17 - Sobre festas de família

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"Preparado?" Celestina perguntou

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"Preparado?" Celestina perguntou.

Horácio respirou fundo, alisando as dobras da camisa social preta.

"Acho que sim."

Os dois encontravam-se de pé em frente ao portão de uma enorme propriedade rodeada por muros altos de cimento coberto pela hera. Haviam dirigido por um considerável tempo até chegarem ali, num recanto quase rural da cidade. As ruas eram de terra batida, pacatas, e a geografia se dividia em casas simples ou imensos sítios bem decorados e repletos de flores. A mansão acabava por destoar um pouco da arquitetura geral. Não havia uma única nesga de visibilidade que não estivesse coberta por galhos e folhas. Era possível enxergar apenas o telhado, e este era pontudo e escuro, com gárgulas nas laterais.

Porém, o engraçado é que se você não olhasse direito, com os olhos realmente abertos, era quase impossível notar a mansão. Horácio não sabia bem explicar o porquê. Apenas tinha a sensação de que, se Celestina não tivesse apontado especificamente para a construção, jamais a teria percebido. Teria passado direto com o carro.

Horácio inclinou-se na direção do portão de ferro, procurando alguma campainha ou interfone que pudesse apertar. Mas a única coisa que encontrou foi uma pequena e desgastada inscrição no topo do portão.

"Não é por aí" a menina disse, mas o rapaz não prestou atenção

"Covento de Santa Alexandria..." ele leu. Depois, deu uma risadinha pelo nariz. "Que engraçado, escreveram o nome do lugar errado. E eu não sabia que sua tia morava num convento."

Celestina, que estava mais ocupada enfiando as mãos por entre os arbustos do muro, sorriu para ele.

"Não está escrito errado. É apenas uma tradição, tipo uma piada interna. Escondemos o coven disfarçando-o de convento. Há uns séculos atrás, era uma boa forma de enfiar um monte de mulheres desacompanhadas e vestidas de preto dentro da mesma casa sem chamar atenção."

"Hum..." Horácio tentava não parecer impressionado demais. "E Santa Alexandria?"

"Não existe. É uma referência à Hypatia de Alexandria."

Alguma coisa emitiu um clique entre as mãos ocultas pelas folhas de Celestina.

"Ora, finalmente!" ela se afastou.

No lugar onde mexera, a hera e o muro haviam dado lugar a uma passagem estreita, apenas suficiente para uma pessoa por vez. Celestina, que parecia brilhar dentro de um vestido negro como a noite sem lua, espanou as mangas para livrar-se da poeira, ergueu as saias e fez sinal para que o amigo a acompanhasse. Depois, desapareceu pela abertura.

"A gente deveria estar entrando assim mesmo... sem avisar?" Horácio perguntou, testando passar uma perna pela passagem do muro.

"Não se preocupe, logo seremos anunciados. Olhe, aí vem eles!"

Mamãe Vai Comer Meu FígadoOnde histórias criam vida. Descubra agora