2. Casa da Sarah

737 63 34
                                    

Tom

Depois da aula, aceitei a carona que a tia Sam me ofereceu e resolvi almoçar na casa dela. Eu pretendia mesmo ter uma conversinha a sós com Sarah, já que o comportamento dela mais cedo foi inaceitável! Porque ainda que tivesse eu feito algo, o que não fiz, ela não tinha o direito de me tratar como uma criança. Quer dizer, eu já tinha a dona Elizabeth Avelar pegando no meu pé, não precisava de mais ninguém cumprindo esse papel.

Durante o curto trajeto no carro, com um pequeno desvio para ir buscar a Clarinha, Sarah estava muito distraída trocando mensagens com a Jéssica para me dar atenção. Então meu plano de dar um gelo nela falhou miseravelmente e eu engatei uma conversa animadíssima com Clarinha.

– Então agora você tá meio ferrado. Se os professores já caíram nas graças da Sarinha e estão te amaldiçoando por estragar o futuro dela, você tem que provar que eles estão errados. E, desculpe, Tom, mas isso vai ser meio difícil. – Ela concluiu, depois de ouvir meu breve relato sobre aquela primeira manhã na escola.

Lancei-lhe um olhar indignado. De todas as pessoas do mundo, achei que Clarinha fosse quem mais me entendesse. Quer dizer, ela também se sentia sozinha quando a Sarah estava na Academia, sentia uma saudade danada da irmã. Então devia estar mega feliz porque naquele ano a Sarah ficaria em casa. Como ela, minha maior cúmplice, fazia um negócio daqueles comigo?

– Puxa, Clarinha! Eu não imaginava que você fosse passar para o lado negro da força! – Dramatizei, colocando a mão no peito como se tivesse levado uma facada.

Clarinha deu uma risadinha e deu uma tapinha no meu ombro.

– Não seja dramático! Eu só falei o óbvio. Você é meio desligado na escola, só estuda de véspera. Vai ter que se esforçar muito para estar entre os melhores da turma, que é o que todos esperam de você já que agora a Sarah estuda na mesma escola e na mesma turma. – Ela disse, dando de ombros.

Sarah, que estava mais atenta à conversa do que eu esperava, deu uma risadinha e apertou minha mão gentilmente. Engraçado como eu não percebi em que momento ela havia segurado minha mão, mas aquele aperto foi reconfortante.

– Relaxa, Tom! – Ela disse, sorrindo. – Eu te ajudo a estudar. Você vai ser o segundo melhor da turma.

– O segundo é? – Eu disse, também sorrindo e me esquecendo, momentaneamente, de ficar com raiva dela.

– Sim, porque eu sou a primeira. Você sabe, né? – Ela disse, dando de ombros.

Sacudi a cabeça e puxei a trança dela, de brincadeira.

– Convencida! – Murmurei.

– Convencida não, querido. Apenas sou sincera. – Ela disse.

Abri a boca para responder, mas logo o carro parou. Havíamos chegado ao luxuoso prédio à beira mar em que a Sarah morava. Era um lugar lindo, top de linha. Cada apartamento custava uma fortuna e o da Sarah custava ainda mais, já que ela morava na cobertura, cuja maior vantagem era a piscina privativa, devo dizer.

Tia Sam me disse para deixar minha bicicleta no porta-malas, pois quando ela voltasse para o trabalho, deixaria na minha casa, assim eu poderia passar a tarde toda assistindo Netflix com Sarah e Clarinha. Não fiz nenhuma objeção, afinal eu tinha algumas mudas de roupa por lá, pois de vez em quando dormia no quarto de hóspedes – desde que eu entrei na puberdade tio Heitor não me deixou mais dormir no mesmo quarto que Sarah, o que era um desperdício, pois o quarto dela era uma graça.

Segui silenciosamente para o elevador, lembrando o motivo de estar ali. Observei Sarah de canto do olho por todos os dez andares. Você pode estar se perguntar por que o prédio era tão baixo, mas é que a nossa cidade tinha uma restrição do tamanho dos prédios da orla, bem como da distância entre eles, por causa da sombra no mar e pra também permitir a passagem da brisa marítima e evitar ilhas de calor* – tudo isso de acordo com Sarah, porque eu não fazia ideia do que diabos eram ilhas de calor.

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora