9 - Sobre constrangimentos e desculpas esfarrapadas

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"Essa foi a coisa mais incrível que eu já vi alguém fazer!" Celestina, no banco da frente do furgão, girava o crachá entre os dedos

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"Essa foi a coisa mais incrível que eu já vi alguém fazer!" Celestina, no banco da frente do furgão, girava o crachá entre os dedos. "Parecia coisa de filme, eu nem sequer desconfiei dos seus movimentos."

Foi parecido com o George Clooney em Onze Homens e Um Segredo?

"Tilda, ele fez igualzinho ao George Clooney em Onze Homens e Um Segredo!"

Horácio sorriu encabulado, corando levemente:

"É só um truque que eu aprendi na internet. Se você fica distraído o suficiente, seu corpo ignora o sentido do tato. Não percebemos quando alguém puxa nossa carteira, por exemplo... N-Não que eu já tenha roubado uma carteira, claro! Era pra ser um truque com cartas de baralho" acrescentou apressado.

"Ainda acho que foi incrível."

Celestina virou o rosto para apreciar a paisagem em movimento da janela do carro, aproveitando o vento. O sol de quase meio-dia fritava seu rosto, mas ela nem ligava. Estava feliz. Podia até não ter recuperado sua varinha, mas agora sabia onde ela estava, o que já era uma melhora de 100% em relação ao dia anterior. Sentia que, afinal, poderia encontrar uma solução para sua pequena tragédia familiar.

Tá, mas o que a gente faz com um crachá?

A pergunta de Tilda freou a alegria de Celestina com a mesma intensidade com que Horácio freou para não atropelar um pedestre desavisado. Ambos foram empurrados para frente e depois repuxados pelo cinto de segurança, batendo a cabeça contra o assento estofado do veículo.

"Desculpa, ainda tô meio nervoso. Eu não acredito que roubei alguém" o garoto passava os dedos pelos cabelos e respirava fundo. Lá fora, a quase vítima os xingava com palavras cabeludas.

"Mas foi por uma boa causa" respondeu Celestina em tom conciliador. "Se você for se sentir melhor, podemos devolver depois. Assim que a gente terminar de... de..."

Ah, que ótimo, você também não sabe o que a gente faz com um crachá.

Celestina sabia que o crachá poderia ser útil num disfarce, ou para conseguir informações sobre o guia, mas não conseguia visualizar um modo efetivo de resolver seu problema ou esboçar um plano completo.

"De...?" Horácio a incentivou.

"...fazer o que precisa ser feito com esse crachá, algo que eu não sei exatamente o que é mas que possivelmente você sabe. Não sabe?"

O garoto balançou a cabeça de modo afirmativo.

"Nós vamos entrar no museu à noite, depois que eles fecharem."

"Entrar?" a menina fez uma careta descrente e o rapaz coçou a nuca:

"Você já ouviu falar sobre etiquetas RFID?"

Celestina ficou em silêncio. Horácio arriscou uma olhada rápida para ela (o que lhe custou uma buzinada do carro ao lado). Achou graça do semblante completamente vazio da garota.

Mamãe Vai Comer Meu FígadoOnde histórias criam vida. Descubra agora