Capítulo 5

267 48 14
                                    

O silêncio dentro do carro me trazia ansiedade. Sabia que a qualquer momento, minha tia iria disparar várias perguntas em cima de mim e estava com medo de não conseguir dar as respostas corretas. Não que tivesse alguma dúvida. Ele era bonito? Sim. Tinha um sorriso perfeito? Sim. Tinha um olhar que me deixava hipnotizada? Sim. Porém ele não era um cara com quem sairia ou fantasiaria. Se o visse em uma festa, eu seria a garota que logo sairia de perto, não por preconceito, mas por sermos diferentes e tenho certeza que ele pensava da mesma forma. Também por força maior da minha família. Ela iria pirar se soubesse que tinha um amigo com a aparência dele. Minha mãe fazia questão de controlar sempre com quem eu andava, pois de acordo com ela, eles também são nossa referência. No mundo dos negócios que eu estava prestes a entrar, deveria escolher bem as amizades corretas, caso no futuro precisasse delas.

— Então? Não vai me contar onde o conheceu? — minha tia quebrou o silêncio — Ou vou ter que esperar chegarmos em casa pra descobrir?

— Foi ele que me deu o bilhete que a senhora achou. Nada demais. — respondi sem tirar os olhos da estrada.

— Não parecia "nada demais" — gesticulou aspas com os dedos — quando ele veio atrás da gente.

— Ele só queria ser gentil e ter uma oportunidade pra fazer o convite para a reunião de sábado — olhei seria para ela — e a senhora caiu como uma patinha.

— Talvez. Quem sabe seja porque ele quer te ver. — ela deu um sorriso presunçoso e eu voltei a olhar pra direção.

— Não estou gostando do rumo que esta conversa esta seguindo.

— Dessa, esse é o tipo de garoto que sonho pra você.

— Ah! Corta essa tia — tentei interrompê-la, mas ela continuou.

— Mesmo que ele não tenha uma aparência muito... — tentou buscar palavras — agradável de primeira vista — soou meio envergonhada, com o tom baixo — mas seu jeito gentil e simpático, mostra que aparência não tem nada a ver com caráter.

— É serio que estamos falando sobre isso? — perguntei irritada. — Não acredito que você me levou pra lá pra tentar dar uma de fada madrinha.

— Claro que não! Eu só pensei que...

— Pensou nada! — falei irritada.

Pus a mão na cabeça na tentativa que fosse amenizar minha raiva. Ela era a tia que mais gostava, não queria ser grossa com ela, nem descontar nela o que estava sentindo.

— Tia — respirei fundo. Ao olhar, vejo que está assustada.

O que você esta fazendo? Essa não é você! — diz a voz na minha mente.

— Desculpe! — arfei arrependida.

— Você quer me contar alguma coisa? — sua feição voltava a ser compreensiva.

Pensei um instante.

— Não! — Menti.

Não queria contar pra ela que tinha ficado com Leandro, mesmo depois de tudo que ele me fez passar. Ela não ia gostar nem um pouco de saber disso. Só ela sabia como ele já havia me feito sofrer. Foi ela que me ajudou, quando já não sabia mais o que fazer. Me incentivou a dar um basta, mesmo depois de tanto ceder a ele.

No fundo ela sabia que eu não havia o esquecido, porém tinha tanta esperança em mim que não queria magoá-la.

— Você sabe que pode falar o que quiser comigo, não é? — Colocou sua mão em meu ombro como um gesto de carinho.

Palavras ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora