Capítulo 16

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Enquanto esperava abrirem o portão, meu olhar vagou para a praia, logo adiante.

Iluminadas pelo céu de cobre, as ondas erguiam-se aos céus e caiam em uma cascata de espuma, as mais bonitas sempre aproveitadas por algum surfista.

Logo baixei o rosto, sentindo torcer meu coração. Há duas semanas não ouvia falar de Dylan. Ele não tentou me ligar, não deixou mensagens e para piorar deletei o número dele quando brigamos. Ninguém sabia dele, era como se tivesse mesmo desaparecido.

Mas... talvez fosse melhor assim né? Eu tinha todos os motivos para rejeitá-lo. Ele não merecia nem os meus pensamentos depois de ter me enganado. Dylan pensou mesmo que poderia me engravidar em segredo, e que ficaria tudo bem entre nós?

"Seja bem vindo, senhor Gabriel." O mordomo enfim abriu os portões da mansão. "Patrão Michel está lhe aguardando, em seus aposentos."

Eu cumprimentei o mordomo, atravessei o vasto jardim e subi as escadarias da mansão. Michel me aguardava por trás de uma pilha de livros, enquanto revisava matéria de alguma prova, cheio de concentração. No último luau ele bebeu e fumou tanto que meteu uma anêmona na cara e gritou imitando um monstro marinho. Michel parecia ser duas pessoas.

"Oi, Gabe. Que bom te ver. Você melhorou?" Perguntou ele, ajeitando o óculos no rosto. Ele se serviu de whisky e me ofereceu um copo de coca-cola. Nós dois brindamos, eu tentando não parecer triste.

Era difícil olhar para as faixas no pescoço do Michel, sem lembrar daquela tarde.

"Como estão seus machucados?" Perguntei, sentando na cama e bebendo minha coca.

Michel encolheu os ombros, agarrando-se ao moletom grosso que vestia. Mesmo em julho, não fazia tanto frio em Orla das Sereias. Eu também me vestia assim quando cheguei, para esconder os machucados da surra, então ver Michel na mesma situação me fazia tremer.

Na verdade eu também vestia roupas largas, mas por um motivo bem diferente.

"Sabe, no fundo acho até que mereci." Michel esfregou as bandagens no pescoço, com um sorriso sem graça. "Passei um pouco dos meus limites."

"Eu sei que você não me forçaria, mas obrigado por não denunciar o Dylan." Falei, deixando o copo vazio sobre a estante.

"Não precisa agradecer." Michel piscou pra mim. "Algum sinal dele?"

Fiz que não com a cabeça.

"Eu, hum.... posso trocar seus curativos, se quiser." Falei.

Sempre perspicaz, Michel deu um sorrisinho travesso e deslizou a cadeira, parando na minha frente. "Você, querendo cuidar de mim? A fila anda mesmo, hein."

Eu estremeci, olhando para o kit de farmácia sobre a cama. Michel que não confundisse as coisas. Faltavam apenas dois dias para o fim da inscrição do Alisson, e toda a confusão com Dylan não me fizer esquecer sua proposta.

Michel estava certo. Havia algo que eu podia fazer pelo meu irmão. Eu precisei esgotar todas as alternativas, até perceber que não havia outra opção. Senhor Jones estava à beira da falência e Alisson não estava nem tentando, portanto naquele momento eu conseguiria o dinheiro necessário.

Engolindo o medo e mantendo um olhar vagamente sedutor, eu subi o moletom do Michel. Ele não resistiu, e ergueu os braços para que eu o removesse totalmente.

Dez dias após o ataque, e os rasgos das unhas do Dylan se tornaram apenas listras rosadas e os golpes e cotovelaços, antes pretos, começavam a esmaecer em tons azuis e amarelos. Michel soube disfarçar bem, indo surfar com seu macacão de neoprene. Eu não imaginava a dor em nadar na água salgada com tantos ferimentos, mas após oito latas de cerveja Michel nem devia sentir as próprias pernas.

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora