O homem dos porta-retratos estava tão assustado quanto as pessoas que arrombaram sua residência. Seus olhos arregalados iam de Artemisia para a varinha em sua mão, depois para Celestina, depois para Horácio e de volta para Artemisia, esta última pálida como um cadáver.
"Arte...Artemisia?" ele balbuciou, confuso.
"Conhece essas pessoas?" o careca com a arma perguntou para o colega.
"Mais ou menos..." disse Javier. "Não estou entendendo muita coisa."
"Mais ou menos?" vociferou Artemisia, recuperada do susto e completamente esquecida de que havia um revólver mirando sua testa. "MAIS OU MENOS?? Eu vou matar você!"
"Epa, epa, opa, minha senhora" o careca interveio. "Ninguém se mexe aqui até eu saber exatamente quem são vocês e o que vieram fazer na casa do meu amigo."
"Como é que você teve coragem??" Artemisia encarou o ex-amante com sangue no olhar. "Como é que você pôde fazer isso comigo? Com a sua própria filha!"
Javier perdeu a cor e caiu sentado no sofá.
"Minha o que??" ele olhava para Celestina como se ela fosse um monstro saído de um livro infantil. A garota tentou dar um sorriso de solidariedade, mas acabou apenas entortando a boca numa careta, o que deixou o pai ainda pior. Obviamente o homem não era burro. Não com todos aqueles diplomas na parede. Qualquer um veria que Celestina era filha de Artemisia, a semelhança dos traços era inegável. Mas aquele cabelo...
"Você... você estava grávida?" ele estreitou os olhos para a bruxa de preto. Ela riu com escárnio.
"Sim, eu estava, seu imbecil" disse. "E você não precisaria nem ficar sabendo se não fosse um grandissíssimo filho da..."
"Roubar?" Javier parecia muito perdido na conversa. Se não estivesse diante de um possível criminoso que também abandonara sua mãe grávida, Celestina poderia até sentir pena dele. "Espere um segundo! Pra começo de conversa, porque você está segurando uma varinha? Vai furar o olho de alguém?"
"Eu vou MATAR você" respondeu Artemisia. Ninguém no recinto foi capaz de duvidar daquelas palavras.
O homem careca não estava mais aguentando. Atravessou a sala com duas passadas largas e, antes que qualquer um pudesse ter uma reação, apontou o cano da arma bem no meio da testa de Celestina.
"Ei, ei, ei!" Horácio ergueu as mãos num gesto de paz. A jovem permaneceu pareceu imóvel, os olhos zarolhos fitando atônitos o metal reluzente da pistola. Artemisia mirou a varinha para o peito do homem.
"Não ouse tocar num fio de cabelo dessa menina."
"Não, bruxa, quem não vai ousar nada aqui é você" a resposta veio num tom ainda mais ameaçador. "Eu não sei como foi que você nos encontrou, mas tanto eu quanto você sabemos que não pode fazer nada com o seu graveto mágico enquanto eu estiver tão próximo da sua criança."
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Mamãe Vai Comer Meu Fígado
HumorUma história honesta sobre bruxas, samambaias e técnicos de tv a cabo.