu peço uma carona pelo celular, em 2 minutos o carro chega, é rápido e barato. Mais rápido do que se você vier" "Então tá, eu to aqui te esperando" "Ah, ainda bem que você mora comigo"
Peço o carro pelo aplicativo no celular, até então eu nunca tinha precisado, já que eu ando sempre com o meu carro. Um senhor com o mesmo nome que meu pai é o motorista, no caminho que demora poucos minutos, me pergunto o que Lucca faz agora, o por quê Angela tem os machucados e como eu gostaria de ser suficiente e merecedora do amor de Luc.
Me lembro rapidamente de que amanhã é a apresentação final de seu trabalho na faculdade. Um trabalho como o de medicina é importante demais. Só ele sabe como se esforçou para entrar na UCLA logo no primeiro ano do fim do ensino médio e fazer faculdade com tanta gente experiente. Sei que pra ele seu trabalho final é algo único e ele decidiu contar apenas pra mim, por que confia. Nem seus pais ou Sofia sabem, apenas eu, apenas.
Minha cabeça é um turbilhão, eu mal sei se ele vai querer dormir em casa, mas se bem eu conheço ele, provavelmente passará a madrugada terminando de estudar o trabalho para a apresentação.
O motorista para o carro e saio quase que em um pulo. Jenna me espera na porta, a mão na barriga e a outra estendida para mim.
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Finalmente
Mystery / Thriller"Encaro novamente o ínicio da nova viagem, seguro na mão ao meu lado, aparentemente a minha própria, sorrio para mim mesma, me abraço e tomo cuidado do meu corpo."