19. A Briga

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Sarah

Clarinha foi genial! Quando estava dançando, ela era a Aurora

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Clarinha foi genial! Quando estava dançando, ela era a Aurora. Parecia uma profissional, com certeza seria a próxima Ana Botafogo*. Ela tinha uma inocência dançando, uma pureza em seus movimentos. Mas executava os passos com precisão, com perfeição. E se ela já era tão boa assim aos 13 anos, imagina só quando fosse mais velha? Eu não tinha dúvidas de que um dia ela estaria dançando no Bolshoi!

A apresentação dela foi linda. Eu me emocionei demais, não só por causa da estória contada, mas porque era a minha irmã ali. A baixinha crescia quando dançava, virava um gigante. E não era só eu que estava explodindo de orgulho, era a família inteira. Meus avós, meus tios, meus pais e até os meus primos tinham comparecido ao espetáculo. Papai filmou tudo e esse vídeo foi repetido dezenas de vezes nos dias que se seguiram. Mamãe até resolveu fazer uma festinha pra comemorar.

E é por isso que lá estava eu, sentada no sofá branquinho da minha mãe, equilibrando um pedaço de bolo enquanto assistia ao vídeo da apresentação. Ao meu redor os parentes conversavam animados, meus pais se exibiam orgulhosos e levemente embriagados, mas não havia sinal da nossa bailarina.

Clarinha tinha desaparecido cerca de meia hora atrás, desde que Fernando havia chegado com um buquê de rosas champanhe, as preferidas dela. Os dois saíram de fininho pela porta dos fundos, provavelmente à procura de um lugar pra conversar à sós. Desconfio que foi naquele dia que Fernando criou coragem pra se declarar, porque pouco tempo depois eles assumiram o relacionamento.

Na tela da TV, Aurora e Désiré executavam o “Grand Pas de Deux”*, era o dueto final do casal, dividido em cinco partes. Era uma coreografia linda e Clarinha estava incrível, seu parceiro era uns cinco anos mais velho, mas ela não ficava atrás. Eles estavam perfeitamente sincronizados e as variações de ambos os personagens foram perfeitas.

– Ela é mesmo muito talentosa, não é? – Disse dona Eunice, avó de Tom. A família dele também tinha vindo prestigiar minha irmã.

Dona Eunice era uma senhorinha muito simpática, que sempre me tratou como se eu também fosse sua neta. Ela dizia que como eu era afilhada do filho dela, era praticamente da família. Ela costumava usar os cabelos presos em coques baixos, como agora, e usava preto a maior parte do tempo, para acentuar a viuvez. O marido dela era juiz, foi uma grande inspiração para o tio Arthur, mas faleceu anos antes de eu nascer, então não tive o prazer de conhecê-lo. Tio Arthur dizia que ele era muito bem humorado.

– Sim, ela é. – Falei, com um sorriso bobo. Clarinha agora estava executando uma sequência de piruetas.

– E você, minha querida? Como está? – Perguntou dona Eunice, docemente.

– Eu estou bem, dona Eunice. Obrigada por perguntar. – Respondi.

– Ainda pretende nos abandonar e se mudar pra Boston?

Tom & SarahOnde histórias criam vida. Descubra agora