Capítulo 9

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Naquela noite a palavra da reunião não saiu da minha mente. Mesmo depois de tanto estudar. Quando fui me deitar, as palavras de André e de todos ficaram martelando na minha cabeça, me impedindo de dormir.

Será que realmente Deus me amava?

Ou melhor, será que Ele realmente existia?

Era uma forma um tanto louca, um Deus mandar seu filho ao mundo por um bando de gente que nos dias atuais, o zombam e o ignoram. Pra mim Jesus, não passava de uma lenda. Sabe aquelas histórias gregas? De deuses e blá, blá, blá. Então! Porém, aquelas histórias viraram lendas, Cristo além de cortar a linha do tempo para antes e depois dEle, sua história não havia sido cessada com o tempo. Talvez Ele fosse real, como aqueles jovens acreditavam, mas eu não tinha tanta certeza. Por que Ele me amaria? Morrer por mim? Era tão injusto.

Peguei meu celular e coloquei pra tocar a primeira música da lista que Sofia havia me enviado. A música era de uma cantora chamada Roberta Spitalleti chamada "Estrangeiro"

Você já passou por uma situação na sua vida, quando a letra de uma canção te responde e lhe traz clareza sobre a confusão que está em sua cabeça? Quando ouvi essa canção, tive que por para repeti-la várias vezes para saber se ela era real. Era como se fosse uma resposta para minhas dúvidas.

Assim como Cristo, talvez eu também não fosse daqui. Queria algo a mais, algo que preenchesse as lacunas do meu coração. Como uma águia sem saber voar ou como o peixe fora d'água, não estava me sentindo feliz com a vida que levava. Talvez, fosse porque aquela realmente não fosse a minha vida. E sim, a vida que meus pais queriam pra mim. Não eu! A vida era curta demais e estava desperdiçando não sendo quem realmente queria ser.

Eu era falha? Sim. Sorria por obrigação? Sim. Queria ser outra pessoa? Sim. Deixar tudo pra trás e ter uma nova vida? Sim, com certeza!

Então me vi deitada, uma hora da madrugada, cheia de dúvidas, mas sabia muito bem a quem recorrer. Porém, enquanto elas não eram respondidas, iria continuar ouvindo aquela canção. Podemos concluir que naquela noite eu não conseguir dormir direito. Minha cabeça parecia uma criança birrenta, me fazendo várias perguntas que não fazia ideia do que responder.

Quando vi que tinha amanhecido e que não adiantava mais querer dormir. Tomei um banho e comi algo na cozinha e fui para meu encontro com Eduardo. Sua casa ficava em um conjunto residencial onde os prédios precisavam de uma reforma — diga-se de passagem — eles estavam pichados e o que restava da pintura, estava gasta e cheias de lodo. Provavelmente devido ás infiltrações. O apartamento era o 103, que ficava no último andar. Se do lado de fora o prédio parecia abandonado, por dentro era ainda pior. O corredor era sujo e escuro. Na porta havia uma placa que dizia "ENTRE SEM BATER".

Era um cara corajoso!

Tinha que admitir.

Ao entrar, me deparei com alguns garotos jovens, sentados em um sofá jogando videogame. Não reparam minha presença, sendo assim tenho que falar primeiramente.

— Quem é o Eduardo? — perguntei alto e firme.

Sem olhar pra mim, um deles apontou para o corredor.

— Primeira porta a direita — ele respondeu.

Segui até a porta e sem bater, entrei. Um garoto oriental estava sentado em frente a uma mesa com um computador. Logo que me viu, abriu um sorriso e reparei que ele usava óculos e tinha o cabelo liso totalmente bagunçado.

— Sabia que era você — falou contente.

— Já me esperava? — questionei.

— Foi uma surpresa ter chegado antes, mas a agência me disse que você era ansiosa. Presumi que viesse antes da hora marcada.

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