2ª semana

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Estamos na segunda semana, falta pouco para o julgamento e a viagem de Lucca. As coisas em casa estão cada vez mais agitadas, todos sabem o que está por vir, mas ninguém tem coragem de dizer o quê. "Seu colo fica cada vez melhor com essa barriga gigante" digo enquanto pouso minha cabeça no que resta de colo de Jenna. Depois de um dia intenso de trabalho, preciso de carinho e é exatamente isso que minha melhor amiga me doa. Ouço um barulho alto vindo da sala, o apartamento é grande mas a distância do quarto de J, onde estamos agora, é perto o suficiente para ouvirmos alguma exaltação na sala. 

Olho pra cima tentando encontrar os olhos brilhantes da nova mamãe, ela também se parece curiosa. "A voz parece ser de Ângela" ela diz quase que em um sussurro, faço que sim com a cabeça tentando entender o que as palavras indistinguíveis podem formar em uma frase. "Acha que devemos ir até lá?" faço um movimento em negação "Pode não ser nada, mas pode ser muita coisa.." digo isso enquanto Jenna faz sinal de entender, se é Angel e se ela está gritando, pode ser um caos vindo em nossa direção, "... vamos dar um espaço, Lucca está lá com ela" mal termino a frase e é possível escutar a voz firme de L, logo em seguido um som estrondoso do que se parece um soco na parede. Levanto rapidamente da cama "Acho que o espaço acabou" Jenna diz se pondo de pé também. 

Ponho o pé na sala e me olhar encontra o de Lucca, se eu tentasse procurar qualquer resquício de pôr do sol, seria impossível. Sua pele que normalmente é branca como algodão agora apresenta tons variados de vermelho, a camisa azul marinho sobe e desce de acordo com sua respiração acelerada. Fico á sua frente, delicadamente faço círculos em sua testa com a ponta dos dedos, do mesmo modo que fazia quando dormíamos juntos. Ele fecha os olhos e entrelaça a mão na minha, os nós de nossos dedos são grandes pela constante mania de estralarmos, a ansiedade toma conta de nós. Ele abre os olhos e me encaram por alguns longos segundos, a nossa volta já está bem mais quieta e não há sinal de confusão. Eu poderia jurar que vi um peso saindo de suas costas. Seu queixo baixa até meu ombro e se aninha como se precisasse daquilo para sobreviver, talvez não seja muito diferente disso. Fecho meus olhos e consigo ouvir Jenna consolando Angêla. Fico feliz de Jake estar com Jesse e Kitty as ajudando na mudança, caso eu não estivesse aqui, perderia a chance de consolar Lucca. 

Não demora muito para a porta abrir e eles entrarem, minha irmã e minha tia se parecem exaustas, assim como J. Eles param terrificados encarando a situação ainda desconhecida. Angel não falara nada desde que eu e Jen chegamos na sala. Me junto com L, que está sentado no canto. "O que aconteceu?" sussurro enquanto me ajeito sentando no chão entre suas pernas, "Pablo ligou" seu pai, ele não chama mais Pablo de pai, fico preocupada "Dizendo o quê?" "Dizendo que vinha aqui..." meus olhos quase saltam, começo a ficar desesperada. "E então?" "Ele provavelmente está a caminho" Luc diz calmamente, como se enfrentar seu pai já não fosse grande coisa. "Mas por que ele está bravo?" "Não precisa de motivo S. Ele já foi pra cima da minha mãe apenas por que ela estava usando um vestido com uma cor muito "chamativa"" ele faz as aspas com a mão e com uma expressão de repulsa, eu me pergunto quantas histórias amargas ele não deve ter para contar. 

Não é preciso mais que dois toques ferozes na porta para que Lucca estivesse de pé e com os punhos fechados, coloco minha mão em seu braço como forma de acalma-lo e o impedir de fazer qualquer coisa que o fará se arrepender. 

"Onde ela está?" pergunta Pablo aos berros enquanto entra no meu apartamento como um touro que procura o próximo toureiro que terá um final fatal. Encaro minhas mãos, elas tremem. Encaro minha sogra, ela treme. O tempo parece ser contado com lágrimas, e tudo ocorre rápido demais. Em questão de segundos vejo Angêla agarrada no corpo de Jenna, enquanto minha melhor amiga petrificada clama por socorro para Jake. 

Lucca sai do meu lado sem eu ao menos perceber, e peita seu pai que não se parece temer. Jake puxa Jen para seu lado e protege seu filho com as morenas mãos enormes, a cena dos dois poderia ser linda se não notassem as expressões de terror. 

"Angêla!" eu grito enquanto a solto das grosseiras mãos de seu marido em volta de seu braço, "Vem" digo calmamente puxando Jen e ela para meu quarto, "Vocês duas poderiam ficar aqui" praticamento as tranco dentro do recinto, ouço as reclamações de Angel, mas minha amiga tenta acalma-la enquanto espera Lucca e Pablo se resolverem. 

Volto para a sala, meu futuro ex-sogro já está na metade do caminho, e ouço algumas palavras de ódio para L enquanto ele mesmo corta o pai com mais palavras de ódio. Em segundos Pablo se esquiva do braço de seu filho e praticamente corre desesperadamente atrás do que se parece seu objeto, sua mulher. 

Não há muito tempo para ficar nervosa com o modo de como eles se cruzam no meio da sala. Não há tempo por que em rápidos movimentos Lucca está em cima de  Pablo, fazendo o que viu a vida toda o pai fazendo em sua mãe. Ele o surra. 

Jake não deixa isso se prolongar, por mais que eu tenha certeza de que ele esperou um tempo proposital para ver o que Lucca seria capaz de fazer, mas logo depois de apreciar o que se achava uma boa vingança ele decide intervir. 

Não apenas Jake.

Angêla aparece na sala, como se fosse superior a todo o ódio disseminado naqueles pequenos metros quadrados. "Lucca, não" como se reprendesse seu filho por ter jogado seu brinquedo favorito no chão. "Pablo, a polícia está vindo. E dessa vez é pra valer, se eu fosse você eu correria. Caso contrário fique e aproveite a bela vista vinda do som que as sirenes fazem" ela termina sorrindo, como se fosse fácil fazer o que acabara de fazer. 

E ele sai. 

Seu nariz escorre sangue. 

Sua sobrancelha cortada.

Seu sorriso maldoso pintado com vermelho de sangue. 

"Como pode ter sido tão fácil?" eu pergunto, mas gostaria de ter ficado quieta. Não foi fácil, demorou anos para que ela se levantasse e dissesse essas palavras. Demorou um casamento inteiro para ele sair e nunca mais voltar. 

"S. Se ele fosse corajoso nunca teria que ter sido desumano comigo. Seu sentimento de superioridade por mim é menor do que o medo de ir para a cadeia" faço que sim com a cabeça. 

Ela precisa sair logo daqui. 

Essa semana não terá momento com Lucca. Acho que nem eu, muito menos ele aguentaria. Eu respeito. 


FinalmenteWhere stories live. Discover now