Capítulo 12

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Assim que acordei reconheci o teto. Pedras negras e irregulares, que refletiam o ondular azulado de uma piscina.

Sentei num salto, reconhecendo o sofá cama do Dylan e as estantes de livros. A última vez que estive na ilhota havia sido há meses atrás, na nossa primeira vez. E agora retornar fazia meu peito disparar. Suor escorria pelo meu corpo úmido.

"Dylan?" Eu circulei meu olhar pela caverna.

Nenhuma resposta. O único som eram as ondas e gaivotas lá fora.

Eu removi minha camisa molhada e espalmei os bolsos do calção. Meu celular ainda estava comigo e havia bateria, além de algumas mensagens do Alisson, perguntando por mim.

Com os dedos tremendo, eu escrevi 'socorro', mas não consegui enviar. A lembrança do Michel ensanguentado no chão me fazia estremecer por completo, e me perguntar se o mesmo aconteceria comigo.

Michel... podia ser arriscado, mas eu precisava ligar pra ele. Eu tentei apertar as teclas apesar da tremedeira, mas enquanto eu digitava o número, o celular vibrou na minha mão. Ele mesmo estava me ligando.

"M-Michel?" Sussurrei, todo encolhido no sofá e de olho na porta. "Você tá bem?"

"Tó vivo. No hospital." Michel deu um gemido de dor. "Me diz onde você tá, vou mandar a polícia."

Quê? Polícia? Pensando bem, eu nem consegui entender a situação, ainda. Por mais que Dylan tenha agido como um monstro e... talvez fosse literalmente um monstro, eu não queria tomar decisões precipitadas. Ele era o cara que me fez feliz por dois meses, afinal.

"Não envolve a polícia, por favor." Eu apertei o celular nas mãos. "Não estou em perigo, eu acho. Ele só quis me defender de você."

"...Você me odeia por antes?"

"Agora não é hora, Michel!" Eu ouvi o agitar da água lá fora, e desliguei o celular.

Dylan entrou na caverna molhado, apenas de sunga, e carregando uma bolsa com zíper, dessas à prova d'água. Qualquer outro dia a beleza de seus músculos úmidos teria fervido meu corpo, mas dessa vez eu apenas estremeci. Duas escamas verdes pendiam ao lado da coxa do Dylan, resquícios de sua verdadeira forma.

Merda, no fundo eu queria acreditar que a última parte havia sido um sonho. Dylan, o homem que me levou à cama tantas vezes era um tritão, um tritão violento que foi capaz de me enganar.

Sobre o que ele me enganou eu lutei para não pensar, ou desmaiaria de novo.

"Você vai me machucar?" Perguntei, apertando a barriga e sentindo o inchaço, o que me fez querer chorar. "Eu quero algumas explicações."

Com uma expressão derrotada e triste, Dylan sentou ao meu lado. Ele me entregou a bolsa sem nem me olhar na cara. Eu me arrepiei com o que poderia haver ali. Era gelado.

Assim que abri o zíper eu arqueei uma sobrancelha. Havia um pote de sorvete, calda de chocolate e uma colher.

"Liguei pro seu irmão para avisar que passaríamos a noite juntos, e disse que você acordaria furioso comigo. Ele sugeriu isso." Falou Dylan, com o olhar nos próprios joelhos. "Desculpa por ontem."

"Ontem?" Eu avistei o céu matinal lá fora. Perdi a consciência por tanto tempo? "Dylan, 'furioso' não define o que estou sentindo agora. Como pôde mentir pra mim sobre... sobre... tudo?"

"Gabe..." Dylan fez que ia me abraçar, mas a raiva nos meus olhos o fez se encolher. Ele suspirou, todo magoado. "O que quer saber?"

Eu abri o potão de sorvete e reguei com calda de chocolate. Senti que iria precisar.

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora