16 - Sobre um telefonema que durou mais do que deveria

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Na tarde de segunda-feira, o telefone da Zen de Tudo começou a tocar

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Na tarde de segunda-feira, o telefone da Zen de Tudo começou a tocar.

Celestina estava distraída, sentada com os cotovelos apoiados no balcão do caixa, imersa em pensamentos e totalmente alheia ao barulho da campainha.

"Você é surda?" Agnes passou por ela com cara de poucos amigos (que era praticamente a sua expressão diária). Seus compridos cabelos azuis farfalharam e derramaram-se em cascata quando a garota retirou o objeto do gancho. "Zen de Tudo, em que posso ajudá-lo?"

Eita menininha azeda, viu?

Celestina apoiou o queixo no tampo da mesa e massageou a cabeça. Não fazia muita ideia de qual era o próximo passo em sua caçada. Por um lado, ela sabia que pessoas que invadem apartamentos alheio e roubam varinhas milenares não costumam ser gente de bem. Mas ela e Horácio haviam cometido inúmeros crimes ao invadir o museu, e nem por isso eram criminosos. Já aquilo que vira no galpão era um nível muito superior de bandido, ela sabia. Sentira isso nos pelinhos arrepiados de seus braços: aquele pessoal ali não era boa coisa. Então talvez fosse a hora de jogar tudo para o alto e admitir que precisava da ajuda da sua mãe, tias e primas...

"CELESTINA!"

A garota quase caiu para trás em seu banquinho. Virou para o lado com os olhos arregalados, encontrando uma Agnes furibunda estendendo o telefone em sua direção.

"Você é surda mesmo, hein?" disse a garota de cabelo azul. "Anda, é pra você."

"Pra mim?" perguntou Celestina. Diante do olhar de desprezo de Agnes, acrescentou rapidamente: "Quem é?"

A outra funcionária riu, mordiscando o piercing na lateral da boca:

"Um tal de Horácio... é o seu namorado?" ela falou a última frase bem alto, talvez tentando chamar a atenção de Seu Rubem. Mas ele era uma criatura doce demais para se incomodar com ligações de namorados, então Agnes apenas entregou o telefone na mão de Celestina.

"Alô?"

"Oi, sou eu" do outro lado, a voz parecia levemente constrangida. "Estava precisando falar com você."

"Porque não avisou à Tilda?"

Eu não recebi nada.

"Eu tentei, mas hoje de manhã fui olhar o raminho que você me deu e o coitado estava mais murcho e amarelado do que alface em fim de feira."

Celestina riu com a comparação:

"Eles não duram muito mais do que três dias mesmo...Tilda pode ceder outro raminho quando nos encontrarmos de novo."

É isso aí. Me arranquem. 

"É por uma boa causa" disse Celestina.

"O quê?"

"Nada, estava falando com a Tilda."

Sua resposta arrancou olhares de estranheza por parte de Agnes, que marotamente fingia ler uma revista a seu lado enquanto bisbilhotava a conversa.

Mamãe Vai Comer Meu FígadoOnde histórias criam vida. Descubra agora