Capítulo 12 ou "Ciumenta?"

1.7K 257 217
                                    


A pior parte de ter que me despedir de Zaca definitivamente era voltar para a vida real, agora que eu não tinha mais uma desculpa para cabular aulas sem que meu pai descobrisse (ou, se descobrisse, sem que ele ficasse muito bravo comigo). Já que não tinha jeito, eu voltaria para a Fundação.

Sem Zaca.

Sozinha.

Desde que Nicholas livrara a minha cara na audiência cautelar, além de voltar para a escola eu deveria antecipar o trabalho que faria na Fundação Haroldo Santini como medida de segurança a cumprir por cortar os fios dos alarmes de incêndio. A parte boa é que Alan se voluntariara para ser o docente responsável pela minha "reintegração", então, eu ainda tinha alguma esperança de não terminar o dia limpando privadas.

O que não é exatamente um pensamento encorajador para uma manhã nublada como aquela.

Sacudi a cabeça ao passar pelas portarias da Fundação Haroldo Santini e procurei a minha primeira aula. Fiquei feliz por dar de cara com Dolores, embora ela estivesse visivelmente mau humorada – e olha que, pelo menos pelas minhas contas, ser traída pelo namorado não é nem remotamente tão enervante quanto se submeter a limpar privadas de uma escola de Ensino Médio.

Mas humor detestável era típico dela sempre que tinha problemas com João, o Putão, então, eu nunca levava para o lado pessoal.

Eu acreditava que ninguém na escola sabia sobre a traição de João Jordan ainda, mas levar chifres da garota mais ridícula da cidade nem a positividade resistente de Dolores Viana poderia suportar. Me aproximei dela e coloquei a mão em seu ombro em um gesto de apoio, e ela acenou negativamente a cabeça, dispensando quaisquer palavras que eu viesse a dizer.

Ela não queria falar sobre João. Mas eu queria falar sobre Nicholas.

Contei sobre o ocorrido na noite anterior, omitindo a parte da surra que ele levara de Carlinhos. Primeiro, porque quanto mais pessoas acreditassem que ele sofrera um acidente de bicicleta, tanto melhor. Segundo, porque se eu contasse que Nicholas fora tirar satisfações com Carlinhos sobre ele ter contado tudo a Dolores, existia a possibilidade de que ela ficasse irritada com Nicholas – e aí teríamos mais problemas sem necessidade para compor a minha culpa.

Então, eu só falei que ele me procurara depois do acidente de bicicleta para ajudá-lo, o que não chegava a ser uma mentira. Só que essa versão da história parecia muito mais romântica do que realmente havia sido, em especial, porque eu não omiti a parte em que admiti para Nicholas tê-lo visto no hospital antes de ir embora. Contei também que ele pegara na minha mão.

Antes que ela pudesse reagir, suas sobrancelhas indicaram algo às minhas costas, e eu me virei para olhar. Nicholas e Sarah chegavam desconfortavelmente de mãos dadas a escola – porque, com o braço livre, Nicholas se apoiava em uma muleta que o ajudava a arrastar sua perna engessada –, em seu glorioso romance adolescente.

- Oh. – emiti, surpresa; não pelo gesso na perna, isso eu já concluíra que aconteceria quando vi seu estado depois de levar a surra. O que me deixou de queixo caído foi: – Nick e Sarah juntos.

- O que você esperava? – Dolores devolveu, amarga – Eles sempre estão juntos.

Apesar da grosseria, ela estava certa. O que eu esperava? O que mudara da noite passada para o dia de hoje? Nada. Quer dizer, agora Nicholas sabia o motivo pelo qual eu não revelava a identidade do responsável pelo incêndio – que era o fato de que ele estava muito bem vivo –, mas seus sentimentos por mim não se alteraram em nada.

Eu ainda era uma mentirosa, incapaz de dizer a verdade, mesmo que a minha vida dependesse disso. Mesmo que a nossa relação dependesse disso, como eu mesma fizera questão de dizer.

Quem Brinca Com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora