Eu sentei sobre a prancha de surfe e assisti o cara da namorada ruiva tentar acender a fogueira. Não lembrava o nome dele, nem da maioria desses surfistas.
Como eu odiava mudar de cidade. Era péssimo em fazer amizades novas, e essa cidade nova já estava sendo a pior de todas. Nunca estive em uma praia antes, e aqui todos pareciam ser surfistas, ou namoradas de surfistas, ou donos de lojas de surfe.
Meu irmão até emprestou essa prancha, mas ele alertou tantas vezes sobre o quanto custou, que fiquei com medo de usar. No fim, fiquei na areia assistindo meus novos 'amigos' demonstrarem suas habilidades. Que coisa mais chata.
Agora era pôr do sol, estávamos todos em círculo em torno da fogueira que, ei, o cara líder do grupo conseguiu enfim acender. Outro cara apareceu com um violão e começou a cantar sertanejo, e todo mundo começou a balançar lentamente, ao ritmo da música, enquanto se passavam um baseado e baforejavam uma fumaça esverdeada.
Nossa, essas pessoas não tinham nada a ver comigo. Mas que escolha eu tinha? Meu irmão teve a bondade de me aceitar na casa dele quando meu pai me expulsou por ser gay. Não queria preocupar meu irmão parecendo um recluso desajustado.
"Aceita, Gabe?" A pergunta do cara ao lado me devolveu à realidade. Ele me oferecia um cigarrinho de maconha já pela metade.
Eu forcei um sorriso e aceitei, dando uma curta tragada antes de passar adiante. Odiava ficar chapado, mas se fosse para passar a noite com um bando de surfistas maconheiros, eu preferia me anestesiar também.
A propósito, meu nome é Gabriel, mas me chamam de Gabe. Tenho dezoito anos e estou tentando passar numa faculdade, ou dar qualquer rumo à minha vida. Nada em mim é impressionante. Tenho cabelos castanho-claros, olhos azuis, peito estreito e poucos músculos, embora me exercite todas as manhãs. Meu corpo não me orgulha muito, então vestir apenas um calção de banho, como agora, me deixa meio constrangido.
Digo, eu não estou fora de forma nem nada assim, mas essas pessoas são tão bonitas. Tão bronzeados, com músculos duros e sorrisos radiantes. Surfe deve ser um esporte divertidíssimo, porque todos riam animados após um domingo pegando ondas.
Todos, menos um. E era justamente esse o cara que eu não conseguia tirar os olhos. Os outros já haviam percebido, porque trocavam risadinhas, mas Dylan, o único que eu decorei o nome de imediato, era sensacional.
Dylan não parecia ser como os outros, talvez por isso me interessei desde o primeiro dia aqui, um mês atrás. Cabelos cacheados pretos, queixo quadrado, peito largo e musculoso, e olhos de um verde sobrenatural, quase iridescentes. Nunca vi alguém com um olhar tão incomum e tão lindo. E dessa vez ele usava apenas uma sunguinha, revelando a totalidade de suas coxas grossas e firmes.
"Cala a boca, Michel. Deu problema da outra vez." Uma das mulheres gargalhou, já super chapada. A atenção do Dylan foi para a confusão na rodinha, então fiz o mesmo antes que ele me percebesse babar por ele.
"Deu problema nada, foi divertido." O tal de Michel era quem acendeu a fogueira. Ele agitou o baseado no ar, gargalhando. "É o nosso ritual, e temos um recém-chegado. Porque não?"
"Você é um idiota." Outro cara riu, aquecendo os pés à frente da fogueira. "Que acha, Gabe? Quer jogar os dados?"
"Dados?" Perguntei, surpreso que soubessem meu nome. Geralmente me ignoravam, e acho que só me deixavam ficar pois meu irmão era um surfista famoso na cidade.
"Carlos, não tem graça se perguntar. É um desafio. Ou ele aceita, ou para de andar com a gente."
Eu engoli seco, e me inclinei para Dylan, que sentava ao meu lado. "Do que eles estão falando?" Perguntei, comemorando por dentro ter conseguido falar com ele.
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O Amante Do Tritão (AMOSTRA)
RomanceAMOSTRA - 75% DA HISTÓRIA DISPONÍVEL Livro completo disponível na Amazon! Gabe odeia a nova cidade. Todos são surfistas, ou donos de loja de surf, e antes de Gabe se mudar ele nunca havia visto o mar. Mas ele precisava tentar fazer amigos, não que...