Na tarde de segunda-feira, o telefone da Zen de Tudo começou a tocar.
Celestina estava distraída, sentada com os cotovelos apoiados no balcão do caixa, imersa em pensamentos e totalmente alheia ao barulho da campainha.
"Você é surda?" Agnes passou por ela com cara de poucos amigos (que era praticamente a sua expressão diária). Seus compridos cabelos azuis farfalharam e derramaram-se em cascata quando a garota retirou o objeto do gancho. "Zen de Tudo, em que posso ajudá-lo?"
Eita menininha azeda, viu?
Celestina apoiou o queixo no tampo da mesa e massageou a cabeça. Não fazia muita ideia de qual era o próximo passo em sua caçada. Por um lado, ela sabia que pessoas que invadem apartamentos alheio e roubam varinhas milenares não costumam ser gente de bem. Mas ela e Horácio haviam cometido inúmeros crimes ao invadir o museu, e nem por isso eram criminosos. Já aquilo que vira no galpão era um nível muito superior de bandido, ela sabia. Sentira isso nos pelinhos arrepiados de seus braços: aquele pessoal ali não era boa coisa. Então talvez fosse a hora de jogar tudo para o alto e admitir que precisava da ajuda da sua mãe, tias e primas...
"CELESTINA!"
A garota quase caiu para trás em seu banquinho. Virou para o lado com os olhos arregalados, encontrando uma Agnes furibunda estendendo o telefone em sua direção.
"Você é surda mesmo, hein?" disse a garota de cabelo azul. "Anda, é pra você."
"Pra mim?" perguntou Celestina. Diante do olhar de desprezo de Agnes, acrescentou rapidamente: "Quem é?"
A outra funcionária riu, mordiscando o piercing na lateral da boca:
"Um tal de Horácio... é o seu namorado?" ela falou a última frase bem alto, talvez tentando chamar a atenção de Seu Rubem. Mas ele era uma criatura doce demais para se incomodar com ligações de namorados, então Agnes apenas entregou o telefone na mão de Celestina.
"Alô?"
"Oi, sou eu" do outro lado, a voz parecia levemente constrangida. "Estava precisando falar com você."
"Porque não avisou à Tilda?"
Eu não recebi nada.
"Eu tentei, mas hoje de manhã fui olhar o raminho que você me deu e o coitado estava mais murcho e amarelado do que alface em fim de feira."
Celestina riu com a comparação:
"Eles não duram muito mais do que três dias mesmo...Tilda pode ceder outro raminho quando nos encontrarmos de novo."
É isso aí. Me arranquem.
"É por uma boa causa" disse Celestina.
"O quê?"
"Nada, estava falando com a Tilda."
Sua resposta arrancou olhares de estranheza por parte de Agnes, que marotamente fingia ler uma revista a seu lado enquanto bisbilhotava a conversa.
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Mamãe Vai Comer Meu Fígado
HumorUma história honesta sobre bruxas, samambaias e técnicos de tv a cabo.