30 - Sobre a caixa 028

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A 'Equipe Beta', também conhecida como Artemisia e Javier, estava atacando pela lateral oposta do galpão

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A 'Equipe Beta', também conhecida como Artemisia e Javier, estava atacando pela lateral oposta do galpão. Escondidos entre o capim e os destroços de alguma obra abandonada, aguardaram pacientemente pelo acionamento do alarme e pelo apito para cachorro. Ao ouvir o som combinado, aproveitaram da distração dos guardas e do silenciamento dos sensores para invadir o galpão. Encontravam-se agora agachados entre uma pilha de caixotes e a parede.

Javier arriscou uma espiada. De seu esconderijo, era possível divisar dois homens conferindo uma série de caixas, cada uma etiquetada de uma maneira diferente. Descobrir qual caixa continha a varinha dentre aquele monte de itens roubados seria uma tarefa complicada. Um dos homens parecia ser o motorista do caminhão, já que usava uma camisa engomada com o nome da Ian Woods bordado nas costas. O outro era alto, e tinha uma careca bastante conhecida.

"Inocêncio está aqui" cochichou para Artemisia, preocupado "Vai nos reconhecer na hora! Ninguém pode ser visto até termos a varinha em mãos."

"Tudo bem" a bruxa respondeu, embora não aparentasse tanta calma assim. "Vamos continuar nos atendo ao plano."

Inocêncio provavelmente viera até ali como medida de segurança, para garantir o sucesso da venda da varinha. Conhecendo o amigo como conhecia, Javier sabia que Inocêncio era do tipo que resolvia seus problemas pessoalmente. Ouviram quando os três seguranças se aproximaram do careca:

"Chefe" disse um deles, "foi só um cachorro que se enrolou na cerca. Mas já devolvemos pra dona, tudo certo."

"Cachorro?" Inocêncio soou desconfiado.

"É, um pit bull enorme de gordo. A dona era meio pancada."

"Como era essa dona?"

Houve certo embaraço entre os seguranças. Por fim, um deles respondeu:

"Baixinha, loira, cabelos cacheados...bem maluca. Queria que a gente visse ela apitando pro cachorro e tudo."

"Não é possível..." disse o careca, e o coração de Javier gelou. "Vocês três, venham comigo."  

Em seu esconderijo, Javier praguejava e rezava para que a samambaia de Celestina estivesse ouvindo tudo aquilo. Não podia ver o rosto de Inocêncio de sua posição precária, mas sabia que o homem estaria juntando dois mais dois. Inocêncio podia ser mal caráter, mas nunca fora burro.

Os quatro homens afastaram-se em direção à cerca danificada por Ícaro, deixando apenas o motorista para trás.

"É a nossa chance" disse Artemisia, inspecionando o conteúdo de sua diminuta bolsinha de mão.

A mulher pegou um punhado de ervas secas, com talos finos e compridos como agulhas de tricô. Fez um bolinho com as ervas e acendeu uma das pontas com um fósforo da caixinha que trazia no bolso. A erva pegou fogo quase instantaneamente, produzindo uma fumaça fina e praticamente sem cheiro, que subia em espirais como um incenso.

"O que é isso?" quis saber Javier, o lado professoral suplantando a precaução.

"Avelós" ela respondeu. "Também conhecido como dedo-do-diabo. Não respire muito perto."

Em seguida, Artemisia rolou a bolinha fumegante pelo chão até o pé do motorista, com a perícia de um veterano de guerra ao implantar uma granada em terreno inimigo.

"Agora é só começar a contar. Bruxaria é muito sobre saber contar até o número certo, sabe?"

O motorista, absorto em escrever na prancheta, pouco percebeu a insistente fumacinha que subia bem atrás de si.

"...nove, dez, onze..."

"Quanto tempo isso vai levar?" Javier suava frio. "Inocêncio vai voltar a qualquer minuto!"

"Está atrapalhando a minha contagem, querido. Quinze, dezesseis..."

"Artemisia!" ele implorou num sussurro rouco.

"Dezenove...Vinte!"

Artemisia sorriu para ele, triunfante, no exato momento em que o motorista levou a mão à barriga. O homem estava pálido como um cadáver, a testa começando a brilhar. Respirava em arfadas e apertava o baixo ventre sem parar enquanto as pernas tremiam.

"Ninguém causa uma caganeira tão bem quanto a inalação do aveló" comentou Artemisia, feliz da vida.

De fato, o motorista parecia um caso perdido. O homem escorou-se contra uma das caixas, incapaz de raciocinar com clareza.

"Valei-me, meu São Sebastião..." ele gemeu, virando a cabeça para todos os lados em busca de um banheiro, que obviamente não existia naquele velho galpão. A única saída era o matinho amigo do terreno ao lado, e o homem logo chegou à essa mesma conclusão. Saiu gingando, nádegas contraídas e passos estudados, indo o mais rápido possível em busca de seu toalete a céu aberto. A prancheta jazia solitária em cima da carga do caminhão.

"É a nossa deixa" disse Javier, saindo agachado de trás da pilha de caixotes. "Tem certeza de que o cara saiu de circulação, né?"

"Vou repetir mais uma vez" falou Artemisia, impaciente. "Se esse cara conseguir se livrar do aveló em menos de duas horas, ele precisa ser estudado pela Ciência. Fique tranquilo, o rapaz vai ficar no trono por um bom tempo."

O casal aproximou-se da prancheta e Javier percorreu o dedo pela listagem enquanto Artemisia pisoteava o chumaço de aveló até apagá-lo.

"Aqui!" disse o professor, batendo com a unha sobre uma das linhas impressas. "Hypatia. Envio para Amsterdã na caixa....028!"

Começaram a revirar os caixotes de madeira, olhando rótulo após rótulo com rapidez ao mesmo tempo em que tentavam produzir o mínimo de barulho. Havia cerca de trinta caixas ali, todas mais ou menos do mesmo tamanho, lacradas com pregos e uma fita plástica amarela onde se lia 'FRÁGIL'. Algumas ainda estavam pelo chão, mas a maioria já havia sido carregada no conteiner do caminhão. Acabaram tendo que subir no veículo para continuar a busca.

"Droga, droga" Javier revirava os embrulhos, frustrado por estar em um espaço tão confinado. "Cadê a porcaria da 028?"

"Achei!" Artemisia agarrou-se a um dos caixotes no fundo do caminhão. Numa das ripas de madeira, a etiqueta afixada marcava um enorme 028 em letras garrafais. "Tilda, avise que eu estou com a caixa!"

Javier correu para junto dela:

"Precisamos dar um jeito de abrir isso" disse, procurando em volta, sem sucesso, alguma ferramenta semelhante a um pé de cabra. "Você tem alguma coisa que sirva aí nessa sua bolsa?"

Artemisia segurou a alça da pequena bolsinha de couro e estava prestes a falar algo muito inteligente quando duas pancadas surdas na lataria do caminhão quase a fizeram perder o equilíbrio tamanho o susto:

"Sei que está aí, Javier" a voz fria de Inocêncio vinha pelo lado de fora. "Acho que você vai querer ver o que tenho aqui comigo."

"

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Mamãe Vai Comer Meu FígadoOnde histórias criam vida. Descubra agora