Capítulo 23

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Por dez minutos agitei Dylan e gritei por ele, sem nenhuma resposta. Dylan sequer abriu os olhos e para piorar, sua respiração enfraqueceu.

Eu me debrucei na borda da piscina e continuei chorando, incapaz de pensar numa solução. Eu não podia perder o Dylan, eu morreria com ele, não iria suportar.

Enquanto eu chorava e minha barriga doía cada vez mais, um som de vibração veio do meu sofá. O meu celular. Alguém estava me ligando.

Eu atendi sem nem ver quem era.

"Gabe, fica calmo." Era a voz do Michel. "Acho que clonaram seu cartão de crédito."

Eu sentei no chão, tentando responder algo que não fosse um pranto angustiado.

"Quê?"

"Você comprou uma piscina na nossa loja online e pagou trezentos reais de frete. Você nem tem um pátio."

"Ah, eu..." Eu tentei responder, mas a choradeira não pôde ser vencida. Eu chorei em soluços sentidos, sem conseguir respirar.

"Gabe? Gabe, o que houve?"

"Me ajuda." Supliquei. "O Dylan tá muito mal... ele vai morrer bem na minha frente e eu não sei o que faço, se eu chamar alguém vão levar ele pra um laboratório ou sei lá e eu..."

"Calma, Gabe. Se acalma, tô indo aí."

Eu não consegui agradecer, só gemi alguma coisa e desliguei o celular, me sentindo completamente miserável.

Escorado na borda plástica, com a cauda inerte soltando escamas pela água, Dylan avermelhava cada vez mais em um tom doentio. Ele ofegava pesado, enquanto suor descia de seu rosto e o mover de seu peito se tornava mais e mais espaçado.


****


Quando abri a porta tomei um susto. Por um segundo pensei que fosse outra pessoa, mas realmente era o Michel, trajando um jaleco branco de médico com um estetoscópio no pescoço e uma maleta de couro na mão.

"Desculpa a demora." Falou ele, sem comentar o camisetão enorme que eu vestia. Aquele casacão de peles só faria Michel ter um paciente a mais.

Além disso, se Michel aguentasse a primeira grande revelação, ele suportaria qualquer outra reviravolta. Provavelmente.

"Michel, antes de entrar... quero que se prepare." Falei.

"Me preparar para que?"

"Eu só..." Respirei fundo, sem saber o que dizer. No fim apenas dei caminho e deixei Michel passar. "Você é o único em quem eu posso confiar."

"Por que o Dylan está numa pisci... ah, meu Deus." Michel derrubou a maleta no chão e recuou, aterrorizado.

"Michel, deixa pra surtar depois." Eu supliquei, segurando o seu braço. "Você precisa ajudar ele, por favor."

"Isso explica aquela mordida." Michel massageou a cicatriz cor-de-rosa na curva do ombro. "Não, espera, isso não pode ser real. Sereias não existem, seria totalmente contra as leis da biologia."

Eu suspirei. Muitas coisas na minha vida eram contra as leis da biologia.

"Dylan não é uma sereia, é um tritão. Por favor ajuda ele, Michel. Ele tá fervendo de febre e eu não sei a quem recorrer."

O olhar aterrorizado do Michel enfim desviou da cauda do Dylan e mirou nos meus olhos. Michel me encarou como se eu fosse louco.

"Quer que eu ajude um monstro marinho?" Perguntou ele. "Gabe, você lembra quando ele me atacou? E ainda assim escolheu conviver com essa coisa? Não, eu vou te tirar daqui agora, e você vai morar num lugar seguro."

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora