Capítulo 20

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Ele fechou a porta e seguimos o corredor até a segunda porta frente à dele. Ao abrir vi que minhas coisas estavam todas lá. O quarto era menor que o antigo, mas minhas coisas se encaixaram bem ali. Minha cômoda, quadro de fotos, cama e a mesa com papeis. Fernando logo pulou na minha cama e deitou.

— Continua macia como deixou, senhorita.

Sentei ao seu lado e peguei meu travesseiro. Estava tão acostumada com o cheiro do hospital que estar ali sentada na minha cama novamente, cheirando meu travesseiro que ainda continha meu cheiro. Era sem igual.

— Sei que não é tão espaçoso quanto o antigo, nem tem uma sacada para os marmanjos cantar uma serenata pra você, mas ele é bom.

— Serenata? Por favor, Fernando deixa de ser brega.

— Verdade, verdade! No seu caso ele te ensina a tocar, não é mesmo? — e me deu uma piscadela.

— Fernando! — o repreendi.

— Para Andressa, eu sou idiota, mas não sou bobo. Sei como o André te olha.

— Eu nem conheço ele direito.

— Mas ele te conhece e vai dizer que o rapaz com pinta de roqueiro rebelde não é bonito?

— Ok, ele é, mas...

— E ainda ficou no hospital com você, olha só. Até eu me apaixonei!

Comecei a rir.

— Como você é ridículo. — ambos começamos a rir, até que paramos e tentei conciliar meus pensamentos — mas não é isso, eu...

— Vai me dizer que ainda pensa no otário do Leandro?

O olhei sem querer confirmar, mas sim. O Leandro não saia da minha cabeça, por mais que eu quisesse. Ele havia escolhido a Barbara e eu tinha noção disso. Fazia meses, até onde me lembrava que não o via, mas apesar de tudo, sentia sua falta. Será que ele sabia do meu acidente? Será que realmente havia me esquecido Provavelmente sim. Depois de tudo que vivemos, pensei que em algum momento ele havia sentido algo real por mim, algo que o faria ir até o hospital me ver, mas agora vejo que nada foi real. Acho que não passei de uma simples distração, de um caso. Ele era mais um da lista dos que não eram verdadeiros e eu precisava esquecê-lo.

— É claro que ainda pensa. — ele se virou pra mim — Ei! — me chamou — Olha pra mim e me escuta. Sei que não o cara que pode dizer esse tipo de coisa, mas você é minha irmã e to nem ai. O Leandro é um imbecil que usou você e seus sentimentos e depois te jogou fora que nem saquinho de picolé.

— Eu sei...

— Sabe, mas não sabe. Dessa, ele não vale a pena. Ele é como eu, entende? E caras como eu, não ligam muito para o que as garotas sentem, gostamos simplesmente de nos sentir desejado. Quanto mais você liberar e se deixar ser usada por esses caras, mas algo sem importância você vai significar. Por que garotas assim ficam registradas em nossa mente como aquelas que podemos ter a qualquer momento.

Fiquei parada sem palavras. Sabia que não significava nada para o Leandro e que para todos, não passava de um amante que mesmo sabendo de sua relação com Barbara, continuava dormindo com ele. Mas saber como sou vista na perspectiva masculina é ser taxada como algo ainda sem menos valor do que imaginava.

— Como você consegue? — desviei meu olhar para o chão.

— Eu sou homem, Dess. E só disse isso por que sou seu irmão e, não quero lhe ver sofrendo por um babaca qualquer.

— Na maioria das vezes os irmãos batem nos babacas, por que você não poderia simplesmente fazer isso. — minha voz soou irritada — Estou me sentido ainda pior.

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