Sarah
A água quentinha lavava meu corpo e parte da minha alma, enquanto eu continuava agachada embaixo do chuveiro. No banheiro soavam os acordes de uma guitarra, enquanto Pitty transformava em canção tudo o que eu estava sentindo naquele momento.Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivoParafuso e fluido em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertadoMas lá vêm eles novamente, eu sei o que vão fazer
Reinstalar o sistemaUltimamente eu estava me sentindo mais como um robô do que como uma pessoa. Era como se tivessem arrancado o coração do meu peito e me transformado num Homem de Lata*, desesperado por sentir algo verdadeiro. Eu estava assim desde o dia em que meu ex melhor amigo me deu as costas, desde que ele preferiu aquela sonsa do que a mim.
Estávamos na metade de outubro, já fazia algumas semanas que Tom e eu tínhamos brigado. Ele estava sendo fiel à sua palavra de ignorar minha existência, enquanto eu tentava desesperadamente ignorar a sua. Mas era tão difícil, principalmente porque toda noite quando eu dormia ele aparecia em meus sonhos. Na maioria das vezes, os sonhos eram lembranças de momentos felizes que nós passamos juntos, noutras eram um vislumbre de um futuro que nós nunca teríamos. E eu sempre acordava do mesmo jeito, com lágrimas nos olhos e um aperto no peito.
Na escola eu era perseguida por formandos desesperados pela minha ajuda para estudar para o ENEM, mas eu estava tão cansada de ser usada por aquele bando de estranhos que simplesmente passei a ignorá-los. Eu não devia nada a eles, não eram meus amigos e com certeza não fariam o mesmo por mim, então parei de perder meu tempo tentando ajudá-los.
Na verdade, eu estava de saco cheio da escola inteira. Parei de prestar atenção às aulas, já que não me ensinavam nada de novo. Dediquei o meu tempo escolar a traduzir poemas, brincando com os sete idiomas que eu falava. Quando não estava traduzindo poemas, estava ouvindo música, de cabeça baixa e murmurando as letras baixinho, ou então lendo.
Claro que os professores notaram a minha mudança, mas meu desempenho escolar continuava impecável e eu não atrapalhava as aulas, então eles não tinham do que reclamar.
Ainda assim, resolveram chamar meus pais para conversar sobre a minha nova atitude. Meus pais também haviam percebido a mudança e já tinham conversado comigo a respeito, acabaram chegando à conclusão de que era apenas uma fase, por isso resolveram me deixar em paz. Eles confiavam que eu era madura o bastante pra não fazer nenhuma besteira, então geralmente me deixavam resolver meus problemas sozinha, pois sabiam que se eu realmente precisasse de ajuda, iria pedir. Eles eram bem compreensivos.
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Tom & Sarah
Teen FictionSarah é uma gênia superdotada que sonha em estudar na HBS (Harvard Business School) e um dia dirigir uma multinacional. São grandes aspirações e ela tem plena consciência disso, por essa razão se preparou a vida inteira estudando na Academia Santa R...