Quatro meses se passaram, desde que perdi a virgindade. Também se completavam quatro meses de gravidez, e quanto mais minha barriga crescia mais eu me convencia de que não havia sido uma brincadeira sádica do Dylan. Ele realmente me largou para lidar sozinho com isso.
Uma das piores partes de se manter uma gravidez secreta, era manter a rotina quando tudo me cansava. Ainda de madrugada precisei acompanhar Alisson ao aeroporto, ajudando-o com as malas para os longos meses que passaria no Havaí. Mesmo após tanto tempo ele me agradeceu umas cem vezes por ter conseguido o dinheiro, mas não conseguiu que lhe contasse como. Com sorte ele não pensava que virei traficante, ou sei lá.
Mesmo exausto, eu reuni minhas poucas forças, pois eram recém nove da manhã. Eu precisava atender na loja do senhor Jones.
"Gabe, rapaz! Tu dormiu de noite?" Senhor Jones me alcançou um milho-na-manteiga, que eu devorei como se não comesse há meses. "Como foi, lá no aeroporto?"
"Normal. O Alisson tava nas nuvens, claro. Um semestre inteiro participando do circuito havaiano, com os famosos."
"Alisson é o cara. Sério. O cara." Senhor Jones riu, enquanto mudava a plaquinha da loja de fechado para aberto. "Não pude colaborar com nada, e ainda assim ele adesivou a prancha com o logotipo da loja."
Eu concordei, avistando na parede o recorte que o senhor Jones mandou moldurar. A foto do Alisson na primeira página do jornal, sorrindo para os entrevistadores e abraçando sua prancha amarela, agora carimbada com a marca Amigos do Surfe.
A calmaria durou pouco tempo. Tão logo o senhor Jones abriu a loja, vários clientes entraram buscando pranchas, equipamentos, e até dicas de surfe, que felizmente eu aprendi a responder, embora na prática só soubesse cair na água. Alguns até apareciam querendo conhecer o irmão do grande Alisson. Felizmente nenhum me pediu autógrafos, ou não sei como reagiria.
Alisson podia ser um astro do surfe, mas eu era apenas um cara comum, trabalhando no balcão da loja mais badalada da cidade. Logo os clientes ocupavam cada espaço da pequena loja, eu não sabia nem qual atender primeiro.
"Bem-vindo à Amigos do Surfe." Declarei ao primeiro cliente, com um sorriso no rosto. "Em que posso atendê-lo?"
****
Assim que o senhor Jones virou a plaquinha da porta para fechado, eu derreti na poltrona-rede, mais morto do que vivo.
Ofegando em cansaço, eu massageei minha barriga por cima da camiseta larga. Sempre doía após tanto esforço, e eu começava a me preocupar com o bebê, que batizei provisoriamente de Mini-Dylan. Por mais aterrorizante que fosse essa gravidez eu decidi tratá-la com certo humor, ou iria enlouquecer.
Não só eu era um homem grávido, mas um homem grávido e solteiro. Esta parte conseguia me assustar ainda mais.
"As vendas foram ótimas, hoje." Senhor Jones verificou os maços de dinheiro, e voltou a guardá-los na caixa registradora. Algumas notas ele entregou para mim. "Seu extra pela canseira de hoje. Nem pensa em fazer frescura."
Eu ri, e aceitei de bom grado o dinheirinho extra. Seria útil, agora que eu morava sozinho na casa do Alisson. Precisava aprender a ser independente, e por enquanto isso significava comer pizza todos os dias.
Estranhamente, mesmo que eu me empanturrasse de comida meus braços continuavam afinando. Esse bebê estava me sugando vivo, como um vampirinho. Um vampirinho fofo que ainda não chutou nenhuma vez, quando ele começaria a fazer isso?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Amante Do Tritão (AMOSTRA)
RomanceAMOSTRA - 75% DA HISTÓRIA DISPONÍVEL Livro completo disponível na Amazon! Gabe odeia a nova cidade. Todos são surfistas, ou donos de loja de surf, e antes de Gabe se mudar ele nunca havia visto o mar. Mas ele precisava tentar fazer amigos, não que...