Capítulo 09

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Um pé na frente, o outro atrás, cuidaaado...

A onda virou a prancha e me atirou para trás. Eu caí de costas na água fria, esperneando confuso até encontrar o chão e voltar a subir. E ainda por cima o leash enroscou nas minhas pernas, me fazendo cair de novo.

Michel riu e segurou meu braço antes que a onda seguinte me devolvesse à praia.

"Tá melhorando." Ele sorriu com travessura, enquanto eu tirava uma alga do meu cabelo encharcado.

"Melhorando como? Eu mal consigo ficar de pé na prancha." Eu bufei, segurando minha pranchinha azul de iniciante antes que acertasse minha cabeça.

"Semana retrasada você nem conseguia subir. Eu vejo progresso."

Eu suspirei, assistindo os outros do grupo surfarem as enormes ondas que arrebentavam ao longe. Quando eu apenas assistia já parecia difícil, mas agora que descobri o quanto é complicado, vê-los manobrar por dentro dos tubos d'água me deixava de boca aberta.

E isso que eram todos amadores, meu irmão fazia manobras ainda mais sensacionais.

"Essa coisa de surfe não é pra mim, eu acho." Admiti, com um sorriso tímido.

"Bobagem. Aposto que está se divertindo." Michel acotovelou meu ombro e voltou para a parte funda, remando com a barriga na prancha. "Vem, vamos tentar de novo." Chamou ele, com aquela voz enrolada de quem exagerou na bebida e na erva.

Eu concordei, mas antes virei o olhar para a praia, onde Dylan me assistia solitário, à beira da fogueira. Já se completavam cinco semanas desde que nós dois... iniciamos algo que eu não sabia o nome. Olhar para o Dylan me fazia sorrir, e eu sabia que mesmo distante ele também devolvia o sorriso. Não sei o que esse homem divino viu em mim, mas sentir todo o amor dele aquecia o meu coração e me fazia sentir capaz de qualquer coisa.

Até me acostumei com as esquisitices dele. Dylan comia apenas peixes, ou algas do mar. Ele odiava que eu bebesse, me proibia de fumar, e tinha obsessão em beijar minha barriga quando transávamos. E nossa, o sexo continuava ardente como no primeiro dia, se não ainda melhor. Dylan só parava ao me desmontar completamente.

Por mais que eu convidasse, Dylan também se recusava a entrar na água. Talvez não soubesse nadar, o que era estranho pois já o vi molhado muitas vezes, sem contar que sempre vestia uma sunga. E quem moraria em uma ilhota, correndo o risco de se afogar?

Bem, pelo menos ele aquietou sobre eu andar com outras pessoas. Após uma semana inteira trabalhando e depois tendo encontros com ele, eu apreciava a companhia do Michel e dos outros, que passaram a me tratar muito melhor. Claro que após o luau eu não perderia tempo em arrastá-lo pra o meu quarto e... heheh, eu mal podia esperar.

Michel me chamou ao longe. Eu deitei a barriga na prancha como ele ensinou, e remei até a rebentação das ondas. Mas havia algo estranho dessa vez. Uma pontada no ventre fez eu me retorcer, e eu caí da prancha.

Queimando de dor, eu gritei bolhas sob a água, cravando as unhas na barriga. Não conseguia me mover, a dor me paralizava e a superfície se tornava cada vez mais distante.

Alguém me agarrou pelo braço e puxou para cima. A namorada semanal do Michel. Dessa vez era uma italiana peituda, de cabelos castanhos.

"Tá tudo bem, Gabe?" Ela me perguntou, e logo os outros surfaram até mim. Acho que minha cara assustou a todos, então tentei disfarçar.

"Só uma cãibra, é melhor eu voltar." Gemi, todo dobrado. A dor aos poucos tornava-se suportável, mas meu estômago parecia em chamas.

"É melhor não exagerar, mesmo. Já está anoitecendo, e você não está acostumado a surfar." Ela me confortou, toda doce e preocupada até Michel aparecer por trás e dar um tapa na bunda dela, sempre tão cortês com as mulheres.

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora