Finalmente

Eu vejo você

"Eu vou matar aquele moleque" "Lucca" digo baixinho, não preciso da raiva dele. Ele me senta na poltrona do meu pai, que ele sabe que me faz bem. Ainda me pergunto o por quê foi Pam que veio o buscar, eles estão juntos? Eles se amam? Se moram juntos e dormem juntos, por que Philip veio me pedir para voltar? Tenho um palpite, talvez ele goste mais de ficar com Pam, mas sabe que o mais correto seria ficar comigo. Deus me livre algum dia deixar de ser feliz por algo que supostamente é o certo. Eu espero que eles sejam felizes, se é possível ser feliz querendo se basear no fracasso dos outros. Não consigo deixar meu rosto seco, as lágrimas inundam cada centímetro da minha bochecha, Lucca anda de um lado para o outro na sala, ele está agitado e eu preciso descansar minha cabeça, sinto que ela vai explodir a qualquer momento. Levanto da poltrona e consigo sentir Lucca me acompanhar, deito na cama e já sei que terei que deixar um espaço para ele. 

Fecho os olhos e pouco tempo depois posso sentir seus dedos quentes sob a minha pele. "S?" "Hum?" "Eu vejo você"  dez junções de palavras nunca criou um rebuliço tão grande em meu peito como Lucca conseguiu agora. Ele me ver é significativo, isso quer dizer que ele sabe como sou, e que ele não liga. Eu não sou a menina ingênua que Philip falou, e mesmo que seja, isso não é "ridículo" como Philip mesmo descreveu. "Existe uma música, que eu não consigo cantar na frente de ninguém, mas vendo você assim agora, a única coisa que consigo pensar, é que preciso cantar ela pra você" "Seria adorável Lucca" ele pousa os dedos nos meus olhos, e os fecha, não me importo, sei como é difícil querer mostrar um lado escondido seu pra alguém que você gosta, eu já passei por isso, e eu gostaria de compreensão.

"Wise men say, only fools rush in.." eu conheço essa música, não posso deixar de conter uma lágrima, sussurro cantando junto "But I can't help, falling in love with you" não sei o que pensar, não posso dizer que gosto de Lucca, mas não posso deixar de dizer que o amo. Não podemos tentar padronizar todos os sentimentos, a vida é pra ser vivida, não classificada. 

A letra de Can't help falling in love do Elvis Presley é basicamente um apelo de um ser em ebulição, um ser que não consegue deixar de se apaixonar. Minha vida toda me encontrei nesse dilema, eu sempre me apaixonei. Eu sou apaixonada pelo cara desconhecido e bonito que trombo na rua, eu amo o modo como Jenna desfila sempre que anda, ou o modo como Jake a faz feliz. Eu não consigo evitar de me apaixonar. I can't help falling in love. Mas ter Lucca cantando isso pra mim, sem que eu tenha falado que é minha música preferida, é como uma flechada no peito, e é daquelas que não dói. 

A tradução dessa canção é como poesia saindo dos lábios avermelhados de Lucca, e até mesmo meu sussurro se transforma em uma bela canção com essa letra. "Shall I stay?Would it be a sin. If I can't help falling in love with you?" Eu deveria ficar?Seria um pecado, se eu não consigo evitar de me apaixonar por você? Lucca pergunta pra mim, como se além da música ele mesmo se perguntasse se deveria continuar aqui. Eu gostaria de responder pra ele.

"Take my hand, take my whole life too.For I can't help falling in love with you" Pegue minha mão, pegue minha vida inteira também. Porque eu não consigo evitar de me apaixonar por você. É como se Elvis soubesse que eu não sei amar pela metade, eu não sei não me doar por inteira. É como se ele virasse e dissesse "Serena, não seja daquelas que dá apenas a mão, seja intensa. Dê a vida." Essa música acalma meu coração. E novamente, como em tantos outros episódios, eu tenho que agradecer a Lucca. 

Obrigada Lucca.

Eu adormeço com ele declamando a música. Algum tempo depois, sinto um carinho no meu cabelo, não das mãos grandes que já tanto me acostumei. Um perfume doce que conheço, ouço algumas vozes vindo da sala. "Sereny, eu não quero crescer" ainda com os olhos fechados, eu abraço a pequena ao meu lado "Não é tão ruim assim" "Mas você tá sempre chorando" "Você é mais forte que eu Kitty, vai saber lidar melhor" "Não S, não" "Tem alguém ai?" "Lucca foi me buscar, tia Jesse me deixou dormir aqui por um tempo" "Aí quando chegamos a mãe dele estava aí na frente, ela trouxe um bolo e fez chá" "Que horas são Kitty?" "10 da noite" "Eu dormi muito" "Um pouquinho" ela dá uma risada doce, e sei que Lucca fez o certo. Levanto da cama e vejo a cena do filho sendo cuidado pela mãe. Angêla cuida tão bem do seu filho, agora eu sei por que ele é tão bom. "Bom dia flor do dia" minha "sogra" diz, "Bom dia Dona Angêla" "Ah Serena, Dona não. Pode ser só Angêla" "Pode deixar" A mesa do jantar está cheia de pães e estranho o horário, checo novamente no meu celular "Não estranha não, a gente é assim na família, somos da noite" "Ah não fica tranquila" Sentamos nós quatro na mesa, e percebo que não há tempo na minha vida separada para a tristeza.