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Não, calma. Você vai dar um jeito.
Tilda tentava acalmá-la.
Celestina estava agarrada a um pote de sorvete, deitada num amontoado de travesseiros em sua cama. Ícaro ressonava, alheio a qualquer problema, no chão à seus pés. Lá fora, o sol ia sumindo por trás do horizonte.
"Esse é o problema! Eu preciso dar um jeito de qualquer maneira!" choramingou Celestina.
E por onde você vai começar?
"Eu não faço ideia!"
Hum...
"Vou enterrar o nome da nossa família no esterco até a geração das minhas bisnetas e mamãe vai passar o resto da vida sem coragem de pisar na rua!"
Hum...
"De todas as Hypatias que já pisaram neste planeta, tinha de ser eu a estragar tudo?"
Hum...
Celestina ergueu a cabeça do travesseiro com um suspiro aborrecido.
"Tilda, se quer me dizer alguma coisa, diga logo" falou, já sem paciência.
Bom, eu estive pensando...
Isso nunca era um bom sinal.
"O que?"
A samambaia assumiu imediatamente um tom de voz mais animado:
Se você não sabe por onde começar e vai ficar aí jogada absorvendo glicose, poderia aproveitar para agendar a visita do técnico da tv a cabo. Pra gente ganhar tempo, sabe?
Celestina, incrédula, afundou o rosto novamente na roupa de cama.
"Não acredito que estou aqui na pior encrenca da minha vida, entre ter sido roubada e sofrer uma crise familiar e você só está preocupada com a porcaria da tv a cabo!"
Mas acreditava sim. Tv a cabo tinha sido uma das grandes invenções da humanidade na concepção de vida de Tilda. Ela não podia assistir às imagens, claro, mas podia ouvir e podia obrigar Celestina a ver os programas por ela, e depois receber as memórias através do contato com suas folhas. No momento, Tilda passava por uma profunda fase de acompanhar seriados.
Experimente ser uma planta num vaso e você vai achar que tv a cabo é uma coisa importante!
De fato, estavam sem metade dos canais desde a semana passada, e Tilda estava beirando a loucura.
O silêncio prolongado em sua mente indicava que Tilda devia estar furibunda com ela. Sua planta tinha uma forte inclinação a se sentir incompreendida.
"Ah, vai ficar calada agora?"
Mais silêncio.
Celestina praguejou antes de agarrar o telefone no criado mudo.
