"Então é aqui?" perguntou Celestina, incapaz de esconder a decepção.
"Parece que sim..." respondeu Horácio.
O furgão encontrava-se parado em frente a um enorme galpão de fábrica. A rua era de terra batida, com tufos de capim aqui e ali. Todas as portas estavam escancaradas e um silêncio sepulcral tomava conta da rua, interrompido apenas pelo ocasional cricrilar de um grilo. Era uma área comercial, não havia lá muita movimentação num domingo à noite.
O galpão era revestido por placas metálicas e telhas retorcidas de alumínio. Seu interior era um enorme vão, com piso de cimento. Não havia nada lá. Nem mercadorias, nem placas, nem nada escrito na fachada. Mas correspondia ao exato endereço que encontraram no museu.
Celestina havia fantasiado uma mansão extravagante. Horácio, um covil de ladrões fortemente vigiado. Ninguém estava preparado para aquele galpão vazio e sem viva alma. Continuavam imóveis, olhando de longe a tediosa edificação.
"Acha que o endereço também era falso?" perguntou Horácio.
"Não sei..." respondeu Celestina. "Ainda que seja falso, precisava ter sido escolhido por algum motivo. Não acho que seja um endereço aleatório."
"Podem ter apenas escolhido um galpão qualquer."
"Meu instinto diz que a resposta está aqui, debaixo do nosso nariz."
Horácio apoiou o rosto no volante do furgão:
"Quer esperar aqui um pouco pra ver se alguma coisa interessante acontece?"
"Não é perigoso?"
O garoto riu:
"É sim. Mas parece que arriscar o pescoço é a agenda da semana, não é?"
Celestina foi obrigada a sorrir de volta. Acomodou-se melhor na poltrona do carro e ficou espiando a rua e os arredores do galpão.
"Então..." começou Horácio. "Você tem uma festa pra ir na terça?"
"Aniversário de uma tia avó" ela revirou os olhos.
"E...é pra eu ir junto?"
"Só se você for ficar à vontade" ela deu de ombros. "Pra ser sincera, vai ser bem chato."
"Eu vou. Acho que não tinha nenhum programa para terça mesmo..." o garoto riu. "Quem marca festas no meio da semana?"
"Minha família. Na verdade, a festa sempre deve ser feita na primeira noite de lua cheia. Que é terça."
"Hum..." Horácio murmurou, tentando não deixar transparecer sua opinião de que aquilo não fazia o menor sentido.
Mas Celestina era boa em ler expressões faciais.
"É só um velho costume" ela explicou. "As Hypatias são apegadas às tradições. Mas não vamos dançar embriagadas em círculos ao redor de fogueiras, se é isso que está imaginando."
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Mamãe Vai Comer Meu Fígado
HumorUma história honesta sobre bruxas, samambaias e técnicos de tv a cabo.