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Transformada.


- Eu preciso de uma bebida.
Fui colocada no chão com cuidado antes que Eduardo caminhasse cegamente para a cozinha, onde certamente estaria o álcool de que ele precisava. A sua expressão me preocupava além do que eu gostaria de admitir e, ainda que eu estivesse furiosa por ele ter proferido todas as palavras que destruiriam as nossas vidas, deixei-me segui-lo para garantir que ele não fizesse nada drástico.
Eu deveria contar quantas horas eu tinha antes de tudo começar. Os arrepios e as fisgadas no estômago eram um indicador, mas eu não conseguia prestar atenção neles quando a mágoa de Duda e todas as palavras malvadas de Alice, tanto as direcionadas a ele, quanto a mim, estavam me impedindo de fazer qualquer outra coisa que não fosse me preocupar.
Miei, alertando o ruivo de que estava chegando e o assisti virar uma garrafa azul diretamente em sua boca, pouco se importando em pegar um copo ou qualquer outro recipiente. Apesar de parecer desesperadamente triste, Eduardo não parecia capaz de machucar a si mesmo.
Não me aproximei, continuando a encarar o seu perfil, esperando que ele me notasse. Depois de alguns bons minutos, a garrafa continuou a ser esvaziada sem que um olhar sequer fosse direcionado a mim. A dor dele estava imensa e isso fazia com que meu coração se partisse em pedaços.
Se antes de conhecer Alice eu já me perguntava o que alguém tão especial como Eduardo via nela, agora, depois de ouvir a sua voz e saber o quão desagradável ela conseguia ser, me levava a pensar qual qualidade aquela mulher poderia ter para deixar meu dono entregue daquela maneira.
- Eu odeio você, Alice... Eu odeio... te amar - ele soluçava alto. Os sons eram parecidosdemais com os que eu ouvira no meu beco naquela noite e, por isso, tive de sair da cozinha e o deixei sozinho. Eduardo precisava de um tempo para chorar sem alguém por perto. E eu precisava de uma saída.
A cada instante as fisgadas em minha barriga pareciam se intensificar, e a única coisa que eu sabia era que não poderia ser vista por ninguém quando tudo começasse.
Eu ainda era capaz de me lembrar o que ocorrera da última vez. Se fechasse os olhos, ainda podia sentir as ondas de horror, fúria e decepção me acertando com força. Eu não desejava jamais ter aqueles sentimentos atirados contra mim novamente.
Nunca mais.
Arrependi-me de não ter conseguido fugir quando tivera a chance e, por mais que quisesse procurar uma saída, a dor da transformação começava a me fazer ficar impossibilitada de formar qualquer movimento.
Meus membros começavam a coçar e meus ossos doíam, como se alguém brincasse de puxá-los, apenas pela diversão de alongá-los.
A dor fazia com que meus olhos se fechassem. Minha boca soltava gemidos silenciosos e desesperados. Por mais que eu quisesse amaldiçoar Eduardo por ter dito as palavras proibidas, não fui capaz de juntar forças sequer para chegar até o sofá, me jogando no tapete felpudo, sentindo o meu coração bater cada vez mais depressa, apertando-se, e dando a sensação de que crescia dentro do meu peito.
Eu fizera os cálculos errado. Acreditara, fielmente, que tinha ao menos uma hora antes de tudo começar, mas estava errada. Em quinze minutos ou menos eu estaria exposta, assim como o meu segredo. Não havia nada que eu pudesse fazer para evitar isso.
Respirei fundo, desejando fazer a sensação parar. Nada aconteceu. A dor continuava. Busquei implorar aos céus, aos felinos de todas as magnitudes para que minha transformação parasse. Mas a dor continuou.
Aceitei meu destino, enfim.
Minhas unhas se encurtavam, minha pele se esticava, minhas patas doíam. A sensação era horrível, assim como indescritível. Se me rasgassem ao meio, certamente doeria menos. Se costurassem a minha pele com cerol ainda assim a dor não seria tão intensa.
Uma lágrima escapou de meu olhar e apertei ainda mais os olhos, desejando não ver a mim mesma. Desejando, de alguma maneira, não mais existir, em nenhuma das formas possíveis.
Entretanto, quando abri os olhos novamente, não havia mais dor.
E isso nunca era uma coisa boa.
Um leve desconforto ainda me assolou na forma de um arrepio discreto, mas foi apenas o indicador de que tudo havia terminado. Da pior maneira possível.
Coloquei-me de pé, na esperança de que os momentos finais e dolorosos da transformação não tivessem me feito gemer alto e atrair a atenção de Eduardo. Vê-lo era a última coisa que eu queria no momento. O som da garrafa batendo contra o mármore do balcão soou novamente e agradeci pela sua atenção estar completamente voltada para a sua própria mágoa com suas bebidas.
Um novo arrepio me percorreu e notei que estava tremendo de frio.
Meus pés não sabiam como se mover direito. Ser bípede não era uma experiência nova, mas havia, pelo menos, cinquenta anos que eu não era transformada, então demorei alguns minutos antes de conseguir chegar até perto da porta onde o agasalho e a pasta ainda estavam caídos.
Com uma dificuldade imensa, consegui colocar os braços através das aberturas no fofo tecido azul, e quando comecei a tentar descobrir o que fazer com o zíper, a voz de Eduardo começou a soar na cozinha. Não se lamentando nem chorando, mas me chamando.
A estranheza em estar em dois pés ainda me deixava confusa. Eu parecia alta e não sabia direito como movimentar meus novos membros. A única coisa que eu podia fazer era esperar que a transformação não durasse muito.
A tela da televisão, agora desligada, refletia a minha imagem. Ali, me enxergando, nunca me senti tão consciente da minha própria figura. Foi impossível não comparar o que via com a mulher que estava naquela mesma sala há poucos minutos.
Minhas pernas nunca seriam tão longas quanto as delas, nem meus cabelos tão brilhantes, já que eles tinham aquela cor estranha e indecisa entre louro e castanho. E, ao invés de me portar segura e ereta como Alice, lá estava eu enrolada em mim mesma, vestindo apenas o agasalho de Eduardo.
Eu era ridícula como gata e ainda pior como humana.
O que meu dono pensaria quando descobrisse que sua gata havia virado uma humana no meio da sua sala? Uma humana não tão atraente e que ainda roubara suas roupas?
- Kitty, eu... - estava analisando meu corpo através do reflexo quando Eduardo apareceu na porta da sala. Os olhos vermelhos pelas lágrimas derrubadas por Alice se arregalaram ao me ver ali.
Não poderia culpá-lo. Havia uma desconhecida seminua no meio de sua sala.
- Quem é você? Como entrou aqui?
Nenhuma resposta saiu de meus lábios. Fui obrigada a abaixar a cabeça, me sentindo ainda piordo que já me sentia. A situação certamente não tinha como ficar pior. - Eu perguntei como entrou aqui. Responda! -perguntou o ruivo, que parecia incrivelmente fora de si. O fofo e adorável Eduardo havia desaparecido e em seu lugar havia uma pessoa firme que eu desconhecia. E que eu não tinha tanta certeza assim se queria conhecer.
Porém, mais uma vez, não pude responder à sua pergunta. Assim, ele avançou pela sala em passos largos, agarrando meu braço da mesma maneira que Daniel fizera há algum tempo. Eu conhecia aquele toque, sabia como era aquela maneira de agir.
Por alguns segundos foi como se eu tivesse voltado no tempo e estivesse diante de meu antigo dono e amor novamente, pronta para ser jogada na rua, sentindo o meu coração se despedaçar ao mesmo tempo em que a fúria de Daniel crescia.
Eu passara tanto tempo desejando encontrar uma maneira de sair da casa de Eduardo e acabara recebendo o que queria quando menos esperava. Entretanto, seus olhos não expressavam nojo como quando Daniel me enxotara. Talvez o álcool em sua mente o estivesse impedindo de entender o que realmente havia acontecido ali.
