Capítulo 13 ou "Humilhação pública"

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Na hora do intervalo, Dolores tinha que se encontrar com a professora de Francês para debater algo sobre um grupo de estudos do qual eu fazia questão de não fazer parte. Minha comunicação já era falha o suficiente em língua pátria, e eu não pretendia aumentar as minhas chances de ser mal interpretada em outros idiomas.

A consequência direta disso, basicamente, é que eu passaria o intervalo sozinha. Em geral ficar só não era algo que me incomodava, mas isso era antes de Nicholas apanhar de Carlinhos e sua gangue. Por alguma razão, eu me sentia insegura. Sentia que algo de ruim poderia me acontecer a qualquer momento. Se Nick, também conhecido como melhor pessoa do universo, levara uma surra de uns valentões, você pode imaginar o que fariam com Valéria Corrêa, também conhecida como incendiária de escolas.

Sentei-me em um dos bancos do pátio, colocando fones de ouvido para evitar que alguém se sentisse no direito de me insultar. Ao final da primeira música, um João Jordan já se sentara ao meu lado e puxara o fio do fone que estava no meu ouvido direito para anunciar sua presença. Para a minha surpresa, Nicholas estava com ele. Se não outra coisa, nossa conversinha no início das aulas surtira algum efeito, e ele decidira falar comigo em público pela primeira vez desde... bem, tudo.

- Oh, você fala comigo agora. – resmunguei, retirando o fone do ouvido esquerdo para dar aos Jordan minha atenção integralmente.

- Você meio que não me deu escolha. – ele sorria.

Tive que forçar os músculos do meu rosto para não retribuir o sorriso diante da perspectiva de que algo estava mudando entre nós. Para quem não conseguia trocar cinco frases comigo sem bater a porta na minha cara, Nicholas vir até mim no intervalo era o maior sinal de que ele acreditava mesmo na minha inocência que eu recebera até então.

Ah, claro, e de que nossa relação não estava arruinada pela eternidade.

- Não é por isso que eu falei aquelas coisas. – tentei justificar, o que era só meio verdade. O fato de ele não falar comigo na escola estava longe de ser o que me preocupava (embora fosse, no mínimo, um incômodo), mas sim o fato de que Carlinhos estava por aí e ninguém sabia o que ele tinha feito com Nick. Isso aumentava as chances de que algo acontecesse de novo, e eu tinha motivos para achar que aconteceria, afinal, Carlos Henrique não parecia estar a fim de descansar enquanto não fizesse da minha vida um inferno. – Eu estou preocupada com você. – eu dei um sorriso amarelo, esperando que Nicholas não interpretasse minha expressão como tinha o hábito terrível de fazer.

- Contanto que eu fique longe de bicicletas, elas não voltarão a me incomodar de novo. – garantiu em voz baixa, e eu só compreendi quando me lembrei que João também estava ouvindo.

- Não é como se você tivesse a opção, mano. – falou João – Sua bicicleta virou uma lata amassada. Eu já levei naquele cara que conserta e ele disse que vai demorar muito tempo pra reparar o estrago.

Sorri para mim mesma, orgulhosa de Zaca por sua competência em destruir bicicletas em segredo na calada da noite.

Em seguida, me lembrei que não deveria sorrir perto de João, pois supostamente ainda estaria fula da vida pelo que ele me dissera na última vez que conversamos (que eu incendiei a escola e dei o fora da cidade, ou algo do gênero). E por ter quebrado o coração da minha melhor amiga. Mais uma vez.

- Ainda está brava comigo? – perguntou João como se lesse pensamentos, cortando toda a conversa que ele não era capaz de entender e sentando-se de frente para mim na mesa de pedra do pátio. Eu pensei por uns dez segundos antes de responder, mas não era realmente necessário.

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