Capítulo 1

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Tudo teve início em uma segunda-feira de feriado. Segundas são sempre horríveis e nem o feriado conseguia acabar com essa superstição.

Peguei minha bicicleta e pedalei até o mar. O local ficava a poucos metros de onde morava. Entretanto, apesar da pouca distância, havia bastante tempo que ansiava em ter um momento só pra mim, por isso não via a hora de poder chegar ao meu destino. Conectei os fones de ouvido no meu celular e me desconectei do mundo.

Ao chegar, enterrei as rodas da bicicleta na areia e me sentei à sua frente. A calmaria me trazia paz. O barulho das ondas me fazia sentir a liberdade que elas transmitiam e que eu tanto invejava.

Por que a inveja?

Tinha tudo o que todos queriam. Uma família que me amava a sua maneira, me proporcionando o melhor conforto e qualidade que poderia ter. Uma faculdade de grande importância na atual sociedade, um trabalho que sustentava os luxos que um dia, pensava eu, iria usufruir e amigos agradáveis. O que faltava na minha vida? Ah! Era isso! Uma vida.

Era fim de tarde e me afastei dos banhistas que restavam na praia. Tive que andar um pouco na areia até chegar no meu lugar. Não queria que ninguém me visse, para não atrair olhares estranhos para mim. Minha mãe dizia que "a opinião das pessoas sobre nós, reflete o que estamos passando pra elas", mas isso pouco me importava no momento, eu só queria gritar.

AAAAAAAAH!

Gritei com intensidade para que minha voz chegasse ao fundo daquele mar, mas o vento estava tão forte que o levou como pó.

Chega um momento na vida de uma garota que ela é arrastada pra dentro de um furacão e tudo o que conquistou até ali é colocado em uma balança, onde é avaliado se é realmente aquilo que ela quer. Esse furacão é chamado de "dúvida" e essa balança de "e se?".

Naquele momento, eu estava presa dentro deste furacão e nada do que via era bom. Pelo menos nada do que realmente queria.

Minha vida era resumida em fazer o que as pessoas deduziam ser o melhor pra mim. Traduzindo, o que a sociedade dizia ser o melhor. Poucas vezes eu tinha voz ativa, meus amigos até me aconselhavam sobre isso, mas como minha avó sempre dizia: "É o melhor a se fazer, Dessa!". Porém, quando nos encontramos dentro desse furacão, a única vontade que temos é "chutar o balde" e desistir de tudo.

Não tinha tempo para nada. Do que adiantava ter tudo e ao mesmo momento não poder aproveitar? Estava cansada, exausta. Enquanto todos diziam que iria valer a pena, só queria poder aproveitar um fim de semana deitada, sem ser em frente ao computador ou um livro.

Por poucos instantes naquela tarde, eu podia.

Deitei apoiando minha cabeça na mochila que trouxe e me deixei ser submergida pelo som das ondas que com fúria parecia responder ao meu grito de socorro. Meus olhos fixaram o céu e pude contemplar sua graciosidade.

Como ele é infinito!

Já era tarde e a beleza do entardecer me envolvia. A natureza me encantava, pois tudo nela havia um sentido. Nunca uma andorinha duvidou do seu potencial, ela nasceu para voar. E eu? Para que nasci?

Não sei bem quando as lágrimas começaram a rolar no meu rosto, pois o vento continuava realmente forte. Porém se cheguei até ali, foi pra liberar sozinha tudo que estava dentro de mim. Estava me saindo bem quando comecei a ouvir passos e um barulho de conversas e risadas.

Não acredito!

Levantei para olhar e vi um grupo de adolescentes vindo em minha direção. Uma das garotas, ao passar por mim me encarou, mas não dei atenção.

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