"Eu não vejo a hora de parar de tomar esse remédio." Ainda zonza eu desabafo com o borrão á minha frente, imaginando que seria Lucca. "Eu sei Anjo, você já está com alta. Só esperarei um tempo para você normalizar." Não é Lucca, é Philip, o Anjo. Ele pousa sua mão quente em minha coxa e sinto falta de seu toque no mesmo instante em que sua pele se faz longe da minha. A risada que Pam deu no meu ouvido no dia do aniversário dos meninos volta na minha cabeça e de repente sinto como se o local tocado por ele tivesse sido atingido por uma bala.
A mesma enfermeira loira que me acompanhou nesses três dias dá um papel na mão de Philip e faz recomendações. "Ela tomará esse remédio, é um analgésico fortíssimo, não pode ser ingerido sem ter comido nada. E colocaremos uma tipoia para que a clavícula continue firme." Ele assente. "Onde está todo mundo." "Eu sou seu mundo Anjo." Meu estômago revira e não consigo imaginar um mundo onde eu iria gostar de ouvir isso, esse não é o cara que conheci. Ignoro e foco na ideia de que daqui uns minutos eu estarei em casa com a minha família. Entro no carro de Philip ainda nauseada, mas bem melhor, ele carrega a bolsa que Lucca preparou pra mim no dia da explosão. Um me trás pra cá, outro me tira, tenho sorte.
A história toda da explosão me deixou fora do ar por três dias. Á caminho de casa tento repassar na mente tudo o que aconteceu no tribunal. Manning morreu. Flashes de seu enterro vem na minha cabeça, eu assisti na televisão do quarto sob efeito do remédio, poderia ter sido um pesadelo. Relembro de Catherine passando mal. Relembro da paz que senti e da força com que cai no chão. As cenas passam na minha cabeça e quando percebo cheguei em casa. O Vista Cay que fiquei longe por 72 horas se faz mais aconchegante do que nunca. Kitty me espera na porta de casa, ela abre os braços e grita "Sereny." Mas Jesse aponta para a tipoia e minha irmã se faz triste, eu beijo sua testa e percebo que nem todos os analgésicos na veia foram tão eficazes quanto a pele de Kitty, o olhar de Jesse, o cheiro do cabelo de Jey e o sorriso de Jake.
Olho para a minha casa, cheia de gente que amo. Algo me falta. Lucca. Jesse percebe que sinto sua falta e aponta para a porta aberta no corredor. "Ali." Eu sorrio e paro na porta. Observo por vários segundos Lucca paralisado no meio do quarto, como um menino que vai ao estádio pela primeira vez. Seu olhar é de admiração e eu fico feliz por fazer parte disso com ele, eu tenho a mesma sensação de ontem no quarto. Eu beijaria esse homem. Bato na porta e ele me olha "Sinta-se em casa." Dou um sorriso e fico feliz por compartilhar esse lar com alguém.
Ele chega perto de mim e meu coração acelera, com certeza é efeito colateral dos remédios em minha corrente sanguínea. "Preciso conversar com você." "Lá vem Lucca. Não não pode dar festa aqui. Traumatizei." Ele ri, "Engraçadinha. Eu. Você. Precisamos comprar cor pra essa casa, vamos pintar a parede da sala de amarelo, e compraremos alguns vasos, porta-retratos. Tudo aqui é cinza menina." Cor, gosto da ideia. "Fechado."
"Mudando de assunto, quero ver Black hoje." "Isso pode esperar. Chamarei ela amanhã." "Ok." "Tem gente aí, não vamos ficar na sala." "Tem Philip ai Lucca, comporte-se." "Você tem que falar isso pra ele, não pra mim." "Vem." Puxo sua camiseta com o braço disponível e saímos rindo, chamando a atenção de quem estava na sala. Philip se despede, me dá um beijo no rosto e sai pela mesma porta que entrou. Ele não olha para Lucca. Prefiro assim.
"Querida, temos que ir." Jesse me olha como se desse a pior notícia do ano, infelizmente isso não é nada perto do que venho enfrentando, mas dói mais do que qualquer uma delas. Kitty encosta em mim e ainda não sinto dor, os remédios são fortes. Jesse me dá a benção "Prometo que não demoramos para voltar." "Prometo S." Kitty me olha e diz com compreensão, "Ouça Serena, quero que converse com Black e dê o parecer sobre o que aconteceu no tribunal, e sobre o futuro dessa história." "Pode deixar tia." "Também queremos S." Jey assente firme. "Eu e Lucca pensamos em chama-la para vir aqui amanhã, venham também, conversamos todos juntos." "Estaremos aqui." Jake diz concordando e olhando para a namorada.
Aceno com cuidado para Kitty e Jesse enquanto elas vão diminuindo de tamanho na rua do Vista Cay, elas fazem meu dia mais tranquilo. "Acho que vamos indo também, precisamos de um banho." "Obrigada Jake, de verdade cara." Lucca abraça Jake e eu recebo um beijo de Jey "Você tem que melhorar mocinha." "Obrigada por ser a melhor amiga, e por estar sempre ao meu lado." "Cala boca Serena, amo você."
Nos despedimos do casal novela e entramos, "Com fome S?" "Por incrível que pareça eu preciso descansar." "Não parece ser nada incrível, eu estou morto também, só preciso deitar." "Vou tomar um banho e tentar dormir. Um sono sem ser a base de medicamentos."
Ainda com dor, me solto da roupa com cheiro de hospital e mergulho na água quente do meu chuveiro. Lavo e me contorço do jeito que dá, minha clavícula dói cada vez mais e não me lembro de qual remédio é indicado á tomar. Me enrolo na toalha e grito o nome de Lucca, a dor volta a ser aguda. Fiquei sem tomar nenhum remédio desde hoje de manhã, e isso já faz muitas horas, já anoiteceu. O analgésico foi perdendo o efeito e agora a dor toma conta do meu corpo, das minhas costas. Não apenas a clavícula que dói, são todos os membros fraturados, e não foram poucos. Observo os roxos no meu corpo enquanto grito o nome de Lucca, minha perna se faz cansada nesse meio tempo, me sinto fraca. Abro a porta e ele invade o banheiro, "Meu Deus." Ele me olha apavorado, e eu sei que é apenas um reflexo da feição de dor que aparento. "Dói muito Lucca." Ele se desespera e não sabe o que fazer. "Vem." Ele me puxa até minha cama, eu usar toalha não me importa agora, mas não deixo de perceber o incômodo dele com esse fato. Ele tira o celular do bolso e disca alguns números, minha coluna e cada parte do meu corpo dói sem parar. Depois de trocar algumas palavras com o que parecia ser a minha enfermeira, ele corre até a sala e grita "Eu já volto Serena."
Pouquíssimo tempo depois ele volta com uma cápsula de remédio na mão e um pão na outra. "Come e depois toma o analgésico. Eu vou matar aquele desgraçado." "Quem?" "Ninguém, pôr do sol." "Ainda dói Lucca." "Vai melhorar, para de ser manhosa." Ele passa a mão na minha coxa, em ação para me tranquilizar. Mas a ponta de seus dedos possui pequenas tropas que causam rebuliços em minha pele em forma de arrepio, isso é uma demonstração de como sou fraca perante ao simples toque dele. Eu gosto disso.
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Finalmente
Misteri / Thriller"Encaro novamente o ínicio da nova viagem, seguro na mão ao meu lado, aparentemente a minha própria, sorrio para mim mesma, me abraço e tomo cuidado do meu corpo."