Senti a mão quente de Eduardo se fechar em meu braço e foi como se eu tivesse levado um choque. O calor de sua palma aqueceu todo o meu corpo. Pude ouvi-lo respirar fundo quando me tocou, como se a mesma onda que havia me abalado, também o tivesse atingido.
- Quem é você?
A sua voz era mais suave agora, confuso e curioso. Não tão furioso como antes, mas ainda assim, deixei que ele ficasse sem resposta.
Eduardo demorou um bom tempo encarando meus olhos antes de, finalmente, notar que eu estava seminua. Além disso, como não havia conseguido fechar o zíper do agasalho, meu corpo estava exposto aos seus olhos, que examinaram meus seios, pernas e todo o resto, fazendo com que eu ficasse completamente envergonhada.
Não pela nudez, mas por ser tão diferente de Alice. Tão patética.
- Responda - ele foi ainda mais suave dessa vez, tentando conseguir a sua resposta de outra maneira, já que a agressividade não funcionara. - O que você está fazendo nua no meio da minha casa? -
Suas íris castanhas encaravam as minhas e eu devolvi o olhar com a mesma intensidade.
Seus olhos nunca estiveram tão brilhantes. E seus cabelos ruivos estavam tão deliciosamente bagunçados, me dando a certeza de que foram desordenados enquanto a bebida o ajudava a se frustrar ainda mais.
Eu tinha dedos agora. Poderia passa-los pelas mechas vermelhas se quisesse.
Oh, e eu queria!
Meu corpo humano respondia mais às minhas emoções do que meu corpo da época do golpe de 64, uma das minhas melhores transformações. Eu ainda não era muito hábil em controlar meus movimentos, na verdade, mal me lembrava como controlar meus membros, mas eles sabiam exatamente o que eu queria deles no momento.
E ainda que meu cérebro soubesse que era errado, não pude me conter.
Meus dedos tocaram o cabelo de Eduardo e o homem à minha frente me encarou com o dobro de firmeza. Não dúvida. Muito menos nojo. Apenas me encarou. E continuou com seus olhos castanhos fixos nos meus enquanto meus dedos, que se moviam de acordo com meu coração, não minha mente, deslizavam por seu rosto, afastando mechas ruivas de sua testa, roçando suas bochechas vermelhas e passando por seu pescoço esguio, sentindo-o estremecer de leve sob meu toque. Incerta, minha mão parou em seu ombro.
- Seus olhos são como olhos de gato. São lindos.
Eu ri, e o som assustou a mim mesma. Era novo. Tão diferente dos meus sons felinos que me fez rir de novo, feliz por ouvir minha voz daquela maneira. A ironia da situação ajudou a risada a se prolongar. Eduardo não tinha ideia de que não eram apenas meus olhos que eram como os de um gato.
Levantei a cabeça para encará-lo, já na espera de um olhar confuso por ver a louca seminua rindo sem propósito algum, mas meu dono estava sorrindo.
- Eu não deveria estar aqui, bêbado, prestes a beijar a mulher mais bonita que eu já vi. Até porque, você é totalmente desconhecida e está vestindo só meu agasalho, na minha sala de estar.
A enorme quantidade de informações em uma frase só, dita naquela voz tão suave de Eduardo, tirou a minha concentração e, ainda que ele tivesse avisado suas próximas ações, não fui capaz de recuar ou pensar racionalmente.
Quando os lábios quentes de Eduardo Molina tocaram os meus, eu me senti viva como jamais me sentira.
Eu tinha lábios. E eu poderia fazer com eles mais do que Alice, a dona dos lábios que eu invejara recentemente, fizera. A boca de Duda tomou a minha inteiramente e a sua língua entrou em minha boca. Eu não sabia direito o que estava fazendo, ou porque me deixava fazê-lo, mas
correspondi e me obriguei a ficar calma, mesmo com o coração palpitando alucinadamente, repetindo seus movimentos e, sem me dar conta, colocando uma mão firme ao redor do seu pescoço, deixando a outra se apoiar em seu ombro.
