15. A Fazenda

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Sarah

Na primeira semana de julho meus pais resolveram comemorar atrasadamente o aniversário de Clarinha

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Na primeira semana de julho meus pais resolveram comemorar atrasadamente o aniversário de Clarinha. Ela fazia aniversário no dia 20 de junho, mas como estávamos as duas em semana de provas, essa data não teve a atenção que merecia. Quer dizer, ela ganhou um bolo em forma de sapatilha de balé, mas não pudemos jantar fora, então só pedimos pizza em casa mesmo. Mamãe se sentiu mal por isso e decidiu dar uma festa com duas semanas de atraso lá na fazenda dos meus avós, pais dela.

E era por isso que lá estava eu, morta de sono, tentando encontrar uma posição confortável para dormir no banco de trás do carro, enquanto papai dirigia ao som de "Sweet Dreams", do Eurythmics.

Sweet dreams are made of this, who am I to disagree? ("Doces sonhos são feitos disso, quem sou eu para discordar?") – Ele cantarolava animadamente.

Eram 4:30 da manhã, o sol ainda estava nascendo e nós já estávamos na BR-232, a caminho de Bonito, onde meus avós moravam. Por isso que ninguém reclamou por papai estar ouvindo música, era uma estratégia pra ele se manter acordado já que provavelmente estava com tanto sono quanto todas nós.

Ao meu lado Clarinha estava no 13º andar do mundo dos sonhos, ela tinha um sono pesado e dormia em qualquer lugar, tanto que já estava adormecida, abraçada a um travesseiro e com vendas nos olhos. Nunca a invejei tanto quanto naquele momento, nem mesmo quando ela aprendeu a ficar na ponta do pé antes de mim – já mencionei que ela tem muito mais talento para o balé do que eu? Acho que sim.

Mamãe estava empolgadíssima jogando Candy Crush no celular, acredito que também era para se manter acordada e fazer companhia a papai.

O tempo estimado de viagem era de uma hora e meia a duas horas, dependia do quanto papai corresse na BR. Ele tinha mania de apostar corrida com os outros carros, apesar de nunca ter levado uma multa por excesso de velocidade. Às vezes eu me perguntava como ele conseguia tal feito e só havia duas respostas: "carteirada" de promotor de justiça ou fiscalização precária. Eu gostava de apostar nessa última opção.

Encostei a cabeça no vidro da janela e observei a paisagem ao redor. Tudo o que eu conseguia enxergar eram árvores e mais árvores, angiospermas e pteridófitas* se erguiam no horizonte, e alguns carros passavam a toda velocidade, guiados por pessoas tão loucas quanto nós – porque somente pessoas loucas sairiam àquela hora da manhã.

Porém havia dois motivos para nós pegarmos a estrada tão cedo. Primeiro, era uma segunda-feira, então em breve haveria um trânsito miserável por aqui. Até mesmo porque estávamos em julho, era mês de férias e ainda por cima era inverno, então todo mundo queria subir a serra para aproveitar o frio – mesmo que raramente a temperatura ficasse abaixo dos 15°C (lembra que eu disse que o povo da minha cidade veste casaco com 23°C? Pois é, 15°C é o máximo que a gente consegue aguentar por aqui).

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora