Capítulo 24 ou "Tudo faz sentido"

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Eu mal retirara o avental e o enfiara de qualquer jeito dentro da mochila, dando por encerradas as minhas atividades punitivas pelo dia, quando quase tropecei em uma Sarah estatelada no meio da quadra de esportes da Fundação, com uma postura arrogante. De braços cruzados, ela fuzilava os olhos pequenos e escuros na minha direção, não parecendo nem remotamente tão inofensiva quanto ela parecia nos braços de Nick.

Engoli em seco ao pensar nos braços de Nick, e no fato de que Sarah não fazia mais parte das pessoas envolvidas por eles.

Provavelmente era dele que isso se tratava.

– Eu não sei o que é mais surpreendente. – sua voz grossa e bonita ecoou em deboche pelos quatro cantos do ginásio – Nicholas acreditar em você depois de tudo o que você fez, ou você ser inocentada pela Justiça do incêndio que você começou.

– Então provavelmente é uma coisa boa eu não sentir que te devo qualquer explicação. – falei com um meio sorriso por cima do ombro e voltei a minha atenção à parede rebocada à minha frente e aos materiais que eu ainda precisava organizar antes de ir embora.

– Você não me engana por um segundo. – eu podia ouvir os passos dela na minha direção. Foi só assim que deixei as latas de tinta e me virei para encará-la com as sobrancelhas franzidas, sem fazer questão de esconder o quanto a presença dela me incomodava.

– Eu não comecei o incêndio. – ditei calmamente, para que ela pudesse apreciar cada palavra – E você sabe.

– Como é que eu vou saber?

Eu abri a boca para acusá-la de se fazer de sonsa, mas fechei de imediato. Porque a baixinha invocada da Sarah Marchesini estava certa, porque era uma aluna do primeiro ano, e a Fundação Haroldo Santini só disponibilizava a educação para os três anos do Ensino Médio. Fosse qual fosse a escola que Sarah estudava no ano anterior, era impossível que fosse a Fundação. Ela não tinha como saber se eu era responsável ou não.

Por isso, sacudi a cabeça e tratei de recuperar a minha compostura.

– De fato, você não saberia. – acenei em concordância com minhas próprias palavras – É uma pirralha que nem estava na Fundação quando tudo o que aconteceu. Eu nem posso culpá-la, você tem ciúmes de Nicholas e isso é perfeitamente razoável, considerando tudo o que tivemos juntos. – tentei conter o sorrisinho de satisfação que se espalhava pela meu rosto.

Era muito bom jogar na cara dela que Nicholas e eu tivemos uma história, agora que o que eles tiveram era história também.

– E o fato de que ele ainda está apaixonado por você. – Sarah apontou com displicência, piscando lentamente. Eu perdi, mais uma vez, a capacidade de elaborar sentenças com algum sentido.

Eu sabia que Nicholas ainda tinha sentimentos por mim. Não precisava de sua ex namorada de um metro e meio para me dizer isso. O que eu não sabia era como eu me sentia, tendo a penumbra da existência de Lucas me impedindo de pensar a respeito.

É por isso que, mesmo sem me importar com quaisquer que fossem as opiniões de Sarah Marchesini sobre mim, não era exatamente simples tê-la forçando esse tópico em uma conversa comigo.

– Você não sabe disso.

– Sei sim. – ela me garantiu, os olhos escuros faiscando em minha direção. Como se ela me desafiasse a ter a audácia de não saber do que ela estava falando.

Tomei ar antes que pudesse berrar que nada disso era da conta dela, e que ela não tinha intimidade para me abordar com esse assunto. Em vez disso, eu só me virei e tratei de recolher as tralhas do serviço comunitário que eu reunira, e andar até o depósito onde eu deveria guardá-las. Não era culpa minha que Nicholas e Sarah estavam terminados, e eu não ia permitir que ela me fizesse sentir mal por isso. Só então que percebi que a garota não ia desistir tão fácil: ela tratou de me seguir pela quadra de esportes até o depósito, esbravejando às minhas costas coisas sem sentido.

Quem Brinca Com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora