Capítulo 27

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Ao chegar em casa liguei para Sofia para passar a noite lá. Preparei algo para comer, pois não sabia como, toda vez que chegava da reunião estava com uma fome enorme. Assim que Sofia chegou, ela me olhou com uma cara estranha e recusou tudo o que fiz.

— Você está doente? — perguntei enquanto comia.

Ela me olhou com um olhar de criança birrenta, que quer algo, mas recusa mesmo assim. Achei estranho, pois se tem uma pessoa que compete comigo em relação a comer, era ela.

— Por que você faz isso comigo em Dess? — reclamou, cruzando os braços.

— O que eu fiz? — falei com a boca cheia, sem entender.

— Eu...Eu... — gaguejou — Não é bom ficar por ai falando aos quatro ventos, mas eu vou falar por que você é nova nisso e sei que não tem culpa. Mas é que estou de jejum.

— Jejum? — repeti sem entender.

— É, quando ficamos sem nos alimentar durante certo período e consagramos esse tempo a Deus. A gente ler a palavra e ora, ou seja, matamos nossa carne e alimentamos nosso espírito. — me explicou — Mas devo confessar que quando estamos de jejum é quando mais somos tentados. Tudo tem um cheiro melhor e aparece comida de até onde Deus dúvida.

— Mas pra que isso? — Perguntei curiosa.

— Fazemos isso com um propósito sabe, por um pedido especifico. É a forma como lutamos no mundo espiritual, nossa oração se fortifica e assim vencemos.

— Você sabe que falando assim parece até aquelas séries que falam sobre coisas sobrenaturais, não é?

Ela revirou os olhos.

— Dess, saiba que assim como Deus existe cremos também que existe um mal. Só pelo fato de você se ver suja e ser acusada no seu sonho, como me contou, já é uma prova de sua existência. Jesus veio trazer luz a esse mundo de trevas. Certas pessoas precisam que lutem por elas.

— Mas essa pessoa por quem você jejua, vale realmente o sacrifício? — a questionei.

A porta da sala se abriu e Fernando entrou todo molhado, atraindo nossa atenção, jogando a bolsa no canto da porta e ao nos ver, sorriu.

— Hum! — gemeu, ao sentir o cheiro da comida — Que cheiro maravilhoso, batatinha.

— Por que está todo molhado desse jeito? — perguntei.

— Meu carro quebrou e tive que vir embora de ônibus. Acabei de saber que o ponto não fica tão próximo assim da nossa casa. — Ironizou, indicando seu estado.

— Nossa! — comi outra garfada e ele tirou a camisa, o que deixou Sofia sem jeito.

— Vou tomar um banho e já desço. — Avisou indo em direção à escada — E boa noite pra você também, Sofia! — sinalizou de costas pra nós.

Olhei para ela que ainda o observava. Ao reparar meu olhar ficou toda sem graça.

— O que há com vocês dois? — questionei largando o garfo sobre o prato.

— Nada. — Mentiu — Mas respondendo sua pergunta, por certas pessoas vale a pena sim o sacrifício.

A noite foi divertida. Demorou um pouco para o clima entre Sofia e Fernando passar, mas assim que coloquei um filme romântico e os forcei a ver, ele foi para o ralo. Fernando ficou zoando Sofia e a mim, enquanto chorávamos no meio do filme. Fazendo-nos rir em meio às lágrimas e após escolher o próximo filme, o qual era de ação e nós duas quase pegamos no sono com a chata da história, fomos interrompidas por suas pipocas voadoras.

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