Acordei com a água salgada batendo no meu rosto. A fogueira havia se apagado, inundada pela subida da maré.
Eu apertei minha cabeça dolorida e me levantei, atordoado e vendo o mundo girar. Cacete, eu fumei muito mais do que estava acostumado, e nem sei o quanto bebi. Dezenas de latinhas vazias flutuavam ao meu redor e eram carregadas para o mar.
"Michel? Dylan?" Eu olhei ao redor, cambaleando na areia encharcada.
Nada, além de umas gaivotas terminando de comer nossos salgadinhos. Pelo céu limpo e acobreado já era madrugada, e a subida da maré arrastava tudo para dentro, até a lenha queimada da fogueira.
Eu esfreguei atrás do pescoço, tentando acordar direito quando percebi algo que arrepiou cada pêlo do meu corpo. Me virei num salto e olhei para a areia. A prancha do Alisson havia sumido.
Ai, que merda. Com o coração na garganta eu percorri os arredores, procurando o amarelo estampado. Meu irmão ganhou vários campeonatos naquela prancha, ele iria se desesperar.
Eu já segurava o peito prestes a ter um infarto, quando avistei um pontinho amarelo muito ao longe, em meio ao oceano de ondas calmas.
Puta merda, a prancha do Alisson. Sem pensar duas vezes, eu me joguei no mar e nadei, nadei o mais rápido que conseguia, o que era quase nada. Eu nunca tive aulas de natação, mas não podia ser tão difícil.
Mesmo eu sendo atlético, não demorou até meus músculos queimarem. Eu tentei descansar os pés e não alcancei o fundo. Atrás de mim a cidade era uma linha distante, e à minha frente a prancha do Alisson ainda era só um pontinho, muito mais distante do que eu havia previsto. Ela parecia ser empurrada para um ponto de terra adiante, uma ilhota que nem podia ser vista da praia.
Ofegando pesado, eu continuei nadando, mas a água começou a entrar na minha boca, e eu perdi a força de vencer as ondas, sendo arrastado para trás mais do que avançava para a frente.
A prancha ainda se afastava quando minhas forças se esgotaram. Logo as ondas me carregaram para o fundo, e meus pulmões queimaram com a água salgada.
****
Despertei aos poucos, sentindo algo macio contra os meus lábios. Eu abri uma fenda dos olhos e me sobressaltei.
Um cara estava me beijando.
Eu tentei me afastar, mas uma alfinetada horrível no peito fez eu tossir pesado, cuspindo litros de água nos pedregulhos lisos onde eu estava deitado. Minha respiração chiava, de tão rápido que eu buscava ar, e todo o meu corpo tremia. Não foi um sonho? Eu realmente afundei no oceano?
Meu pensamento logo voltou à prancha do Alisson. Eu ergui o rosto dolorido e em pânico, mas a bela prancha de estampados amarelos descansava ao meu lado, com o cordão amarrado nas pedras.
"Você é meio louco." Falou uma voz atrás de mim, que eu reconhecia. "Que humano se jogaria nas ondas, sem saber nadar?"
Eu sentei com esforço e me virei para Dylan. A pressão quente ainda estava carimbada nos meus lábios, e mesmo dolorido, eu avermelhei.
Na verdade, não avermelhei, eu peguei fogo. Dylan estava sentado à beira d'água, sem vestir absolutamente nada. Ele retirou uma escama do tornozelo e jogou no mar, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Um pensamento horrível passou na minha cabeça, e eu me encolhi, escondendo o corpo nas mãos como se estivesse tão despido quanto ele.
"O que fez comigo, enquanto eu dormia?" Perguntei.
Dylan me fitou com seus lindos olhos iridescentes, e alisou os cachos para trás com os dedos. "Te salvei, talvez? Você não estava exatamente dormindo."
Eu baixei o rosto, envergonhado por pensar mal dele, e porque não conseguia parar de olhar para aquele corpo rígido e dourado pelo sol. Seus mamilos castanhos me davam vontade de morder, mesmo que nem soubesse a sensação. Nunca fiz mais que dar um selinho em outro cara.
Só então percebi algo estranho. Digo, algo mais estranho que ter um homem delicioso pelado na minha frente.
"Onde estamos?" Eu olhei ao redor. Haviam apenas pedras escuras e molhadas, constantemente castigadas pelas ondas. O oceano se expandia à minha frente, iluminado pelo céu azul, mas um pontilhado minúsculo indicava uma cidade distante. Atrás de nós haviam apenas mais pedras, que se apoiavam uma na outra e formavam uma caverna.
