Capítulo 7 - Giulliana

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Capítulo 7 – Giulliana

Droga de noite.

Minha mão ainda estava presa na de Bernardo enquanto íamos para fora do bar em direção ao outro lado da rua no qual o SUV branco estava estacionado. Estava meio assustada e irritada com o que havia acabado de ocorrer. Confesso que me senti tão envergonhada pela cena causada pelo Bernardo, quanto pelo outro cara, que queria enfiar a minha cabeça num balde de gelo e fugir dali. Mas ao mesmo tempo me senti tão protegida perto dele, ele todo valente me tocando para verificar se eu estava realmente bem.

Sempre pensei que cenas em que a moçinha está dançando super feliz e um cara estranho chega nela tentando algo mais e no fim acaba apanhando do moçinho, só acontecesse nos romances que tenho na minha estante.

Suspirei.

Do romance da minha vida, não foi bem isso que imaginei.

Atravessamos a rua e ele abriu a porta do carona pra mim, e correu para o lado do motorista. Antes de dar partida, ele se virou e me contemplou com um olhar que parecia ser de fome. Não esse tipo de fome, aquele, que desperta desejo nas pessoas, sabe? Seus olhos estavam grudados no meu, mas ao passar dos segundos, ele percorreu todo o meu corpo, até chegar às minhas pernas, que estavam mais amostras do qualquer outro dia normal. Vi ele engolir seco, se virar e dar partida no carro.

Isso foi intenso. Bastante

O silêncio era tanto dentro do carro, que eu chegava a ouvir a sua respiração pesada. Precisava acabar com isso, pois já estava me sentindo incômoda.

– Obrigada por isso, eu acho. Não queria ter acabado com a sua noite de amigos. – Olhei para ele, verificando suas feições, mesmo que a noite e as luzes não ajudassem muito.

– Não acabou. Eu já estava indo embora quando vi aquele pervertido do caramba atacando você.

– Bom. Eu já estava ficando revoltada com ele.

– O que quer dizer? Porque não o afastou? – Me olhou de relance.

– Eu estava pronta pra chutar as bolas daquele cretino. Mas como pôde ver, eu não sou muito forte. – Dei de ombros e voltei a olhar para frente.

Ele riu.

E sua risada era linda e boa de ouvir, quando reparei, eu o olhava com um sorriso no rosto.

Contagiante.

– Vou ensinar você alguns golpes de defesa pessoal. Afinal, nem sempre vou estar por perto para te salvar. – Deu o pisca para entrar na garagem do nosso prédio.

– Quando quiser, cavaleiro de armadura branca e brilhante. – Ri da situação. Mas no fundo o meu riso era amargo, pois eu queria que ele sempre me salvasse.

Por que raios estou tendo pensamentos românticos com ele? Não, não! Somos e seremos amigos, apenas amigos.

– Não sou um cavaleiro branco Giullie, estou mais para um cavaleiro negro. O cara mau. – Saiu do carro sem nem dar chance para alguma resposta.

Eu queria bater com a cabeça em alguma parede por ter comentado isso. O mundo real não é um conto de fadas.

Ele abriu a porta para mim, segurou a minha mão e em seguida apertou o botão de alarme. Seguimos lado a lado em direção ao elevador, em silêncio. Entramos na caixa de metal, e ele apertou o botão de número oito e o de número dez. E o silêncio não foi rompido em nenhum momento, chegamos ao meu andar e ele segurou as portas para que eu pudesse sair, mas não fez o mesmo.

– Durma bem Giullie. Boa noite.

Me virei e esbocei um sorriso fraco. – Boa noite Bernardo, obrigada pela carona e pela ajuda.

Esperei as portas do elevador se fecharem e fui para o meu solitário apartamento.

Tranquei a porta, e fui direto para o meu quarto, larguei a bolsa, tirei os sapatos e o vestido branco apertado, ficando só de calçinha peguei uma regata de pijama e coloquei. Joguei os pertences que estavam dentro da bolsa em cima da cama, guardei a bolsa, os sapatos e os demais itens em seus respectivos lugares e o vestido levei para lavanderia.

