Capítulo 39

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André

O mundo dá muitas voltas. Certas voltas são feitas tão rápido que duram minutos de nosso valioso tempo. Quem imaginaria que após uma briga, o fim da noite acabaria como se nada houvesse acontecido? Chega a ser engraçado. Ainda mais engraçado, é meu desempenho de demonstrar que estou bem, quando na verdade o mundo está caindo ao meu redor.

Admito que não sou bom em muitas coisas, como por exemplo: não sou bom em acreditar em mim, em firmar relacionamentos, em ser um bom filho. Confesso que na maior parte da minha vida, após a morte do meu pai, tentei mostrar ao mundo que não precisava de ninguém, minha vida só dependia de mim mesmo. Não consegui ter meu padrasto como um pai, não que ele tivesse feito algo contra mim. Não sei o motivo. Coisa de adolescente rebelde, quem sabe?

Quando me deparei com Deus foi algo diferente, ele me mostrou um caminho de verdade, mudança e transformação. Ele me confrontou e me mostrou que eu era um "zero a esquerda" sem Ele. O pastor Paulo acreditou em mim, as pessoas daquela igreja acreditaram e por certo momento eu também acreditei, o suficiente para trazer minha irmã para o nosso meio.

Rebeca.

Hoje vejo que ela se saiu melhor do que eu, nesse papo de acreditar.

Contudo, como ia dizendo, eu não sou bom em muitas coisas, mas em uma coisa eu sei que sou bom: em fingir que estou bem. Tenho minhas duvidas se isso seria uma qualidade, afinal, as pessoas nunca sabem quando estou mal. Não de verdade. Não quando quero. As pessoas conseguem acreditar em mim, acreditar no que digo, no fim consigo as manipular com minhas palavras de tão convincente que sou.

Deve estar pensando que sou uma pessoa ruim. Na maior parte do tempo também penso como você, mas uma pessoa viu este meu "defeito" como uma qualidade. Não à minha farsa, mas o meu bom uso de palavras. Utilizei essa qualidade para chegar à liderança de jovens, mesmo não me vendo a pessoa ideal para cargo. Eu acreditei em Deus, o temi e admito que o amei, ou melhor ainda o amo. Porém o mundo dá voltas, às vezes mais rápido do que imaginamos.

Certa vez me chamaram de mentiroso e que eu deveria morrer. Não culpo essa pessoa por ter dito isso, na hora demonstrei estar calmo e compreensível, pois aquele momento exigia isso de mim. Confesso que até hoje não chegou o momento de falar sobre isso.

Talvez eu tenha mentido algumas vezes, mas o ruim de mentir é que em todos os momentos ela nos coloca contra a parede e nos acusa, e não temos armas contra ela, pois sabemos que é verdade. E foi.

Não foi era primeira vez que ouvi sobre ela. Não era primeira vez que Andressa comentou sobre Ana. Nem a segunda ou terceira. Menti quando revelei a forma como nos conhecemos. Aproveitei sua falta de memória para cobrir o rastro da minha vergonha, mas não conseguia mais segurar isso dentro de mim. A todo instante, vestígios daquela noite voltavam para me atormentar. Assim como tudo que fiz antes de tentar mudar. Os crimes cometidos, erros que não se apagaram e que não há como voltar atrás para mudar.

Existia um André que ninguém conhecia...

E Andressa, bem... Andressa não poderia conhecê-lo! Ela confiava em mim e me olhava como se eu realmente fosse especial. Não queria decepciona-la de novo.

Não! Eu não vou decepcioná-la de novo.

Sabia que havia mentido pra ela de novo. Como ela confiaria em mim depois de tanta falsidade?

E naquela a noite, depois daquele momento, eu consegui ficar bem. Como sempre mantive minha postura até o fim da noite, mas por dentro eu não queria permanecer lá. Quando todos resolveram ir embora, prontamente disse "sim!". Não aguentava mais ficar lá, minha mente me atormentava, mas não poderia sair antes se não causaria alguma suspeita, então agi normalmente e continuei lá.

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