Capítulo 28 - Bernardo

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Capítulo 28Bernardo

Ter a minha mãe de volta ao meu lado, apesar de ser um tanto quanto estranho, era bom.

Ela me fazia sentir bem, porém, toda a bagagem do nosso passado vinha com ela, mesmo que aquilo não estivesse aparente. As brigas entre ela e o meu pai sobre meu futuro, sobre o dinheiro da nossa família e outras futilidades eram constantes. Me lembro quando eu me enrolava em um lençol, dos pés à cabeça, e entrava debaixo da cama deles para saber o que estava acontecendo e os ouvia falando sobre mim como se eu fosse um protótipo humano que no futuro traria conforto para eles.

Ele precisa ir para lá! – Gritava descontrolado.

Meu Deus, você tem noção do que está falando, do que quer para o seu filho de cinco anos Roberto? CINCO ANOS! – Esbravejou.

Logo ele irá crescer, se tornar um homem Eliza, você não entende que no momento em que ele for para lá ele vai ser mais inteligente, o nosso futuro está nas mãos daquele pequeno pirralho.

Seu estúpido! – Socou o peito dele com força. – Esse pirralho é seu filho, não vou permitir que você o mande para a Suíça.

Essa decisão já foi tomada Eliza, querendo ou não, ele irá.

Não mesmo, nem morta vou permitir isso.

Que assim seja. – A empurrou para o lado e saiu do quarto.

Eu comecei a chorar assustado e não consegui esconder por muito tempo a minha localização, logo mamãe estava agachada, olhando para debaixo de sua enorme cama.

Ei meu bebê! Mamãe está aqui – dizia enquanto se deitava no chão e rolava para debaixo da cama. – Meu pequeno príncipe, mamãe está aqui e irá protege-lo para todo o sempre, lembra da nossa promessa?

Assenti.

Repita para que a mamãe possa saber que você realmente não esqueceu.

Sempre. – Murmurei. – Sempre para todo o sempre. Ontem, hoje, amanhã e daqui a cem anos. – Continuei baixinho.

Esse é meu homem. – Sorriu e aquele sorriso tinha o poder de acalmar qualquer tempestade.

Eu não quero ir embora mamãe rainha. – Choraminguei.

Não se preocupe, amanhã mesmo iremos construir o nosso próprio castelo, ok príncipe? Concorda com isso?

Papai virá?

Não. – Disse firme. – Papai não virá. Tudo bem por você?

Sim.

Realmente meu pai não veio junto conosco. Ele nem ao menos sabia que a minha mãe seria capaz de se rebelar contra a sua ditadura descabida. No fim da noite, ao chegar em casa, segundo a dona Nina – governanta da casa –, ele surtou, quebrou tudo que estava ao seu alcance, mas não veio atrás de nós. Uma semana depois, mamãe recebeu uma carta e os documentos com o pedido de divórcio. Eu, mesmo criança, me “rebelei” e me tornei um nerd, estudava muito e não saía para brincar, pois ficava em minha sala de estudos decorando a tabuada e lendo dicionários. Por mais que eu não morasse mais sob o mesmo teto que o meu pai, ele não deixava de me visitar e toda vez era bem claro sobre o quanto eu deveria me esforçar, e me tornar um grande homem para que no futuro eu assumisse os negócios da família.

Quando eu fiz doze anos, descobri que meu pai e minha mãe estavam começando a se relacionar novamente, mas meses depois, mamãe descobriu que o meu querido e respeitado pai tinha um caso com a sua secretária desde sempre. Ela ficou arrasada, e eu a culpei por tudo, assim como culpei o cretino e imoral do meu pai. No momento em que me foi oferecida a oportunidade, eu a agarrei e fui estudar fora. Mamãe foi para Londres e meu pai para Nova Iorque.

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