Dylan só ficou me olhando, descendo os olhos pelo meu corpo magrelo e voltando a me encarar. Certo, ele realmente era meio esquisito. Não existia aquele ditado: beleza, dinheiro, sanidade mental, escolha dois? Dylan devia ser rico, porquê sanidade mental ele não tinha muita, não.
"Escuta, Gabe..." Ele bufou e olhou pro nada, avermelhando. "Eu não faço as regras, e não haveria tempo de te levar para o continente. Te trouxe para cá porque não tive escolha, me desculpe."
Eu abri um sorrisinho nervoso. "Quê?"
Dylan se levantou, e o sol do fim da tarde iluminou os gomos molhados de sua barriga. Lambi os lábios involuntariamente, assistindo-o se aproximar de mim. Não queria olhar para baixo, mas foi impossível agora que estávamos de frente. Minha primeira vez vendo o pau de outro cara, e o do Dylan era bem grande, embora estivesse flácido. Não havia nenhum pelinho, assim como no resto de seu corpo.
Uma barraca se armou no meu calção de banho, e minha posição não ajudava. Eu estava sentado de pernas abertas, praticamente convidando Dylan a se ajoelhar entre elas. E foi o que ele fez.
Dylan afagou meu rosto, mandando espasmos quentes pelo meu corpo.
"Eu te trouxe pra ilha. Desculpa, Gabe." Seus olhos encontraram os meus, tão lindos quanto doloridos. "Precisamos acasalar."
"Quê??" Dessa vez eu gritei.
Só então lembrei do jogo dos dados, e comecei a rir meio aliviado, mas não tanto assim. Dylan já estava praticamente grudado em mim, e se aquele peito gostoso tocasse o meu, virgem como eu era, eu passaria a maior das vergonhas.
"Eles te desafiaram, também?" Perguntei, querendo me afastar e ao mesmo tempo não querendo. "Você precisa transar com alguém? Porquê acasalar é uma escolha de palavras bem estranha."
"Entendo." Os lábios de Dylan estavam tão próximos que sua respiração acariciava meu rosto, quente e com o cheiro do mar. "Nesse caso, quer transar comigo?"
Meu coração saltou, e meu pau saltou, e meu corpo entrou em pane, parte dele querendo correr, parte dele querendo me despir e gritar 'vem!'.
Por algum milagre, meus instintos de fuga falaram mais alto e eu recuei, engatinhando para trás até bater as costas num rochedo, encurralado. Não, não, não! Dylan podia ser gostosíssimo, e misterioso, mas ele exalava um ar de insanidade que me fazia tremer. Nenhum cara normal convidaria tão diretamente, não é? Ainda mais quando Dylan sabia que eu era virgem, já contei a ele.
"Dylan, quando você diz transar..." Eu engoli seco, observando-o parado em meio às pedras, como a mais linda estátua grega. Ele não tentou me segurar, o que era ótimo, não era? "...você fala de fazer sexo, não é?"
Dylan soltou uma risadinha encabulada. "Falo de acasalar. Eu já disse, Gabe, você está na ilha."
Ceeeeerto. É agora que eu levanto e começo a correr gritando pela vida. Ou é isso o que eu deveria fazer, mas meu pau já ardia dentro das calças, com seus próprios planos para aquela tarde.
Ai, e agora? Louco ou não, Dylan era bonitão demais, e eu já passei do prazo para perder a virgindade. O meio das minhas pernas já implorava por isso.
"Tudo bem." Falei, tentado relaxar os músculos. "Mas vamos com calma, ok? Eu nunca fiz isso."
Dylan abriu um sorriso tão doce que meu coração acelerou. Ele sempre foi o cara quieto e angustiado, vê-lo feliz ao se aproximar de mim e me estender a mão me fez querer abraçá-lo e beijar seu corpo todo.
Eu alcancei minha mão à ele e deixei Dylan me levantar. Ele laçou seus dedos nos meus e me conduziu para dentro da caverna.
"Serei tão gentil quanto quiser que eu seja. Você é meu predestinado, agora."
Ai, meu Deus. Eu estava com um péssimo pressentimento sobre isso.
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O Amante Do Tritão (AMOSTRA)
RomanceAMOSTRA - 75% DA HISTÓRIA DISPONÍVEL Livro completo disponível na Amazon! Gabe odeia a nova cidade. Todos são surfistas, ou donos de loja de surf, e antes de Gabe se mudar ele nunca havia visto o mar. Mas ele precisava tentar fazer amigos, não que...