Prólogo

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Sarah

É engraçado lembrar aquele ano. Um ano tão conturbado, mas carregado de alegrias e surpresas. Foi um ano de reviravoltas e agora todo aquele drama parece tão distante, mas, ainda assim, é gostoso de lembrar. Lembrar como aquele ano começou, como tudo começou.

Parece que foi ontem que o Tom praticamente me implorou pra eu sair da Academia e ir estudar na escola dele. E quando eu aceitei, não fazia ideia do rumo que as nossas vidas tomariam.

Tom e eu fomos criados juntos. Nossos pais se conheceram na faculdade de Direito e nunca mais se desgrudaram, nem mesmo quando cada um tomou um rumo diferente na carreira.

Minha mãe virou advogada de uma grande empresa, com honorários milionários que bancavam nosso alto padrão de vida. Meu pai se apaixonou pelo Direito Penal e acabou se tornando promotor de justiça. O pai do Tom, tio Arthur, resolveu ingressar na magistratura e se tornou juiz do trabalho; já a tia Liz, mãe do Tom, desistiu do Direito no terceiro período da faculdade e se formou em arquitetura - ela é uma das maiores arquitetas do país, se quer saber.

Apesar de seguirem carreiras diferentes, os quatro continuaram muito amigos. E quando a tia Liz e a mamãe engravidaram quase ao mesmo tempo, elas ficaram em êxtase. Resolveram criar os filhos juntinhos e, por esses e outros motivos, Tom sempre foi o meu melhor amigo. Mas apesar da nossa amizade, nós sempre fomos muito diferentes.

Desde criança, Tom sempre foi muito atlético. Ele adorava jogar futebol, sempre foi sua paixão. Por isso não fiquei surpresa quando ele virou o capitão do time na sétima série, título que ostentou até o final do colégio, e ganhou vários campeonatos nos jogos escolares.

Já eu sempre fui a maior CDF. Estudei com o Tom até a quarta série, mas depois disso fui estudar na Academia Santa Rosa, o melhor colégio do país. Era um colégio interno, onde eu passava a semana e só voltava para casa aos sábados, domingos e feriados.

Tom tentou entrar lá, mas não conseguiu passar no exame. Lembro-me de como ele ficou frustrado com aquilo, mas não era culpa dele. A Academia era um colégio especial para crianças superdotadas e os dotes do Tom sempre foram esportivos e não acadêmicos, mas confesso que também fiquei um pouco triste, porque aquela foi a primeira vez que tivemos de nos separar.

Éramos diferentes, só isso. Tom gostava de jogar, eu gostava de ler, mas sempre nos demos muito bem. Ele era como um irmão pra mim e, sempre que eu podia, o ajudava a estudar. Perdi a conta de quantos finais de semana eu passei ao lado dele, tentando ensiná-lo o básico da matemática - que nunca foi o seu forte. Mas como aquele era o ano do vestibular, eu decidi que precisaria de mais tempo para ensiná-lo, por isso aceitei deixar a Academia Santa Rosa e me matriculei no Colégio João Baptista, onde ele estudava.

Além disso, era também uma excelente oportunidade de ficar com a minha família antes de partir para Harvard - onde eu sempre sonhei estudar Administração.

No último final de semana das férias, Tom me convidou para comer no Rock & Ribs. Segundo ele, era uma forma de agradecer meu sacrifício. Mas pra mim, nem era um sacrifício assim tão grande. Afinal de contas, eu tinha acabado de terminar meu namoro com o Felipe e ele também estudava na Academia, junto com o João Carlos, meu outro ex, então era bom me afastar deles. Meu único ex que não estudava mais lá era o Henrique, mas não vamos falar dele agora, tá bom?

- Até que enfim vamos estudar juntos novamente, Sarinha! - Disse Tom, superentusiasmado.

- Queria ter o seu entusiasmo. - Eu disse, desanimada. - A verdade é que estou desacostumada a frequentar uma escola comum, com alunos comuns.

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora