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Enquanto isso, Celestina, do outro lado do salão, respondia à sabatina de suas tias e primas. Estavam ávidas para saber todos os detalhes sobre Horácio, até mesmo os mais íntimos, dos quais Celestina não fazia a menor ideia. O frenesi em torno do rapaz, porém, era justificado. Se o relacionamento fosse para frente e acarretasse no nascimento de uma menina de nariz de porquinho, a família Hypatia teria uma nova herdeira para carregar sua varinha sagrada.
O sistema hierárquico das bruxas é bem diferente do sistema monárquico, embora possa parecer similar à primeira vista para os ouvidos desavisados.
Bruxas não prezam pelas relações de poder, mas sim pela hereditariedade, pela força do sangue. O fluido vermelho e sagrado é a base de grande parte de suas crenças e rituais, algo realmente importante para elas. Assim, os clãs festejam cada nova geração como um símbolo da renovação e reencarnação da família. As Hypatias continuam, mesmo que suas integrantes mais antigas fatalmente fiquem para trás algum dia. Sendo um clã cuja matriarca originária perdera a vida num ato de extrema violência e intolerância, é fácil compreender porque eleger uma herdeira é algo importante. E a varinha das Hypatias encarna todo o simbolismo dessa crença, sendo passada de mãe para filha mais velha há muitos e muitos anos.
Porém, e é aqui que diferem da monarquia, cada bruxa do clã é livre para fazer o que bem entender, desde que preste contas ao restante da família e esteja de acordo com as diretrizes morais da magia. Cabe à líder garantir que o clã viva coeso e em harmonia. Porém, caso não seja capaz de segurar as rédeas, não possa ter filhas ou opte por não ter filhas, a líder é gradualmente substituída por uma bruxa mais jovem, que seja respeitada dentro da comunidade.
Se Celestina produzisse uma herdeira que, as bruxas oravam aos deuses, viesse com cabelos mais escuros e um nariz de porquinho... as Hypatias teriam muito o que comemorar.
Estão deixando o rapaz assustado lá na outra mesa. Acho que teu tio tá contando sobre todos os rapazes que já foram desmemoriados.
Era difícil escutar Tilda em meio ao burburinho das conversas, mas Celestina ergueu-se na ponta dos pés para observar a mesa do canto, divisando o técnico de tv a cabo. Ele tinha gotinhas de suor na testa e parecia sentar-se de um jeito pouco confortável.
Coitado. Ela sabia que Horácio topara manter a farsa para continuar a investigação, mas com certeza não estava sendo fácil para ele. Além disso, Celestina nunca havia trazido ninguém para o coven antes. Ela mesma mal comparecia àquela casa. A mansão estava presente em sua vida apenas como felizes lembranças de infância, uma época em que ela não tinha muitas responsabilidades e podia ficar no jardim brincando com os gansos sinaleiros.
"E então" agora era sua mãe que lhe dava tapinhas nas costas, segurando uma taça de vinho. "Não está tão ruim assim, está?"
"Pro pobre Horácio eu tenho certeza de que está bem ruim sim..."
