17. Olhos de Vidro

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Sarah


Meus amigos acabaram ficando a semana toda. Disseram para a diretora que se tratava de uma excursão do Clube de Teatro e ela deu permissão pra eles faltarem aula – desconfio que ela não tenha caído nessa estória de excursão, mas sabia que a eles sentiam minha falta e não fez objeção à viagem. Dona Paulina, a diretora da Academia, era muito compreensiva, por isso todo mundo a adorava.

Apresentamos a peça mais três vezes naquele final de semana e foi um sucesso total. Pamela disse que nem mesmo ela teria feito uma Aurélia melhor do que eu e esse foi o maior elogio que eu recebi, pois ela era uma atriz fantástica.

Convidei o pessoal pra ficar na minha casa, mas eles preferiram o hotel. Ficava na esquina lá de casa, então eles me visitaram todos os dias e passamos o máximo de tempo juntos. Não pude reclamar, eles sempre foram muito independentes. Estávamos acostumados a viajar sozinhos, tanto que no ano anterior passamos um final de semana numa praia no sul da Bahia. Pamela e Eduardo foram os que mais aprontaram, sumiram por um dia inteiro e quando voltaram ninguém perguntou o que tinham feito aquele tempo todo no meio do mato, mas pudemos imaginar.

Na tarde da segunda-feira, convidei-os pra assistir a um filme lá em casa. Clarinha estava no instituto, ensaiando pro recital de balé que apresentaria no mês seguinte, ela estava nervosa porque era uma tremenda responsabilidade ser a protagonista, mas eu sabia que ela seria incrível. Meus pais estavam no trabalhando, então tínhamos a casa só para nós por aquela tarde.

Fizemos uma votação para escolher o filme, pois os meninos queriam assistir a Oldboy* e Nina insistia em ver Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças*. Nina acabou vencendo, ganhando o apoio de Pam, a qual fez cara feia pra Lex, Manu e eu, que acabamos concordando. Por isso, lá estávamos nós, discutindo a estória depois de assistir ao filme.

– Só estou dizendo que eu consigo entender, gente. Eu adoraria esquecer algumas pessoas. – Falei, me referindo ao fato de que no filme os protagonistas tinham contratado uma empresa pra apagar as lembranças do seu relacionamento já desgastado. O mais interessante da estória era que seria o caminho inverso aos filmes românticos normais, mostrava o fim do relacionamento pra depois voltar ao começo. Era uma perspectiva peculiar para encarar uma história de amor.

– A começar pelo Felipe, não é? Aquele grande pedaço de bosta! – Disse Pam, rindo.

Concordei com a cabeça.

– Sarah, você está perdendo a questão central do filme! Se você apagasse o Felipe da sua memória, perderia tudo de bom que aconteceu entre vocês. Houve bons momentos, não foi? Você abriria mão deles pra esquecer as coisas ruins? – Disse Lex.

Refleti um pouco nas palavras dela e fiquei rememorando os quatro meses em que namorei Felipe. Foi o meu relacionamento mais curto, passei 10 meses com João Carlos e quase dois anos com Henrique, se contar o início da paquera, mesmo assim Felipe deixou a sua marca.

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora