Cada vez que Horácio olhava, o pit bull crescia mais um pouco. Estava maior do que um cavalo quando Celestina açulou-o contra os homens que corriam em sua direção.
Ícaro era um cachorro inerentemente bom. Sua índole era pacífica. Então não é que o cão tivesse começado a atacar os guardas, mas ele não foi capaz de resistir ao impulso de brincar com todos eles, atropelando-os e jogando-os para o alto como seus brinquedinhos de morder. Evitava apenas Horácio, Artemisia, Javier e a própria dona, abanando o rabo quando passava próximo a eles.
Em pouco tempo o cão gigantesco havia juntado todos os homens no mesmo local, exaustos, desacordados e pisoteados. Quem tentou fugir foi apanhado por uma mandíbula poderosa e cheia de baba. E, para fechar com chave de ouro, Ícaro ainda sentara por cima de Inocêncio, mostrando satisfeito a língua pegajosa do tamanho de um pneu de carro enquanto o homem calvo se debatia lá embaixo, a cara afundada no pêlo branco e chocolate.
Celestina aproximou-se e acariciou o focinho enorme que lhe batia na altura da testa.
"Muito bem, garoto" ela o elogiava. "Mamãe está orgulhosa!."
Quem diria que essa bolota gorda ia mesmo ser mais útil que um gato?
Artemisia aproximou-se da filha e a abraçou.
"Como uma verdadeira Hypatia" ela disse.
"Como uma verdadeira Hypatia" Celestina repetiu.
*****
Ícaro voltou ao tamanho natural sem que ninguém notasse. Era uma coisa engraçada essa tal de magia. Uma hora ela estava lá, e na outra não estava mais...
Inocêncio e os outros seguranças foram amarrados e amordaçados. Javier havia recolhido o homem desmaiado junto à cerca e também resgatado o motorista do ônibus. Este último fora encontrado ainda com as calças arriadas no meio do matagal. O homem continuava suando frio, mas o antídoto que Artemisia lhe dera parecia começar a fazer efeito. Uma pena que não houvesse muito o que fazer em relação ao cheiro.
"E agora?" perguntou Javier. "Não podemos deixá-los aqui. A Ian Woods caçaria vocês até o Inferno."
"Inocêncio disse que esse era um projeto pessoal dele" observou Horácio. "Não creio que muito mais gente sabia sobre a varinha. Então só precisamos dar um jeito nesses caras aqui,"
"Não estou muito a fim de matar pessoas, sabe..." Javier retrucou, horrorizado.
"Eu não estava falando sobre isso! Só...dar um jeito."
"Mmmhph" Inocêncio tentou falar alguma coisa, mas foi completamente ignorado.
"Bem, sabemos o que fazer" Artemisia arregaçou as mangas do vestido e adiantou-se para os prisioneiros. "Fique quietinho aí" disse a um dos seguranças que tentava levantar. Depois, agachou-se no chão. "Prestem bastante atenção nos meus olhos, ok? Não desviem deles. Celestina, me empreste a sua varinha por um momento."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mamãe Vai Comer Meu Fígado
HumorUma história honesta sobre bruxas, samambaias e técnicos de tv a cabo.