Capítulo 27

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Dois meses se passaram desde que Dylan recuperou sua forma terrestre. Desde então mantive cuidado, obrigando-o a banhar-se no mar todos os dias, mesmo que ele não achasse necessário. Às vezes passávamos a noite em sua caverna para que ele dormisse na piscina interna, que descobri ser sua verdadeira cama.

Apesar de tudo, mantivemos a piscina na sala. Trocar a água era complicado, especialmente após... certas atividades, mas desde que penhorei parte dos tesouros do Dylan dinheiro não era problema algum. Eu comprava caixas e mais caixas de sal, e aprendi a deixar a água com a mesma salinidade de água marinha.

Como eu vivia trancado em casa e isolado da sociedade, um mergulho frio com meu namorado tritão era o ponto alto dos meus dias.

As mordomias se resumiram, e tornaram-se ainda mais frequentes quando minha barriga dobrou de tamanho. Aos sete meses de gestação, meu ventre atingiu proporções assustadoras. Meu umbigo formava um biquinho para fora e a pele estava tão esticada que fazia um barulho seco quando eu batia, endurecida como uma pedra.

Meus joelhos, claro, não agradeciam o súbito ganho de peso, então eu passava boa parte do dia sentado. Michel garantiu que era normal, considerando-se as circunstâncias nada normais da minha gravidez. Na verdade a pressão na coluna e nos pés só iriam aumentar, e portanto precisei criar disciplina, e fazer os exercícios de gestação todos os dias. Dylan às vezes me ajudava, mas com ele era impossível seguir o programa até o fim. Minhas posições eram simplesmente eróticas demais, e os exercícios acabavam por relaxar o músculo errado.

Então, naquele momento, eu aproveitava a ida do Dylan ao mercado para fazer justamente isso: alongar meus músculos inflamados e tentar não morrer de tédio enquanto assistia meu centésimo filme pelo Netflix.

Eu olhei para fora através das frestas da cortina. O filete de sol matinal brilhou contra a minha pele, me fazendo perceber o quanto eu estava branco. Nunca me bronzeei dourado como o Alisson, mas sempre tive uma corzinha bonita, e naquele momento minha palidez começava a me chatear. Eu voltaria a ser o cara mais branco de Orla das Sereias, e sabe-se lá o quanto eu demoraria até dourar de novo, para ficar bonito para o Dylan.

Quando o crescimento da barriga se multiplicou, cheguei a temer que Dylan perderia o interesse em mim, mas até então tudo continuava normal, embora meu novo ritmo não permitisse nenhuma loucura. No fim, minha vida se tornou bastante rotineira, cheia de comida, filmes, sexo baunilha e consultas semanais.

Falando em consultas... eu verifiquei o horário no celular. Michel estava atrasado. Só ao perceber isso ouvi uma discussão na frente de casa.

Eu dei um suspiro cansado e sequei a testa após os longos exercícios. Quando eu poderia fazer meus check-ups com algum sossego?

Como eu previa, assim que abri a porta, me deparei com uma cena bem familiar no jardim da frente.

"Tentou invadir nosso território de novo, maculador. E na ausência do alfa deste núcleo." Dylan tremeu os punhos, que ainda carregavam as compras do almoço. "Quais seus planos com o meu predestinado?"

À frente do Dylan, Michel trajava seu habitual jaleco e óculos finos, e segurava um caixote preto que parecia bastante pesado. Ele deu um suspiro ainda mais entediado que o meu.

"Os mesmos planos de toda quarta-feira, peixe-boi. Verificar a saúde do Gabe e do bebê. Precisamos passar por isso sempre que eu apareço?"

Dylan rosnou e lhe apontou o dedo, afinando seus olhos de esmeralda.

"Não tente se aproveitar dele. Eu vou te matar e cortar em pedaços."

Michel enfim me percebeu parado à porta e resolveu fazer a coisa certa, que era ignorar o Dylan completamente. Ele acenou para mim todo sorridente e apertou minha mão em um cumprimento educado, enquanto entrava.

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora