Capítulo 15

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"No início era o verbo e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus" João 1:1

Tudo se definia em um infinito breu. Não conseguia ver nada na minha frente, atrás, dos lados, em cima ou embaixo. Não conseguia me ver. Tentei gritar, mas nenhum som saia da minha boca. De repente percebi buracos de luz se formar a minha frente. Uma luz forte e radiante, mas que não conseguia iluminar todo o local. Era como estar dentro de uma caixa, sendo perfurada por um prego, essa luz parecia perfurar a escuridão. Senti certo receio pelo o que poderia encontrar quando a luz invadisse completamente o local onde estava.

Enquanto o tempo passava acabei me acostumando com o conforto que a escuridão me trazia, a luz sim era o que me causava medo. Então percebi que minhas mãos estavam levantadas, tampando dois buracos. Meus dedos refletia uma cor avermelhada e ao separar meus dedos, raios de luz conseguiram sair, revelando um pouco de mim. Vi que simplesmente brilhava e estava vestida de branco. Criei coragem e devagar tirei minhas mãos dos buracos e de repente a parede caiu na minha frente. A luz forte me tomou e mais uma vez não consegui enxergar. Senti um vento forte ao meu redor, acabei me desequilibrando e caindo de joelhos.

Estava de cabeça baixa com medo de ver o que estava na minha frente. Mas minha curiosidade era maior, sendo assim devagar tentei abrir os olhos. Olhei para mim e percebi que a parte que antes brilhava era meu coração, mas agora estava vazio e minha roupa totalmente suja. Levantei minha cabeça e me deparei frente a uma cruz. Não havia ninguém nela, mas estava coberta com sangue. Me achei indigna de ir até lá.

Escutei atrás de mim o som de uma multidão de pessoas gritando, e o chiar de chicotes estalando em algum animal. Olhei para ver o que era e vi que não é um animal e sim um homem, todo ensanguentado e segurando consigo um pedaço de madeira. Em sua cabeça tinha uma coroa de espinhos e ele não dizia nada. É Jesus! Sim, olhei novamente para cruz e logo entendi a referência, ele estava sendo levado até lá. De repente apareceu uma multidão ao meu redor, mas não faziam nada.

— Não! — tentei novamente gritar — Ele é inocente!

Levantei e tentei afastar a multidão a minha volta. Era muito difícil, parecia aquelas pessoas em shows quando você tenta chegar mais próximo do palco, mas finalmente consegui. Comecei a gritar com os soldados pra pararem de baterem nele, pois Ele não tinha culpa, mas era em vão. Eles não me escutavam. Tive a ideia então de ir até ele. Andei devagar e parei ao seu lado. Consegui ver sua face dali. Ele estava todo machucado, e via cuspis em seu rosto e corpo. Sangue misturado com terra. A coroa em sua fonte perfurava sua carne. Percebi também o quão pesada era a madeira em suas costas — coloquei a mão na boca chocada. — ela estava em carne viva — Era tão doloroso que sentia agonia em mim.

Timidamente alisei seu rosto e todos a nossa volta pararam.

— Por favor, pare! — Implorei — Você não merece isso, eu mereço estar no seu lugar. Olha pra mim — indiquei a sujeira do meu corpo.

Ele olhou pra mim com um olhar terno, como se conseguisse ver dentro de mim. Via meu passado, meu presente e meu futuro. Quem eu realmente era. Então Ele sorriu. Com dificuldade, sem deixar cair o pedaço de madeira que tentava segurar, tirou um lenço amarrado em sua cintura, todo ensanguentado.

— Vai precisar para se limpar! — disse me entregando.

Sua voz era doce e me trazia paz. Ao pegar o lenço, tudo voltou a se movimentar. Com dificuldade Ele caminhou em direção a cruz. Olhei para o lenço em minhas mãos, o abri e vi que tinha algo escrito.

"Essa é a minha prova de amor por você!"

Ele me pegou de surpresa e algo dentro de mim se contraiu, em uma dor profunda que me fez cair de joelho, então comecei a chorar. Comecei então a pensar que durante muito tempo procurei um amor e Ele sem nenhum motivo ou explicação fez isso por mim. Ele me amou e não desistiu no caminho. Esse amor me constrangia, pois mesmo não merecendo, mesmo duvidando, Ele continuava me amando. Não por algo que eu possuía ou que fazia, Ele simplesmente me amava. Vi então que durante todo esse tempo depositei meu amor nas pessoas e nas coisas erradas. Ele só queria que eu pudesse O amar como Ele me amou se entregando naquela cruz. E nesse momento, entendi que valeria apena devolver meu amor para a pessoa certa.

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