Entre doze horas

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Meus pés batem no chão desesperadamente enquanto espero qualquer sinal de notícia.

Os jornalistas incansáveis estudam o problema e anotam qualquer mudança do estado. Penso que se não fosse o direito, eu certamente cursaria jornalismo. Profissão de quem luta. 

Meu cérebro foca em todos os detalhes inúteis, tentando assim me tirar da onda de choro que permaneço. 

O avião mal conseguiu sair da Alemanha. Não consigo prestar muita atenção no que dizem, mas sei que a decolagem deu errado, e que há riscos de incêndio na pista do aeroporto de Altenberg. 

Todos os parentes ou relacionados aos passageiros podem ficar em uma sala especial no aeroporto de Los Angeles. Achei que me sentiria mais segura esperar por notícias aqui, mas o aglomerado de curiosos, jornalistas e pessoas desesperadas apenas faz minha ansiedade atacar. E não tenho em quem procurar o por do sol. 

Meu celular toca, diversas vezes. Mas não consigo desliga-lo. 

"Serena!" vejo uma moça correndo em minha direção. "Sofi?" ver Sofia me alivia. "Toda a sua família está lá fora" ela diz enquanto brinca com meus cachos, visivelmente abalada. "Eles não puderam entrar" "Onde vocês estavam?" ela me olha de cima a baixo. "Em um casamento" "Ah, isso explica o por quê tinha dois noivos lá fora" "Matt e Enzo vieram?" pergunto á Sofi esperando que elas o conheça. "Seu pai.." digo tentando ser discreta e ao mesmo tempo me preocupando por Angel. "Ele não seria louco de pisar aqui" ela diz esbaforida, "Por que?" questiono tentando descobrir se ela sabe quem seu pai é. 

"Lucca me ligava para contar o que estava ocorrendo, ele apenas pedia para eu não contar a ninguém o que eu sabia. Ele é meu irmão, nem se eu conseguisse viver longe dele eu conseguiria. Depois que eu descobri, ameacei meu pai de contar tudo, mas a consequência não foi boa e ele acabou indo no seu apartamento. Desculpa S" "Tudo bem, você não imaginaria do que Pablo é capaz" "Depois de enfrentar Lucca meu pai nunca mais apareceu" "Deve ser difícil para você, eu também tive a imagem do meu pai manchada, então eu sei como se sente" conversar com ela me deixa mais tranquila.

Ela é um pedaço de L e eu fico feliz em ter contato com isso. A saudade dele é tão grande que uma simples conversa com sua irmã me faz acalmar. 

Sento novamente e ela se senta ao meu lado, nossos dedos se cruzam e sinto uma conexão forte. Somos duas mulheres apaixonadas pelo mesmo homem. De duas maneiras completamente opostas, mas somos. 

"Se algo acontecer com a minha mãe, eu morro" "Não diga isso Sofi, eu sei como é perder uma mãe e não gosto nem de imaginar perder outra novamente" 

"AS VÍTIMAS COMEÇARAM A SER RETIRADAS" um oficial diz em alto tom o que eu gostaria de ouvir. Vejo a imagem de um avião destroçado em duas partes na pista e dezenas de bombeiros ajudando na remoção das pessoas... e dos corpos. 

O mesmo oficial passa por nós e pergunto "Como saberei se quem eu estou esperando está bem?" "Infelizmente isso demorará, os que não se machucarem passarão por uma vista médica e embarcarão em outro aeroporto para cá" "E os que se machucarem?" "Terão que ficar no hospital de lá" "Qual é a estimativa de tempo para ter mais notícias?" pergunto esperançosa, "Quem você espera, moça?" ele pergunta com um tom de voz de luto, "Meu namorado.." "E minha mãe" Sofi completa. 

"Se der tempo eles contataram vocês, caso contrário verão o namorado e a mãe apenas amanhã, quando eles forem resgatados e embarcarem no avião" faço que sim com cabeça "Eu esperei um ano, posso esperar mais" digo alto, para mim, Sofi e Lucca. 

As horas passam muito depressa, ninguém recebe notícia e isso nos preocupa. Um jornalista senta ao meu lado "As pessoas não sabem como viver sem respostas, não?" "Se a resposta for saber se meu namorado e minha sogra estão bem ou não, estão eu não sei viver sem respostas" "Uau, desculpa. Fique tranquila, a falta de notícia é normal. A Alemanha não sabe lidar com escândalos, não é todo dia que um país como aquele sofre com uma interrupção como essa. É diferente do nosso país, onde desgraça ocorre a todo o momento" "Certo" digo esperando que ele fique quieto.

"Você é Serena Wallen, certo? Do caso Wallen?" o jornalista pergunta "Vocês não descansam nunca? Tipo, vocês tem que cuidar da vida dos outros o tempo todo?" pergunto esbravejando. "Sim" ele diz em um sincero sorriso."Por favor, privacidade" peço em tom de súplica. 

Viro a noite revezando dormir no ombro de Sofi e ela no meu. 12 horas se passam e ainda estou na mesma posição que eu estava quando cheguei. Os veículos de comunicação já dizem que pode ser o resgate mais longo dos últimos tempos. O risco de incêndio foi controlado pela madrugada, mas ainda não temos os nomes dos feridos e mortos. Me sinto cada vez mais impaciente. 

"O AVIÃO ESTÁ PARA POUSAR" o oficial novamente diz em alto tom. Sofi agarra minha mão, "Será que eles estão chegando?" "Eles estão" digo com certeza.

Ligo para Kitty "Pequena?" "S? AINDA BEM" eu não havia pego no celular desde que entrei na sala. "Estão todos aqui na casa do Jake e da Jenna, viramos a noite esperando informações" "Acabaram de anunciar que um avião está chegando aqui. Se Lucca e A não se machucaram, eles estarão nesse avião. Caso contrário eles estarão no hospital de lá, ou ..." digo somando forças inexistentes "Eles estarão, não há com o que se preocupar" e novamente Kitty renova minhas esperanças. Ela consegue ser meu pilar em todos os momentos da minha vida. 

Os minutos passam se arrastando.

Alguns passageiros começam a aparecer na sala de desembarque. 

Muitos jornalistas se acumulam para não perder um segundo do reencontro. 

Espero ansiosamente o meu momento. 

Alguns filhos abraçam as mães.

Algumas esposas abraçam seus maridos. 

Mas não há nenhum sinal de Lucca ou Angela. 


FinalmenteWhere stories live. Discover now