Capítulo 35

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Quando todos já estavam servidos, alguns aproveitaram até para repetir. Havia muita comida e deu até para nos comermos com eles. Avistei um senhor sentado, afastado do grupo e caminhei em sua direção. Deixei o avental e a touca na mesa e segui até ele.

No caminho me deparei com algumas risadas, de longe vi a silhueta de um casal vindo em minha direção. Chegando mais próximos, reconheço Pedro e uma garota. Pelo estado em que se encontram, estão embriagados. Tento não encarar, mas ele acaba me vendo e vem até mim.

— Olha quem vemos aqui! A garota mais espetacular que já conheci — falou para sua acompanhante — Dessinha!

— Oi Pedro! — saudei sem ânimo.

— A essa hora da madrugada, devo presumir que deve estar vindo de uma festa. Que tal irmos lá pra casa, a Yaya não sente ciúmes e a noite ficaria muito mais interessante. — propôs indecentemente, me deixando constrangida.

— Ela não está disponível, Pedro! — Falou Leandro ao meu lado, com a voz grossa e seria.

Pedro nos entreolhou e começou a rir.

— Ele de novo? — Perguntou gargalhando. Sua acompanhante, mesmo sem saber o motivo da riso, o seguiu — Pensei que tivesse deixado de ser idiota, Andressa. Mas vejo que burrice é mesmo seu ponto forte.

— Não estamos juntos como você está pensando Pedro. — Me defendi.

— Claro que não estão! — deu uma piscadela pra mim — Mas se estivessem eu não o julgaria meu amigo — ele soltou sua acompanhante e falou próximo a Leandro — Não dá pra esquecer uma noite com essa mulher. Quando a gente prova ela deixa um gostinho de quero mais.

— Seu... — arfei com raiva, indo pra cima dele, mas Leandro segurou minha mão, sinalizando pra eu parar.

Ao olhar pra ele, vi que estava focando em Pedro. Sua expressão estava fechada e sua mão apertava com força a minha. Ele estava se segurando também. Guardando dentro de si toda a raiva e vontade de quebrar a cara daquele garoto. Pedro percebeu a mão de Leandro e abriu um sorriso malicioso.

— Calma! — ele arqueou as mãos se rendendo — Mas isso você já deve saber. Vejo que hoje eu cheguei tarde demais, mas quem sabe outra noite, não é mesmo? — ele agarrou sua acompanhante novamente que riu. — Até breve casal!

Demorou alguns instantes, após a saída de Pedro para Leandro enfim soltar minha mão. Fiquei ali parada sem reação olhando para ele. Leandro estava de cabeça baixa e não fazia ideia do que se passava em sua mente.

Suas mãos estavam fechadas, mas consigo ver a força que fazia entre si. Quando levanta a cabeça, respirando fundo, ele pega novamente em meu braço, mas dessa vez me puxa para seu peito e me abraça forte. Como se eu fosse um urso que quisesse proteger das outras crianças destruidoras. Seu coração estava acelerado e sua respiração quente. Ele beijou meu ombro e sussurrou em meu ouvido.

— Perdão, Dessa!

— Eu te perdoo! — falei e o abracei mais contra mim.

Jamais passou pela minha mente que um dia iria pronunciar essas palavras, sem soar falsa ou irônica. Estava certa de que fui verdadeira. Depois de tudo que passamos, acho que enfim aprendemos com nossos erros. Ambos mudamos e seria tolice ignorar isso. Todos mereciam o perdão, Leandro também era digno dele, já que eu fui.

Ele não comentou mais sobre o ocorrido. Não me questionou ou me julgou. Quando me soltou, me acompanhou até o senhor que continuava sentado em cima do canteiro. Sentamos próximos a ele, que comia sua comida em silêncio. Leandro me perguntou se eu queria também comer e assenti. Ele buscou dois pratos para gente e trouxe também um litro de refrigerante com três copos.

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