Eduardo e suas mãos quentes eram tudo o que eu tinha naquele momento. Seu beijo era tudo o que eu desejava. Eu era humana e, por pelo menos aqueles segundos, era de Eduardo Molina como jamais fora de mais ninguém.
Suas palmas estavam na minha cintura e ele teve de interromper o beijo por alguns segundos para elogiar a maciez da minha pele, antes de voltar a me beijar novamente, com ainda mais ímpeto dessa vez. Seus dedos estavam por dentro do agasalho, indo e vindo sobre a minha pele. Eu podia sentir acender e incendiar cada ponto onde sua pele tocava a minha.
Os beijos de Duda não eram como os beijos que eu vira na televisão mais cedo. Eram mais suaves, mais precisos, mais doces.
E então me dei conta de que poderia passar mais quatrocentos anos beijando o ruivo e ainda não me cansaria disso.
- Moça, eu...
Afastei-me de Eduardo de uma vez. O que eu estava fazendo? Eu, mais do que ninguém sabia como tudo terminava. Se forçasse a memória poderia até mesmo ouvir a voz de Daniel me colocando para fora de sua casa e de sua vida. Então por que eu estava me deixando levar daquela maneira?
Corri para perto da porta e quando estava pronta para abri-la, Eduardo me puxou, afastando-me dali. Já estava pronta para ser grosseira quando Eduardo apontou para a minha situação seminua.
- Fique aqui, eu já volto.
E ao invés de aproveitar o afastamento de Eduardo para fugir, eu simplesmente continuei ali, parada, esperando o seu retorno. O que aquele homem tinha que me deixava tão vulnerável perto dele? O que ele tinha que me fazia tão malditamente consciente de quem eu era e como isso era horrível?
O meu suposto dono não demorou, logo retornando com uma calça larga de moletom e uma camiseta do Batman que ficaria enorme no meu corpo, mas que parecia tão confortável que não tive coragem de rejeitar quando as peças foram estendidas na minha direção.
- Eu realmente não sei o que eu estou fazendo. Eu deveria perguntar porque você não me responde ou simplesmente porque está nua e como entrou aqui, mas há algo em você que não me deixa pensar direito. Como um ímã, me puxando para mais perto, fazendo minhas mãos coçarem por vontade de tocar a sua pele - Eduardo suspirou e deu um passo para trás, despenteando ainda mais o seu cabelo tão ruivo. - Eu devo estar muito bêbado.
Não resisti a sorrir enquanto segurava as roupas apertadas contra o meu peito. O cheiro dele emanava das peças e tive que admitir que, naquele momento, ele ganhara muito do meu respeito.
Naquela casa ainda havia muitas peças de Alice que poderiam servir em meu corpo melhor do que as dele, mas, ainda assim, ele pegara de suas próprias roupas para me dar. Eu e Alice não éramos a mesma pessoa e Eduardo, mesmo bêbado, não nos tratou como iguais. E isso fez toda a diferença.
Molina se virou de costas, deixando claro que desejava que eu me trocasse e, sorrindo, fiz o que ele me sugeria, retirando o seu agasalho e depois o colocando por cima da camiseta.
Quando já estava devidamente vestida, entretanto descalça, o que para mim não era nenhum problema, emiti um som estranho e isso foi o bastante para meu dono saber que eu já havia terminado. Assim, ele voltou à sua posição normal, com os olhos fixos em mim e um sorriso adorável em seus lábios.
- Eu... te levo para casa - começou ele, mas apressei-me em negar a sua oferta. Eu meio que já estava em casa. -Por que não? Você não me parece muito bem, um pouco confusa. Quem sabe, eu...
Segurei sua mão com ansiedade e fiz que não com a cabeça mais uma vez. Seu rosto assumiu um ar de compreensão e logo ele estava sorrindo, afastando a minha franja da frente dos meus olhos antes de dizer:
- Seria bem legal se você realmente falasse comigo, sabe? Eu não entendo linguagem de sinais.
Oh, como se eu entendesse.
