Capítulo 8 - Bernardo

12.2K 492 39
                                    

Capítulo 8 – Bernardo

Depois de uma noite com diversos pensamentos esquisitos e me jogar de um lado para o outro da cama, resolvi que não iria adiantar de nada ficar na cama até mais tarde. Iria aproveitar a hora e correr pelo parque antes de ir para o serviço, pulei a corrida ontem, então hoje eu não podia deixar passar. Estou me preparando para o Day Run que vai acontecer daqui um mês, e se quero ficar bem classificado, não posso perder o ritmo.

Bermuda, camisa, tênis, ipod. Check.

Fechei a porta de casa, e comecei a me exercitar nas escadas antes de começar de fato a corrida, após ter aquecido bem os músculos, corri escada abaixo, ao abrir a porta para o hall de entrada e me deparo com a Giulliana se aquecendo. Exito por alguns instantes, mas acabo não resistindo e toco em seu ombro para chamar a sua atenção.

– Bom dia princesa. – Esboço o meu melhor sorriso matinal. – Também vai correr, ou já está voltando?

– Vou. Quer dizer, vou tentar né. – Riu bobamente.

– Posso te fazer companhia? – Perguntei ansioso.

– Se está disposto a me aguentar reclamando de cansaço e dores no corpo, eu adoraria.

– Perfeito então. As damas primeiro. – Indiquei o portão aberto para que ela fosse à frente.

Estava logo atrás dela, quando ela parou de repente se virando rapidamente e dando um encontrão em mim. Deu um pequeno passo pra trás e a segurei com força pela cintura para que ela não caísse com o impacto. Nossos corpos ficaram colados um ao outro, sua pequena mão em meu peito me fez sentir arrepios, olhei para baixo enquanto ela olhava para cima, para o meu rosto, pois eu era uns bons palmos mais alto que ela.

Eu poderia beija-la agora.

Mas não o fiz.

– Cuidado moçinha.

– Oh, desculpe, eu... eu só queria pedir que guardasse minhas chaves e meu ipod no seu bolso. Se não se importar é claro. – Se desvencilhou de mim e eu senti a sua falta imediatamente.

– Sem problemas. – Guardei as suas coisas no bolso da bermuda e girei seu corpo em direção à saída. – Vamos correr.

E assim fomos, corremos lado a lado por uns dois minutos, mas logo paramos porque Giullie já estava sem fôlego, tentamos novamente e logo após estávamos parando novamente. E assim foram durante exatos vinte minutos.

Até que durou bastante.

– Você é realmente sedentária não é? – Perguntei curioso.

– Com certeza eu sou. Mas isso vai mudar, ser sedentária faz mal pra saúde, e se eu quero ter uma velhice agradável, preciso me preocupar desde já. – Me explicava com todo seu conhecimento que vinha adquirindo da área de saúde, como ela mesma me disse.

– Que tal assim, corremos um quilômetro e caminhamos dois, para fechar os cinco quilômetros do dia. Pode ser?

– Boa ideia.

Enquanto caminhávamos esses dois quilômetros jogamos conversa fora, descobri que ela é vegetariana, que ela foi campeã de basquete na escola, que está fazendo um MBA na faculdade, e que dirige um fusca amarelo, que passa de geração em geração.

– Então quer dizer que o seu carro, foi do seu bisavô? – Perguntei surpreso.

– Sim, dá pra acreditar nisso? Depois que o meu bisavó morreu, ele deixou a Lolla para a minha avó, e agora ela é minha. Mas infelizmente, ela está no mecânico, o motor dela morreu em plena avenida esses dias atrás. Eu espero que tenha conserto, porque não posso me desfazer de Lolla, eu tenho uma obrigação para com o meu bisavô Raul, tenho que entregar esse carro um dia para algum dos meus filhos. E assim sucessivamente.

– Uau, que história esse carro deve ter hein. – Sorri.

Ultimamente ela arrancava muitos sorrisos e risadas minhas. A sua personalidade forte e divertida, me traziam uma paz e alegria que nenhuma outra pessoa trazia.

Quando terminamos os dois últimos quilômetros de caminhada, resolvemos atalhar pelo meio da praça, estávamos quase chegando à nossa rua, percebo que ela está muito quieta, me viro e não a encontro, olho para um lado, depois para o outro e nada dela.

Onde ela está?

Comecei a pensar no que poderia ter acontecido, mas há segundos atrás ela estava ao meu lado. Corri novamente pelo corredor da praça e não há vejo, paro, respiro fundo, pois estava começando a ficar apavorado, olho novamente para os lados e a vejo agachada perto de uma árvore.

Garota maluca!

Saí pisando duro, bufando pelas ventas, pronto para dar um belo sermão nela, quando percebo que ela está segurando um pequeno filhote de cachorrinho nas mãos e uma caixa logo a frente dela, paro por alguns instantes e a admiro enquanto acaricia o pequeno filhote nas mãos e conversa com o mesmo.

– Quem poderia ter deixado você aqui? Hein meu amor? Hein véio... – Alisava continuamente o pêlo do pequeno vira lata.

– Giullie? – Me abaixei ao seu lado. – Você quase me mata de susto, desapareceu do nada.

Não deu a mínima atenção para o que eu falei.

– Não posso deixa-lo aqui Bernardo, eu vi a previsão do tempo e diz que vai chover, ele pode morrer afogado, ou então alguém muito malvado pode maltratar ele. O que devo fazer? – Me perguntava com os olhos cheios de lágrimas como se eu tivesse o dom de resolver o problema do pequeno cãozinho.

– Eu não sei, podemos deixar em alguma ONG, ou achar alguém para adota-lo. – Dei de ombros.

– Você pode adotar ele! – Ela sorriu com os olhos brilhando.

– Oh não, nem pensar. Não posso ter um animal em casa, não sei nem cuidar de mim direito.

– Ah vai, por favor. Podemos compartilhar a guarda dele. Pensa bem. Por favor, por favorzinho. – Seus olhos brilhavam em expectativa e foi aí que pela primeira vez na minha vida, eu cedi aos encantos de uma mulher.

– Ok, você me convenceu. Vamos, temos que trabalhar daqui a pouco. – Peguei a pequena caixa do chão e coloquei debaixo do braço.

– Você é demais, sabia? – Se levantou carregando o cãozinho com toda a delicadeza possível. – Acho que ele deve ter no máximo dois meses, temos que leva-lo ao veterinário. Ah, temos que comprar ração e os acessórios que ele vai precisar. Posso ficar com ele nas terças, quintas, sábados e domingos. Que nome daremos para ele? – Falava tão rápido que nem sei como conseguia respirar.

– Podemos levar ele ao veterinário depois do serviço hoje. O nome perfeito para ele seria, sei lá, Totó?

– Totó? Tem como ser mais clichê? Pode ser Bob, de Bob Esponja.

– Vetado.

– Billy? – Arrisquei.

– Vetado.

– Já sei. – Gritou entusiasmada. – Cake! Eu amo bolos, e vou amar ele.

– Cake? É diferente, é meio esquisito, mas soa bem. – Segurei seu braço para atravessar a rua.

– Sim, será Cake, nosso pequeno filhinho.

Engasguei com a minha própria saliva.

– Filho?

– Sim, afinal, estamos adotando juntos e teremos uma guarda compartilhada, você é homem eu sou mulher, acredito que ele nos terá como pais, não?

– Você é doida. – Murmurei.

Completamente doida.

E eu, estou completamente, doidamente, encantando por essa mulher que se difere de tantas outras.

Você e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora