6 - Sobre a importância de tomar chá

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Celestina colocou a água pra ferver na chaleira

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Celestina colocou a água pra ferver na chaleira. Separou os frascos com ramos de valeriana, camomila, melissa e erva-de-são-joão e jogou um pouquinho do conteúdo de cada num coador. Colocou a água fervendo numa xícara e fez a infusão. Falou as preces que sua mãe ensinara, pingando uma gota de própolis logo em seguida na mistura. Podia ser uma bruxa sem varinha, mas ainda era uma bruxa com conhecimentos.

Levou a bebida fumegante para um muito desorientado Horácio deitado em seu sofá.

"Tome, vai se sentir melhor."

Horácio a observava com os olhos esbugalhados. Sua testa estava repleta de gotinhas de suor e ele não conseguia parar de tremer.

"Ande, você sabe que não vou te fazer mal" Celestina insistiu. "Você ficou quase uma hora aqui dentro antes da minha mãe aparecer. Se eu quisesse te matar, já teria feito isso."

O rapaz hesitou por mais alguns segundos antes de pegar a xícara.

Está perdidinho o coitado...

Celestina ajudou-o a virar o recipiente com o chá, já que suas mãos continuavam a tremer loucamente. O líquido desceu queimando e teve efeito quase que imediato. A garota observou a respiração de Horácio pouco a pouco voltar ao normal e o ritmo cardíaco estabilizar, viu a cor voltar a seus lábios e os ombros relaxarem. Sorriu satisfeita: mais uma cortesia milenar da família Hypatia sendo aplicada com competência.

"Melhor?" perguntou com suavidade.

O garoto pigarreou algumas vezes e esfregou os braços.

"Você poderia me explicar o que diabos foi que eu vi?"

Celestina tentou imitar o olhar lânguido da mãe, debruçando-se sobre o sofá. Com a dose certa de sedução, os homens acabavam duvidando da realidade:

"O que você acha que viu, querido?" ela bateu demoradamente os cílios.

Pela careta estranha de Horácio, percebeu que definitivamente devia estar fazendo o olhar errado. Voltou a sentar-se no chão de frente pra ele, envergonhada, e decidiu apenas colocar os cabelos por trás das orelhas e esperar que o garoto resolvesse falar por conta própria.

"Bem" ele disse, finalmente. "Acho que você é uma bruxa, ou algo assim. E a cabeça da sua mãe, acho que ouvi você a chamar de mãe, falava com você. No meio da sala. Voando. Uma cabeça."

"Não era a cabeça dela, era apenas uma projeção. É como falar no Skype...só quem sem o computador."

 "Mas você é uma bruxa?"

"Sim, sou uma bruxa."

"Do tipo de verdade ou do tipo que pendura filtros de sonhos no retrovisor do carro?"

Celestina achou graça na pergunta. 

 "Acho que do tipo de verdade."        

Horácio ainda parecia descrente, mas com certeza estava mais calmo.

Mamãe Vai Comer Meu FígadoOnde histórias criam vida. Descubra agora