Coloquei-me na ponta dos pés e dei um beijo em sua testa, sorrindo quando abri a porta, pronta para partir. Eu ainda estava admirando seus olhos fechados e seu sorriso dividido entre confuso e satisfeito. E, antes que pudesse alcançar a porta novamente, meu braço foi preso pelas suas mãos
quentes e seus olhos puros e castanhos se perderam de novo nos meus.
- Você não pode me dizer ao menos o seu nome?
Neguei de novo e dessa vez consegui me libertar, abrindo a porta e puxando a grande tranca do portão, fechando-a atrás de mim sem sequer olhar para trás. Senti meu coração bater com tanta força que era até capaz de ser ouvido de dentro da casa.
Ainda não compreendia tudo o que tinha acontecido. Meus lábios ainda guardavam o sabor de Eduardo e suas roupas aqueciam meu corpo, deixando o seu cheiro em mim. Minha mente ainda era uma confusão, mas eu jamais havia me sentido tão bem.
Eu já havia subido grande parte da rua moderadamente iluminada, rumo à esquina e pronta para ir o mais distante que pudesse, quando ouvi um barulho em alguma das casas. Olhando para trás, notei Eduardo parado em frente ao grande portão branco, observando a minha partida.
Respirei fundo e voltei ao meu caminho, seguindo em frente e virando a tal esquina, não demorando muito para encontrar um beco, onde me joguei sentada, sorrindo.
Gostaria de pensar que a razão do meu sorriso era a minha recente liberdade, o fato de não ter mais dono ou de finalmente voltar a viver pelas minhas próprias leis, como tinha de ser para todo felino.
Mas não era.
Meu sorriso vinha da lembrança do toque de Molina e isso era mais errado do que eu poderia mensurar. Não havia porque manter qualquer doçura naquelas lembranças se a realidade me fazia perder toda e qualquer esperança de um futuro bom.
E a maior prova disso era a dor que começava em meu baixo ventre, se retorcendo, como fisgadas, me deixando saber que a transformação estava perto. Puxei meus joelhos até o peito, apoiando a minha cabeça neles, enrolando-me como uma bola e procurando nos pensamentos bons toda a força que eu precisava para ignorar a dor que sempre acompanhava o processo de humana para felina.
O beco estava escuro o bastante para que ninguém testemunhasse o horror da minha transformação, então deixei a dor consumir meu corpo mais uma vez, sentindo minha própria carne se revirar, se dobrar, se encolher e doer.
Minhas unhas doíam, meu corpo inteiro se agitava em agonia e meus músculos e ossos pareciam ser achatados. Em questão de segundos, um novo arrepio percorreu meu corpo e, tão subitamente quanto começara, tudo terminara.
As roupas de Eduardo ficaram no chão e eu fiquei deitada por cima delas.
Novamente com pelos, um rabo e bigodes.
Novamente uma gata.
Meu lado racional me lembrava de que eu estava na rua mais uma vez. Instigando minhas patas a correrem velozes até achar um local distante o bastante de Arthur, Eduardo, Alice ou quem quer que fosse. Eu deveria correr do ruivo e das sensações maravilhosas que ele dava e tomava de mim em retorno.
Mas Eduardo precisava de mim.
Ainda que meu cérebro não pudesse ver sentido algum ou ainda uma prova do que meu coração insistia em gritar, meu instinto sabia que Duda precisava de mim. Da minha companhia e apoio, ainda que como uma gata. Coisas que Alice, a humana deslumbrante, nunca fora capaz de lhe dar.
Eduardo se tornara mais importante para mim do que eu jamais poderia prever. Suas linhas e cores haviam ganhado um grande espaço dentro do meu peito e isso não poderia estar acontecendo.
Enquanto isso, minhas patas caminhavam com calma, rua abaixo, para longe do beco, e eu tentava me convencer que a fome alguma hora ia passar. A verdade é que eu precisava imediatamente da ração suculenta de salmão, e o local mais próximo com tal iguaria era a casa
coberta de hera no fim da rua.
Era a pior decisão que eu tomava na minha vida, contudo eu não conseguia me arrepender dela.
Eu, Kitty, apenas podia esperar que Eduardo fizesse minha decisão valer a pena.

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