Parei na bancada da cozinha, colocando os pensamentos da vida em dia. Nos acontecimentos dos últimos dois dias. Resolvi que a minha mente cheia de conflitos não ia funcionar muito bem, e eu ia acabar entrando numa depressão temporária.

Meu círculo de amizades é escasso, só vivo para trabalhar e estudar, não tenho um namorado há exatos três anos, os jornalistas acham a minha vida social tão sem graça, que nem me perseguem mais, e agora quando tento me divertir com meu único amigo gato, mas que infelizmente para nós mulheres, é gay, um escândalo acontece.

Amigos de verdade, que posso considerar amizades sem interesse, só tenho um, o Fábio, vulgo gato gay. Todos os amigos que acreditei ter, só tinham interesse no que o meu dinheiro poderia proporcionar para eles. O pessoal da Comunica é divertido e legal, mas nunca tentei me aproximar deles para cultivar uma amizade fora de lá, meu receio é maior, e acredito que eles também não façam questão. Meu último namorado, me traía e só ficava comigo pelo meu dinheiro.

Todos infelizmente, interesseiros.

Posso ser rica, mas sempre que pude trabalhei, e comprei muitas das coisas que tenho com o meu salário suado. Trabalhei em restaurantes e bares, promotora, e até mesmo já distribui panfletos nas sinaleiras da cidade, ser uma pessoa rica, não faz de mim, uma garota mimada que vive disso e para isso. Pelo contrário, quero mostrar pra todos que o dinheiro que tenho, sempre foi suado, tanto que a mesada que eu ganhava de minha avó, era sempre por fazer alguma tarefa em casa. Claro, não vou dizer que nunca usei o dinheiro da minha herança, pois estaria mentindo, mas não uso o dinheiro para me promover, ou comprar amizades e ter espaço nas revistas, televisão e jornais, em colunas de destaque, mas sim o uso para satisfazer o essencial na minha vida.

Sempre acreditei no ditado de que o dinheiro não traz felicidade. Para mim, essa é uma das mais puras verdades.

Espantando esses pensamentos depressivos da minha mente, liguei a televisão na Nickelodeon para assistir ao Bob Esponja, me deitei no sofá e logo em seguida, adormeci.

Acordei mais cedo do que esperava, e percebi que novamente havia dormido no sofá. O fato é que quase nunca durmo na minha cama, detesto dormir sozinha.

Com a energia renovada e determinada a mudar a minha rotina sem graça resolvi que o primeiro passo que deveria tomar seria o de começar algum exercício físico. Fui pro banheiro, tomei um banho rápido, me higienizei e corri para o meu armário procurar um short de corrida e uma blusa levinha. Apesar de nunca mais ter feito alguma atividade física, eu quando mais jovem era uma super atleta, joguei na escola futebol, vôlei e até mesmo apesar de ser baixinha, fui pivô do time de basquete, acreditem, eu era ótima em esportes, depois fui ficando mais velha, e acabei perdendo o interesse e nunca mais voltei a fazer nenhuma atividade desse tipo.

Calcei os tênis, peguei o meu ipod, fechei a porta de casa e resolvi que para começar a sério, eu deveria ir de escada, ao invés de usar o elevador.

– Elevadores são para sedentários, desça as escadas e seja uma não sedentária. – Cantarolava o mantra em cada lance de escada que eu descia.

Ok! Já estou cansada. Tenho mesmo que correr? Poxa, são seis horas da manhã.

Balancei a cabeça de um lado para o outro, como se eu pudesse expulsar aqueles pensamentos da cabeça. Vida nova. Comecei a me aquecer antes de começar a corrida, mas parei ao sentir uma mão em meu ombro.

– Bom dia princesa.

 Essa voz.

Você e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora