Capítulo 31

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Na manhã seguinte acordei bem cedo para ir à praia com Sofia. Arrumei minhas coisas na bicicleta e assim fui. O ruim de ter me mudado, era que o bairro era mais longe da praia do que o antigo. Se antes gastava quinze minutos, de lá gastava quarenta.

Assim que cheguei, encontrei ela apoiada em sua bicicleta, vestindo uma bermuda e uma bata. Ela estava olhando seu celular, quando parei minha bicicleta próximo a ela, a assustando.

— Bú! — Gritei próximo ao seu ouvido.

— Que susto, Dess! — Sofia pôs a mão no coração com um semblante de quem havia visto um fantasma.

Comecei a rir.

— E ai, pessoa. — Falei enquanto recuperava o fôlego — Pronta para queimar as banha hoje?

— Só se for as minhas! Você é tão magra que parece pé de galinha.

— Vou relevar isso, por que você realmente veio. — começamos a andar pela areia, em direção a parte mais isolada da praia — Pelo tanto que insistir ontem, pensei que não viria.

— Você sabe que não gosto de praia e estou aqui por você!

— Não entendo essa sua resistência com o mar, olha como ele é lindo! — Paro e fico admirando as ondas e o barulho que me acalmava sempre.

— Não é o mar. A questão é vir aqui para pegar sol e ficar de biquíni na frente das pessoas. Eu fico muito sem graça.

— Relaxa que ninguém vai reparar em você e outra, estamos indo para a área mais isolada por isso mesmo.

Seguimos até o local e enterramos nossa bicicleta na areia. Estendemos a canga na área e colocamos também nossa bolsa. Tirei minha blusa e short. Sofia ficou me encarando como se eu fosse um bicho.

— Queria ter essa ousadia — comentou — Você não se envergonha de ter alguém te olhando assim?

— Já me olharam com nada então... — sugeri e ela balançou a cabeça envergonhada.

— Desculpe, eu sou muito sem noção.

Sentei ao seu lado sorrindo.

— Relaxa, eu que agradeço muito seu esforço de estar aqui comigo. Mas fica tranquila que ninguém vai te ver — ela olhou para os lados e não havia ninguém próximo a nós — aproveite o momento.

Ela assentiu e se levantou para retirar sua blusa e short, ainda desconfiada olhando para os lados, mas conseguiu. Colocou a mão sobre a barriga ainda envergonhada e se sentou.

— Você é linda sabia? — elogiei e ela corou tímida. — É serio! Quem me dera ter essas curvas. Suas roupas não te valorizam. Cadê as roupas que compramos?

Ela fez uma careta.

— Eu pensei em usar, eu juro, mas não me sinto eu nelas. Prometo tentar novamente, mas não prometo que será sempre.

— Está bem, uma vez já vale.

Ela sorriu.

— E ai? Vamos dar um mergulho? — Indiquei a água a nossa frente e ela concordou.

Corremos até a água que estava fria, sendo eu a primeira a mergulhar. Já Sofia ficou com as mãos cruzadas reclamando da temperatura da água. Comecei a jogar água nela, até que enfim ela mergulhou também. Ficamos ali brincando e conversando. Contei a ela sobre a experiência de tocar e ela me contou alguns casos da salinha das crianças onde ficava nos cultos.

Durante um tempo, parei pra nadar um pouco mais a fundo deixando Sofia na beirada. Estar ali me fazia refletir em como éramos insignificantes, tamanho a profundidade e intensidade do mar. Porém tudo age conforme o querer de Deus. O mar não ultrapassa seu limite, mas sabemos que não devemos defini-lo pela profundidade de sua borda, basta nadar ou velejar mar adentro que suas águas ficam ainda mais profundas. Assim somos nós na caminhada com Deus. Basta ter coragem e ousadia. O que eu não sabia era que sempre terá algo que nos fará provar nossa fé. Não tinha ciência do quanto minhas palavras e ações me fariam naufragar.

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