16. Senhora

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AVISO: Este capítulo contém spoilers do livro "Senhora" de José de Alencar.


Sarah

A semana passou depressa e a sexta-feira trouxe mais convidados para a festa de Clarinha

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A semana passou depressa e a sexta-feira trouxe mais convidados para a festa de Clarinha. A família inteira se reuniu, todos os meus tios e primos compareceram para felicitar a minha irmã, mas quem mais causou com sua chegada com toda certeza foi vovó Dália.

Vovó Dália era uma figura, era sempre a alma das festas da família, principalmente quando bebia. Segundo me contaram, ela sempre foi muito espirituosa. Quando era jovem, participava de protestos em prol dos direitos das mulheres. Era uma feminista radical, do tipo que queimava sutiãs e tudo. Aliás, foi num protesto que ela conheceu vovô George. Os dois estavam na faculdade, que fervia às vésperas do golpe militar.

Meu avô foi atingido por um sutiã flamejante, que tinha sido lançado por vovó. Ela ficou se sentindo tão mal por machucá-lo que o levou ao pronto socorro, os dois começaram a conversar e iniciaram o romance. Menos de um ano depois, já estavam casados e com vovó Dália grávida do meu tio Emílio.

Como era psicóloga, ela tinha uma mania de diagnosticar os distúrbios psicológicos de todo mundo com quem cruzava e o alvo da vez era Matheus.

– Então, querido, fale mais sobre a solidão de ser filho único. – Ela disse, depois do jantar.

A festa de Clarinha seria na tarde seguinte, por isso todos tinham chegado na sexta de noite. A família era não era assim tão grande e a casa da fazenda era enorme, então conseguia acomodar todo mundo. Só que como alguns amigos de Clarinha também vieram, trazendo os pais junto. Isso acabou me causando o incômodo de ter que dividir meu quarto com minhas primas mais velhas, as gêmeas Beatriz e Bianca. Elas eram sobrinhas do meu pai e nunca gostaram muito de mim por eu ser "inteligente demais para o gosto delas".

Sinceramente, eu também não gostava muito delas, já estavam na faculdade e ao invés de focar nos estudos só faziam farrar em festas. Quando eu era mais nova me esforçava bastante para fazer amizade com elas, afinal eram cinco anos mais velhas e eu queria impressioná-las, mas aparentemente nada do que fazia adiantava. Elas simplesmente me ignoravam ou riam de mim. Com o tempo, passei a ignorá-las também.

Das minhas primas mais velhas, a única que eu gostava era a Rita. Pena que ela tinha se mudado para a Alemanha no ano passado e não poderia vir à nossa reunião familiar. Assim como meus pais, Rita era formada em direito, estava fazendo doutorado em filosofia do direito, a partir das ideias de Habermas e as críticas feitas por Honneth. Rita era uma sabichona, apesar de não ser superdotada, e sempre gostou de me ensinar coisas. Ela dizia que o conhecimento era para ser compartilhado.

Rita era a única filha de tia Isabel e o maior orgulho dela. No jantar titia passou horas exaltando a importância da pesquisa de Rita em Frankfurt e como ela estava se dando bem na Alemanha. Admito que eu sentia muita falta dela. Rita era praticamente minha irmã mais velha, ela até cuidava de mim quando eu era criança e os meus pais queriam sair no final de semana. Em troca eu não dedurava seus encontros com seus trocentos namorados.

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