Capítulo 10 ou "Últimos socorros"

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- Nick? NICK! - berrei ao perceber de verdade porque Nicholas estava com dificuldades em se movimentar. Eu nem cogitei a possibilidade de que ele tivesse sofrido um acidente, pois o inchaço logo abaixo de um de seus olhos deixava bem claro do que se tratava aquilo: ele levara uma surra. Suas calças estavam cobertas de sangue, de deviam ser oriundos de feridas que provavelmente haviam sido causados por chutes, e seu rosto estava inchado por conta de um enorme olho roxo. Ele se arrastava até a beira das nossas varandas, e eu estendi os braços para frente para que ele parasse de tentar caminhar. Ele obedeceu.

Passei uma das pernas pela grade que dividia a minha varanda com a dos Jordan e rapidamente escorei Nicholas no meu ombro, e senti que ele poderia desabar a qualquer instante. Firmei os joelhos e sustentei o preso dele, passando o braço direito dele pelo meu pescoço. Ele protestou de dor com um grito esganiçado, e eu exigi que ele ficasse em silêncio. Todos aqueles anos namorando às escondidas madrugada afora de uma varanda para a outra, eu já sabia que o sono de Olavo Jordan era muito sensível.

- Zaca, – ordenei em voz baixa – na segunda gaveta da minha cômoda tem um kit de pequenos socorros. Pega lá para mim, depois vai até o meu banheiro e pega uma toalha e alguma água quente do chuveiro. Agora. - Zacarias ainda estava atordoado demais para obedecer, e eu fechei a cara para ele. Aquela não era a hora para ser um nerd impressionável.

- Isso é tipo, cotidiano pra você? - Zaca perguntou a mim enquanto trazia as coisas que eu pedi e as depositava onde eu pudesse pegar, mas Nicholas abriu a boca para responder. Ele não entenderia, afinal, não fazia ideia do episódio entre Lucas e Natan no dia do Baile na Leonardo da Vinci, no qual o gêmeo meteu um soco na cara de Lucas por... bem, por não se conformar em "perder" algo para ele.

- Você acha que eu ainda teria um nariz se fosse? - disse Nicholas, contorcendo-se no que eu acreditava ser um sorriso para a própria piada. Nem eu, nem Zaca tínhamos condições de rir.

Arrastei Nicholas para dentro do seu quarto, e Zaca nos seguiu. Mergulhei a toalha na água quente e pus-me a limpar os ferimentos, e alguns deles pareciam estar doloridos acima da conta. Zaca passava uma pomada cicatrizante nos ferimentos que eu já tinha limpado, e depois, carregou-o no colo até a cama, onde fizemos curativos.

- Você tem que me ajudar, - pediu ele, ofegante e sem forças – a inventar uma desculpa.

- Uma desculpa? – falei em voz baixa, ainda que sem prejuízo da indignação enfática – Para você ter levado uma surra?

- Meus pais não podem saber.

Eu compreendi o que ele quis dizer. Olavo e Giordana eram pais superprotetores, e quaisquer que fossem os problemas que levaram Nicholas a apanhar, só piorariam caso os Jordan se envolvessem. Olhei para Zaca, afinal, apesar de eu ser a mentirosa de marca maior, ele era mais inteligente que eu.

- V-você tem uma bicicleta? - perguntou, olhando nervosamente para os lados; Zaca não gostava de mentiras, mas não tinha intimidade com Nicholas para aconselhá-lo a fazer diferente; sobre a bicicleta, eu entendi de imediato. Nick assentiu com a cabeça. Zaca dirigiu-se a mim: - Onde seu pai guarda as ferramentas?

- Na área de serviço.

- Deixa comigo. - Zaca saiu pela porta da varanda de Nicholas, e um baque surdo indicava que ele havia saltado para a minha e já adentrara o meu quarto novamente. Torci para que ele fosse esperto o suficiente para não destruir a bicicleta de Nicholas no meu quintal, já que o barulho provavelmente acordaria o meu pai e eu teria que explicar uma situação bastante inexplicável.

- Um acidente de bicicleta é uma boa desculpa se sua perna estiver quebrada. - expliquei – E o olho roxo pode ser por causa do guidão.

- Wow. – emitiu ele, impressionado – Você é boa nisso.

Quem Brinca Com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora