Meu primeiro emprego. Uma lojinha pequena e pitoresca à beira da praia, com uma placa de madeira e palha escrito Amigos do Surfe.
A decoração lembrava aqueles filmes clichê havaianos. Tarrafas, toras com entalhes de animais, tochas, folhas de coqueiro e, claro, pranchas de surfe encostadas em todas as paredes.
No interior atulhado de equipamentos de surfe havia um cheiro de poeira, maresia e milho. A parte do milho eu logo entendi, pois um cara meio gordinho e de barba grisalha apareceu para me cumprimentar, comendo uma espiga de milho-na-manteiga.
"Bem vindo à Amigos do Surfe, em que posso ajudar, rapaz?" Perguntou ele com um sorriso e aquele jeito feliz e largado que todos aqui pareciam ter.
"Hum..." Eu cocei o peito, meio encabulado. Pensei que o Alisson estava de zoação quando me disse que um calção de banho e chinelos seriam adequados no meu novo emprego, mas esse senhor de meia idade também vestia a mesma coisa, além de um colar de flores. "Estou aqui pelo emprego. Sou o irmão do..."
"Ah, o irmão do Alisson!" O cara se empolgou, me cumprimentando com a mão toda bezuntada de manteiga. "Rapaaaz, ele falou demais de você. E né que são parecidos mesmo? Tu é até mais baixo que ele, cês não comem?"
"Nós dois temos exatamente um metro e sessenta e cinco." Eu sorri, perdendo um pouco do nervosismo. "Então, hum... sobre a vaga?"
"Claro, claro. As coisas tão apertadas, mas pro Alisson sempre dou um jeito, né? O cara surfa demais. Tinha que ver antes da crise, o cara nos campeonatos com patrocínio da loja. Rapaz, as vendas costumavam ser loucas." O cara me chamou pra sentar nas poltronas, que balançavam do teto como redes. "Não culpo o cara, por mudar de patrocinador. Alisson tá tipo, com os grandes agora, né? Fiquei sabendo que vai competir no Havaí, daqui uns meses. A propósito, meu nome é Jones. Mas pode chamar de Jon, Jonnie... irmão do Alisson é irmão meu."
Eu mantive o sorriso, meio atordoado. Nossa esse cara falava muito.
"Meu nome é Gabriel, mas me chamam de Gabe. Meu irmão vai pro Havaí, você disse?"
"Vai. Ou acho, né. O cara é daqueles que sobem dez degraus por vez, daí os patrocinadores não acompanham, porque né, lá fora o cara né nada, ainda. Ainda! A inscrição é os olhos da cara, mas o Alis comentou que o pai de vocês tem grana, né? Ele faz o que da vida?"
"É pastor evangélico." Eu baixei a cabeça e olhei pro chão, sentindo o peito doer.
"Pastor, é? Rapaaaz, como metem no bolso esses caras. O Alis tá de boas, então, de ir pras internacionais. Chamam como isso? Paitrocínio, né?" Jones riu, como se fizesse a piada mais engraçada do mundo.
Eu fiquei quieto.
"Enfim, olha só." Jones jogou fora o sabugo e limpou as mãos no calção. "O que tu vai fazer é vender prancha. Ou tentar né, porque a crise e aquela loja nova, tá foda. Mas tu é mano do Alis só isso deve atrair uns turistas, né. O que tu manja de surfe?"
Eu arregalei os olhos pra ele, e para o monte de pranchas em formatos diferentes, alinhadas na parede e ostentando as mais diferentes cores.
"Aquilo é uma... prancha, e aquilo é... uma prancha também. Essa é a cordinha de amarrar na perna."
Pelo jeito que o senhor Jones olhou pra mim, eu sabia que tinha falado um monte de besteira.
"Bom... hoje não teremos muitos clientes, posso lhe ensinar como funciona cada equipamento. Ou pelo menos o nome de cada um."
Eu sorri, me sentindo empolgado. "Prometo me dedicar ao máximo!" falei, levantando para explorar os cantos da loja. Algo logo chamou minha atenção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Amante Do Tritão (AMOSTRA)
RomanceAMOSTRA - 75% DA HISTÓRIA DISPONÍVEL Livro completo disponível na Amazon! Gabe odeia a nova cidade. Todos são surfistas, ou donos de loja de surf, e antes de Gabe se mudar ele nunca havia visto o mar. Mas ele precisava tentar fazer amigos, não que...